Envolvidos - Terceiro livro da série Envolvidos no amor. #Bessa3 [Completo] BR

Por Joaquim Bessa

Por Joaquim Bessa.

- Como estão as coisas? - Meu pai perguntou sentando em uma poltrona a minha frente, seu olhar demorou um pouco sobre a foto da nossa família sobre a mesa de pinho.

- Comparada as outras empresas, estamos conseguindo passar por essa crise, a muito custo, mas estamos conseguindo superar a maré de azar no mercado automobilístico.

- Não me refiro a empresa mas sim a você, meu filho. - Sem pestanejar Edgar perguntou.

- Estou bem. - Disse sem muito rodeios.

- Estava pensando esta semana em você e nos seus irmãos. Joaquim, você lembra daquela vez quando vocês tinham nove anos que aprontaram todas com a pobre da Erica, só por que não queriam ficar com ela enquanto eu e sua mãe comemorávamos anos de casados?

O sorriso nos lábios dele me levou de volta a minha infância. Erica foi nossa cuidadora por anos, era autoritária, com ela não havia risadas, Max a odiava com todas as forças. Durante uma noite, nossos pais comunicaram que ficaríamos com ela até tarde, que às nove deveríamos estar na cama e que deveríamos obedecê-la. Max não queria de forma nenhuma ir para cama cedo, deu tanto trabalho que quem acabou adormecendo foi a Erica. Na hora que meus pais chegaram, Erica pediu demissão e disse que nunca mais queria ver as nossas caras.

- Lembra do acidente de moto que quase tirou a vida do Max?

Fitei meu pai tentando saber que rumo aquela conversa seguiria.

- Você consegue lembrar da noite que o Saul comunicou que estaria indo para Somália?

Balancei mais uma vez minha cabeça em sinal de confirmação.

- Lembra do dia que da sua aprovação no vestibular?
Do sorriso que carregava no rosto quando se formou? Você consegue lembrar do dia que achou um passarinho machucado no quintal, que você ficou doente pelo fato de não poder ajudá-lo, mesmo depois de ter feito o impossível? Que só conseguiu dormir às três da madrugada depois da sua mãe prometer que ele estaria bem pela manhã?

- Aonde você quer chegar, pai?

Edgar sorriu.

- Eu não fui um dos melhores pais do mundo. Mas tentei estar presente o máximo que podia. Por que a minha família, minha esposa e meus filhos estavam acima de qualquer coisa, independentemente do que acontecesse, vocês eram as minhas prioridades. - Ele ficou em pé, olhando através do vidro para a cidade. - A Gabriela precisa ser uma prioridade na sua vida. Ela é sua filha, precisa da sua atenção, do seu amor. - Seu olhar correu por toda a sala, parando em mim. Não tínhamos conversado sobre a Gabriela. - Você não precisa dar a vida por esta empresa. Isso tudo é passageiro. - Em poucos passos ele ficou a minha frente, seu polegar pressionou a região do meu coração. - Boas memórias ficam guardadas no coração, porém as más também. Por isso cultive o amor da sua filha, para que no futuro ambos possam compartilhar momentos como este, de cumplicidade.

Antes ir embora, ele abraçou-me com mais força que o habitual.

- Eu te amo, Joaquim.

- Obrigado, pai.

**

Conduzi até o apartamento relembrando a conversar com o pai. Ele tinha toda razão. Não poderia deixar o laço entre eu e Gabriela virar um nó.

Eram oito da noite, e não havia sinal de alguém acordado no apartamento. Caminhei até o quarto dela. A única luz vinha do relógio digital. Gabriela estava deitada com uma mão sobre o rosto, seu cabelo rosa estava solto sobre o edredão preto. O quarto cheirava a perfume adocicado e chiclete de menta. Tomando o cuidado de não acordá-la, passei cuidadosamente o dedo por seu rosto, cabelo.

Ela era linda, de uma maneira única.

Queria criar memórias eternas para Gabriela, mas não de um pai distante. Memórias que despertassem um sorriso em seus lábios todas às vezes que fossem relembradas.

Um pai presente como Edgar foi para mim.

Peguei um bloco de notas sobre o criado mudo, sua caneta rosa-pink era chamativa.

"Podemos tomar café da manhã juntos?

Você pode escolher o lugar.

Ps; Gostei do seu novo corte de cabelo, mas por favor não raspe o outro lado. Você é linda."