- Ei, o que acha de jogarmos um jogo? - ela disse.
- É? Que jogo? - perguntei.
Ela me encarou com um olhar malicioso e disse:
- Já ouviu falar de verdade ou consequência?
Devolvi o olhar malicioso.
- Sim. - afirmei.
- Então... quer jogar?
- Bora.
Rimos.
- Verdade ou consequência? - ela perguntou.
- Hm... consequência.
- Tá vendo aquele poste ali? Do outro lado da rua? - ela disse, apontando para a janela.
- Uhum.
- Você tem que correr até lá.
- Fácil.
- Mas...
- Merda.
- Só de cueca.
- Ah, você tá de brincadeira né?
- Não é esse o objetivo do jogo? Brincar?
Nem falei nada, só fiquei encarando o chão.
- E aí, bonitão. Não vai tirar a roupa?
- Tenho escolha?
- Não.
Rimos novamente.
Por mais que fosse constrangedora a situação, estava gostando.
- Só tem um problema. - afirmei.
- Qual?
Apontei para as minhas pernas.
- Ah é. - ela disse.
Silêncio.
- Então ao invés de correr até o poste, você pode começar a tirar suas roupinhas e tocar uma música para mim. - ela disse.
- Por que tenho que tirar a roupa? Não posso só tocar para você?
- Hm, deixe-me ver... Não.
Rimos.
- Mas você tem uma guitarra ou algum outro instrumento?
- Tem uma guitarra no quarto do meu irmão.
- Onde é?
- Assim que você sair do meu quarto, tem uma porta com um "não entre" nela, é só entrar.
- Ah muito convidativo.
- Fazer o quê.
Rimos de novo.
Quase que a cadeira de rodas não passou pela porta.
- É uma vermelha, apoiada no armário. - ela disse.
Dei uma olhada.
- Achei! - afirmei.
Peguei a guitarra e voltei ao quarto de Laura.
- Seu irmão não vai se importar se uma pessoa que ele nem conheçe pegar a guitarra dele? - perguntei.
- Não, acho que não.
Ela me encarou, me olhou de cima para baixo e ergueu as sobrancelhas como um "tira a roupa logo".
Dei um suspiro e cumpri com o desafio.
Fiquei meio sem jeito, vai ver era porquê estava só de cueca em frente a uma garota que eu mal conhecia.
- Nada mal. - ela disse.
- Você acha? - perguntei envergonhado.
- Sim. - ela riu.
Segurei a guitarra.
- Que música a senhorita deseja? - perguntei.
- Hm, não sei. Me surpreenda.
Dito e feito, toquei e cantei I wouldn't mind - he is we.
Enquanto tocava, seu olhar brilhava, sentia que ela queria me falar alguma coisa, mas não conseguia, ficara encantada com a música. É, disso eu entendo.
A música nos faz viajar, sentimos que estamos em outro mundo, experimentando novas sensações ou simplesmente, ficamos olhando para o nada imaginando sei lá o que.
Tenho que admitir, tenho uma linda voz.
- Wow. - ela disse boquiaberta.
- Como fui?
- Incrível! Sua voz é simplesmente perfeita e você toca guitarra com tanta perfeição.
- Obrigado. - falei com um grande sorriso estampado na minha cara.
Comecei a encará-la e a sorrir do nada, feito um psicopata.
Ela percebeu e perguntou:
- Tomas, tudo bem?
- Tudo ótimo. Aliás, é sua vez.
- Ah, entendi. Tá certo. O que quer?
Fiquei pensando no que poderia ser mais constrangedor do que tocar e cantar uma música inteira só de cueca.
- E então? O que vai ser? - ela perguntou.
- Calma, tô pensando. - falei.
Olhei para os lados procurando inspiração.
Avistei seu telefone.
- Você vai ter que ligar para a sua mãe e dizer que está grávida.
- Você está louco? - ela disse me encarando.
- Talvez. - afirmei.
Rimos.
- Ok, fazer o que.
Ela pegou o celular, ligou para sua mãe e colocou no viva voz.
Discando...
"Alô?"
- Oi, mãe.
"O que foi, filha?"
- Ah, preciso te falar uma coisa.
"Pode falar."
- Então... eu to grávida.
"O quee? Minha filha, grávida? Você só pode estar brincando."
Estava quase impossível de segurar a risada, mas, aguentei.
- Bem que eu queria. - ela continuou.
"Mas filha, você só tem 15 anos, aposto que foi aquele Tomas que você tinha me falado."
- Não, não, não. Mãe, é brincadeira. Calma.
"Você ta louca menina? Quer me matar do coração?"
- Desculpa mãe, só queria ver como você reagiria.
"Eu tive que sair de uma reunião para te atender sabia?"
- Não sabia mãe, desculpe. Acho melhor você voltar para a reunião.
"Ok, mas em casa a gente conversa."
Pude sentir a pressão que Laura estava sentindo.
- Ok, Tchau.
"Tchau."
Ela desligou.
- Obrigada, Tomas. - ela disse colocando as mãos sobre os olhos.
- Calma, vai ficar tudo bem. - disse tentando amenizar a situação.
- Desde que eu não esteja realmente grávida, é, acho que vai ficar tudo bem.
Sorrimos.
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A vida e morte de Tomas
Ficção AdolescenteAnjos não morrem, apenas voltam para casa.