Capítulo 19

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Acordei.
~ Será que tudo não passou de um sonho? - pensei.
Ouvi alguém batendo na porta.
- Tomas, querido. Posso entrar? - disse minha mãe.
- Pode, mãe.
Ao entrar, disse-me que iria ir hoje ao médico para retirarem-me os gessos.
- Que horas? - perguntei.
- Agora mesmo. Vá trocar de roupa que estou te esperando lá em baixo.
- Ok.
Peguei um blusão preto, uma calça de moletom e fui de pantufa mesmo.
Minha mãe estava tão apressada que nem notou.
Entramos no carro.
- Já estamos atrasados. - ela disse.
- Calma, mãe.
Chegando lá, o médico me recebeu e me fez algumas perguntas:
- Como está se sentindo?
- Bem melhor, doutor.
Com a ajuda de uma enfermeira, retiraram os gessos e pude dar adeus a cadeira de rodas.
- Finalmente! - afirmei.
Eles riram.
Voltamos ao carro.
- Sabe que hoje vai ter quê voltar as aulas, não sabe? Perguntou-me.
- Sei sim, mãe.
- E me explica uma coisa, filho.
- Pode falar.
- Por que está usando pantufas?
Pensei em alguma resposta criativa.
- Ah, porquê coiseia o meu pé.
Ela me encarou como se tivesse ficado louco.
- Sério, Tomas? Coiseia?
- Não,  mentira. Tava com preguiça.
- Que novidade. - falou ironizando.
- Qual o problema das pantufas? - perguntei-a.
- Simplesmente não quero que o meu filho pareça um mendigo.
Eu ri.
- Qual a graça?
- É que nenhum mendigo é mais estiloso que eu. - falei mostrando-a as meias furadas que estava usando.
Até ela não aguentou.
- Assim você me mata. - disse-me rindo.
- Mas roupas rasgadas estão na moda.
- Até pode ser, mas não meias né, Tomas?
Estava segurando a risada.
- Que preconceito é esse com as meias? Me explica.
Ficou quieta.
- Sabia. - disse-a sorrindo.
- Ok, filho. Você venceu.
- Qual o prêmio por ter vencido de você em uma discussão?
- Quer saber mesmo?
- Uhum.
- Uma chinelada bem grande nessa tua bunda por estar discutindo comigo.
Silêncio.
Chegando em casa fui direto ao meu quarto e liguei para Laura.
"Alo?"
- Oi, Laura.
"Hey, Tomas."
- O que vai fazer hoje?
"Tenho aula, e você?"
- Ah, eu também.
"Uma droga né?"
- Verdade. Mas e depois da aula?
"Depois da aula? Deixe-me ver... acho que nada."
- Nem eu.
"Por que?"
- Se você permitir, queria passar aí para te ver.
"Eu permito sim."
- Ok.
"Já está quase na hora da aula. Tenho que ir, Tomas."
- Te vejo depois?
"Claro."
- Beleza então. Até.
"Até."
Desliguei.
Troquei as pantufas por um tênis e fui a pé para a escola.
Quando saí, vi Laura indo pelo mesmo caminho que eu geralmente vou.
- Laura?
Ela se virou.
- Oi, Tomas.
- Ta indo a onde?
- Para a aula.
- E em qual escola você estuda?
- Pio XII.
- Não brinca, eu também!
- Jura?
- Juro.
Rimos.
Fomos juntos até o Pio.
Chegamos. Não havia nada de especial.
- É seu primeiro dia aqui, certo? - perguntei-a.
- Uhum.
Entramos na sala e me dirigi a professora.
- Sr. Annabel, essa é Laura, aluna nova. Ela pode sentar-se do meu lado?
- Claro, Tomas.
Peguei no braço de Laura e disse:
- Vem.
Fomos até minha classe, que, por sinal, continuava com os mesmos desenhos de pessoas palito fazendo coisas de pessoas palito.
- Lindos desenhos. - ela disse sorridente.
- Seu sorriso é lindo, sabia? - falei.
- É mesmo?
- Com toda a certeza.
Ela aproximou-se de mim e beijou-me.
- Wow! E ainda com sabor de menta! - afirmei.
Rimos.
Bateu o sinal e o resto dos alunos começaram a entrar.
- Olhem meninas! O Tomas voltou! - disse uma garota assim que pôs os olhos em mim.
~ De novo não. - pensei.
Garota 1: Andou fazendo muitos shows Tomazinho?
Laura: Tomazinho? Com licença moça, mas, você sabe de quem você está falando? - perguntou ao se levantar.
Garota 1: Ah, sei sim. E quem você pensa que é para falar assim comigo?
Laura: Sou a namorada do Tomas. E acho bom que fique longe dele.
~ Namorada? Ela disse isso mesmo? - pensei.
Garota 2: Espere, ele tem namorada?
Garota 3: O que?
Garota 4: Namorada? Como assim?
Achei melhor interferir mas tudo estava ficando tão interessante...

A vida e morte de TomasOnde histórias criam vida. Descubra agora