Momentos da vida

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Após um longo turno de ensaios fotográficos recebi uma notícia que me deixou apreensiva. Uma mulher informou calmamente através do telefone que precisava ir ao encontro do Seu Nelson, o lugar de encontro era em um hospital particular. Mal desliguei o telefone e já corri para saber a localização, uma vez já no táxi minha agitação estava pior que segundo atrás.

Assim que cheguei no prédio vidrado fui informada que ele estava no décimo segundo andar. O elevador não contribuiu. Sentia minha inspiração profunda cada vez que as portas se abriam para um vão.

Na sala de espera encontrei uma Renata com olhos cheios de lágrimas, e o homem que vi dias atrás levando seu Nelson para casa ao seu lado.

- Isso é inadmissível. Nelson está lá dentro daquele quarto, você está aqui preocupada e ele chama uma estranha para falar com ele. - O homem não se importou nenhum pouco com a minha presença.

Olhei para Renata, ela levantou os ombros lentamente e fungou. Caminhei para o quarto 422 escutando o suposto namorado da Renata praguejar.

O quarto estava iluminado por uma luz fraquinha. No meio de uma enorme cama estava ele. Parecia pequeno demais visto do lugar que o olhava. Aparelhos e fios estavam por todos os lados. Tentei me abstrair das perfurações intravenosas em seu braço, olhando para seu rosto cansado.

- Nora, por favor desligue esse ar. Acho que eles estão tentando me matar o mais depressa possível. - Falou lentamente apontando para o controle sobre a mesinha ao lado da sua cama.

Desliguei o ar, respirei fundo. Estava prestes a abrir as represas de lágrimas.

- Como o senhor está?

O sorriso que ele me ofereceu foi o mais terno que já tive durante esses meses.

- Bem estou vestindo essa bata azul ridícula. Não consigo levar ar aos meus pulmões sem ajuda destes equipamentos e meu bom e velho coração quer me deixar na mão. Acho que devo partir em breve.

Nessa hora avancei para seu lado na cama, colocando minhas mãos sobre a sua gelada.

- Eu proíbo o senhor de morrer. Está certo?

Ele deixou escapar um sorriso.

- Tu não és Deus, Nora. Só ele tem o controle sobre a vida.

Seu Nelson desviou o olhar do meu por um segundo, depois deu-me um forte aperto entre os dedos.

- Ontem mudei todo o meu testamento. Deixei para Gabriela tudo o que consegui na vida através do suor do meu rosto. Casa no campo, o maior dentre eles foi a minha empresa, quando ela completar a idade de tomar conta e se ela quiser tudo aquilo será dela.

Sorri com sua atitude.

- Mas seu nome também está no testamento.

Abri a boca mas ele me repreendeu.

- Nora, no dia que você apareceu ao meu lado perguntando sobre o aluguel da casa que convivi com Margarida por tantos anos, eu fiquei com raiva. Não gostaria de ter saído daquele lugar nunca. E naquela altura odiava pensar que alguém iria viver ali, criar outras lembranças e destruir tudo que convivi com a minha amada. - Ele deu uma gargalhada generosa que fizeram os aparelhos soltarem um guincho estranho. - Meu intuito era fazê-la desistir da casa em poucos dias. Mas enganei-me. Você continuou lá, mesmo eu sendo rude com você. Você não retirou nenhum dos enfeites que a Margarida amava da sala, os quadros continuaram no mesmo lugar de sempre, os pratos estão com eu os deixei. Você zelou com amor. - Uma lágrima já rolava por seu rosto enrugado. Levei as mãos até ela e a limpei. - A casa é sua, Nora.

Um engasgo fechou minha garganta.

- Pinte da cor quer você quer. Mude os móveis. Recrie memórias. Faça do meu lar, o seu. Seja feliz.

Envolvidos - Terceiro livro da série Envolvidos no amor. #Bessa3 [Completo]  BROnde histórias criam vida. Descubra agora