- Depois dessa, acho melhor pararmos. - eu disse.
- Verdade. - ela concordou.
Ficamos andando de um lado para o outro.
- O que quer fazer? - ela perguntou.
- To afim de ir naquele parque, sabe?
- Ah, sei sim.
- Vamos?
- Pode ser.
Após decermos a escada, ela ficou empurrando minha cadeira de rodas até um banco bem de baixo de uma árvore.
Sentamos.
- Lindo, não é? - perguntei olhando para as árvores e para as crianças que brincavam a nossa volta.
- Muito.
- Eu sempre quis aprender a tocar guitarra ou violão. - ela disse olhando para o chão.
- Eu posso te ensinar se quiser.
- Pode?
- Sim, se quiser, podemos buscar a minha guitarra e eu te ensino.
- Obrigada, Tomas. Fique aí que eu já volto com a guitarra.
- Ok.
Enquanto a esperava, notei as crianças vindo cochichando em minha direção.
- Ah, ola? - falei.
Elas me olharam com cara de susto.
- Moço, o que é isso nas suas orelhas? - uma delas perguntou.
- Ah, isso? São alargadores.
- Alargadores? Fazem o que?
- Eles só servem para te deixar mais bonito, ou feio, dependendo do que as pessoas pensam a respeito.
- E essas bolas de metal na sua boca?
Eu ri.
- São piercings, tem a mesma função dos alargadores por assim dizer.
- Doeu para colocar?
- Não vou mentir para vocês, garotos. Doeu muito.
- Ah.
- Mas, por quê tanta curiosidade?
- Nada não, moço. Só nunca tinha visto antes.
- Hm, tudo bem então.
Ouvi a mãe deles chamando-os.
- Temos que ir. Tchau, moço.
- Tchau.
Quando olhei para o lado, vi Laura voltando com minha guitarra.
- O que aquelas crianças queriam? - ela perguntou.
- Nada de mais, elas só estavam curiosas a respeito dessas bolas de metais na minha boca.
Rimos.
Ela pôs a guitarra em seu colo e perguntou:
- Como começo?
- Olha, no início é difícil. Seus dedos vão começar a doer e é nessa hora que a maioria das pessoas desistem.
- Mas eu não vou desistir.
Sorri.
Pus meus braços em volta dela para poder indicar os movimentos a ser feitos.
Quando aproximei meu rosto ao seu, pude sentir o cheiro delicado de rosas que vinha de seu cabelo.
- É mais ou menos assim. - falei posicionando seus braços na posição certa.
- Assim? - ela perguntou.
- Isso mesmo.
Fomos com calma, mas ela já parecia ter uma certa facilidade em manusear o instrumento.
- Tem certeza de que nunca tocou antes? - perguntei-a.
- Meu irmão as vezes me ensinava algumas coisas. Mas agora ele anda muito ocupado.
- Hm, entendo.
- Sua irmã também era?
- Sim, ela era. Antes de morrer, ela estava estudando medicina, queria ajudar os outros.
- Tenho certeza de que ela seria uma ótima médica.
Respirei fundo.
- É, eu também. - afirmei.
Ao longo do dia, tocamos umas 3 músicas.
- Já está escurecendo, quer jantar lá em casa, Tomas? - ela perguntou.
- Pode ser, acho que não tem problema.
Ela sorriu.
- Só antes, vou ligar para minha mãe.
- Ah, claro.
Peguei meu telefone.
Discando...
"Oi, Tomas. Por quê ligou? Está tudo bem?"
- Ah, sim mãe. Está tudo bem.
"Então o que foi?"
- A Laura me convidou para jantar na casa dela, queria saber se está tudo bem para você.
"Sim, querido. Qualquer coisa só me ligar."
- Ok, mãe. Tchau.
"Tchau, Tomas."
Desliguei.
Guardei o celular no bolso.
- Ela deixou. - falei.
- Que bom.
Peguei a guitarra e fomos até a casa dela.
- Está com fome? - ela perguntou-me.
- Poderia até comer um elefante. - respondi.
- Somos dois.
Rimos.
- Por falar nisso, o quê vamos comer? - perguntei.
- Não sei, você tem alguma ideia?