De volta para casa pensei no vexame do dia e ri sozinha. Ao dobrar a esquina para ir para o prédio do Fred, avistei um senhor martelando uma placa de aluga-se em um portão metálico.
— Olá. Está para alugar?
O velhinho careca com características bem parecidas com Carl Fredricksen, do filme Up altas aventuras parou o martelo no meio do caminho.
— O que está escrito aqui? — Perguntou irônico.
Reli a placa, era óbvio que estava escrito aluga-se mas pela expressão do velhinho pensei que tinha desaprendido a ler e que lá estava escrito outra coisa.
— Aluga-se. — Sussurrei.
— Pois é. Se fosse vende-se estaria vendendo, se fosse doa-se estaria doando mas está escrito aluga-se então presumo que vou alugar.
Alguém ajude-me a levantar, levei a maior rasteira do ano.
1.000 para Vovô zangado x 0 Nora.
— Vô Nelson, não fale assim. — Uma jovem morena ralhou com o senhor zangado. — Desculpe, ele está enervado. Não é um bom dia. — Alisou os poucos fios brancos do senhor. Está interessada?
Se ele for o senhorio, não muito obrigada.
— De quem é a casa? — Perguntei.
— Minha. — Nelson bateu no peito, como estivesse declarando uma guerra.
— É dele mas devidos alguns acontecimentos decidimos alugá-la.
— Contra a minha vontade é claro.
— É para o seu bem, vovô. — A morena olhou com doçura para o avô e o beijou.
Quer entrar e ver a propriedade?
— Sim.
A entrada era cheia de roseiras e girassóis e o caminho para a entrada feito com pequenas pedrinhas tipo de aquário. No alpendre havia duas cadeiras cobertas de almofadas e uma manta em crochê repousava em uma delas.
Uma placa em madeira estava afixada na porta de entrada e lia-se “Seja você a mudança que quer ver no mundo – Mahatma Ghandi”
A parede da sala era toda trabalhada em um papel de parede camurça com fotos do senhor zangado e outras pessoas, as janelas estavam tapadas por uma cortina em retalhos envelhecidos, e em cada canto da salinha havia um sofá gastos pelo tempo.
— Não toque nela. — Ele apontou para uma velha estante que ia do chão até o teto em madeira, a própria estava lotada de livros com capas escuras. Havia uma mesa enorme em pinho perto da porta arredondada da sala de estar. Não entendi o motivo de mais de quarenta pratos miúdos arrumados um atrás do outro como se fosse dominós prontos para caírem ao chão, mas percebi que por trás de cada louça branca decoradas com rosinhas vermelhas haviam um tipo de ganchinhos que os impediam de caírem.
— Um para cada ano de casados. — A neta falou ao ver minha curiosidade.
— Quantos?
— 58 Anos.
— Isso tudo. Que milagre. — Disse sorrindo. - Qual a receita seu Nelson?
— Não há receita para um casamento feliz e se existisse os ingredientes indispensáveis seriam respeito seguido pelo amor.
Nelson alisava a borda dourada de um prato.
— Mantenha distância delas também. — Mudou drasticamente de humor.
Deixamos ele para trás e conheci o quarto principal da casa.
— Vovó partiu há um ano e ele negou ir embora daqui. Desde então meus pais querem levá-los para a nossa casa bem aqui do lado mas sempre nega. Ele sente muita falta dela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Envolvidos - Terceiro livro da série Envolvidos no amor. #Bessa3 [Completo] BR
ChickLitProibido para menores de 18 anos. Um casamento em crise e o pecado a espreita. Nora Oliveira é uma fotógrafa um tanto diferente das outras, embora sua profissão seja desprezada pela maior parte que a rodeia, Nora sente-se bem em fazer que a autoest...