Building a new life

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O vento forte ainda atormentava quem se atrevia andar pelas escuras ruas de New Jersey durante aquela madrugada. Totalmente silenciosa, mas escondendo vários horríveis acontecimentos pela falta de luz aparente.

Havia alguém se atrevendo a caminhar pelas sujas beiras da rua, evitando passar pelas calçadas e presenciar indivíduos se drogando ou cometendo algum crime. Andando com as mãos nos bolsos da jaqueta, tentando se despistar do frio, sentindo toda sua escapula gelar com um dos últimos sopros da madrugada.

O cheiro aparente de cigarros e bebidas corriam por suas narinas, mesmo sendo completamente contra qualquer tipo de droga, levando em consideração os fatos que seu pai havia provocado um acidente por causa de tais substâncias e destruído boa parte de sua família.

Sua irmã era tão nova que nem teve chance de dizer uma única palavra neste mundo e sua mãe havia sofrido tanto que praticamente morreu por dentro, sendo que anos depois, veio a sofrer de um câncer maligno, deixando o outro sem ninguém e com uma dor tremenda dentro do peito.

Não sabia porque fora o único que conseguira sobreviver desta tremenda maldição em sua família, mesmo sendo quase impossível sobreviver nos bancos traseiros ao ver o carro em apenas destroços e talvez, na pontinha de seu coração, desejava ter ido junto, afim de não sofrer tanto pela falta dos entes queridos.

Aquilo o irritava, sua inútil vida continuava a mesma de anos, vivendo às custas de mordomias dos outros, o dinheiro não seria problema, pois tudo havia sido deixado para ele. Mas é claro, que nada substituiria a presença dos dois para o garoto, que já era maior de idade podendo cuidar-se sozinho, mas não era tão fácil assim.

A solidão o atormentava todos os segundos, mas era melhor do que uma companhia indesejada naquele momento. Continuou seu trajeto de sempre até sua casa, o que seria mais próximo do que esperava.

Buscou as chaves no bolso traseiro, enquanto já avistava a porta de sua residência ao fim da rua. A iluminação estava fraca devido à quebra da luz de um dos postes na rua, a maioria dos moradores dali, já estavam cientes que demoraria séculos para a prefeitura consertar o pequeno incidente.

Uma garoa fina já começava a tocar as beiradas de sua jaqueta e molhar de leve as bordas de seu rosto. Os riscos intensamente luminosos tomavam conta do céu, clareando uma vez ou outra, fazendo que toda aquela escuridão avisasse que quem permanecesse ali, poderia se molhar.

Finalmente encostou as mãos na grade gelada de seu portão, sentindo o vento bater fortemente contra suas costas e algo tocar seu pescoço, fazendo todos seus pelos arrepiarem. Não ousou virar para trás ou se movimentar por breves segundos, não estava em um completo estado de choque, mas poderia dizer que estava mal e precisava descansar, estava sentindo coisas que não eram possíveis de serem sentidas se não houvesse uma pessoa de corpo presente logo à suas costas. Vasculhando os bolsos novamente a procura das chaves o mais rápido que poderia, respirou fundo e sentiu sua cabeça pesar.

Encontrou-as depois de tanto trabalho, destravando o portão e adentrando à frente da casa por completo, trancando-o em seguida, sabendo os riscos que correria se não o fizesse.

Caminhou pela pequena faixa de concreto, que dava ligação até a porta, sentindo as gotas da chuva tocar rapidamente o tecido grudado em seus ombros, ainda mais grossas do que antes. Destrancou a porta, logo após entrando, ouvindo um rangido da mesma, grosso e ríspido, arrepiando seus pelos novamente e deixando seu coração acelerado.

Ele sentia que algo estava o acompanhando.

Mesmo ciente de que aquilo poderia acontecer pelo motivo do estado deplorável que a antiga casa alugada se encontrava, não conseguiu controlar seus sentidos.

Acendeu a luz, deixando o casaco em cima do sofá, subindo para seu quarto. Se apoiou na beirada da escada como sempre fazia, sentindo o material metálico de sua borda gelar ainda mais suas mãos.

Empurrou a porta preguiçosamente, enquanto corria para se jogar na cama. Não havia palavras para descrever aquela sensação de puro mínimo descanso, apenas de fazer o ato de deitar suas costas contra o colchão macio.

Escorregou uma das mãos pelo lençol frio, percebendo que sua cama era tão grande apenas para si mesmo e se sentiu vazio, completamente sozinho. Não esperneou ou ao menos tentou choramingar, já estava acostumado com todo aquele drama diariamente.

Se levantou novamente, completamente indisposto, indo até o guarda-roupa de madeira que mesmo bem velho, se encontrava em um estado não tão deplorável quando em comparação as outras coisas da casa.

Sempre o avisavam para sair daquele lugar, jogar os móveis fora e aproveitar todo o dinheiro que tinha.

Mas não.

Aqueles pedaços de madeira em formato de móveis carregavam lembranças de seus pais, e ele não se soltaria daquilo tão cedo, o garoto não havia aceitado a perda mesmo depois de tanto e se dependesse dele, continuaria ali até aquilo desmoronar em sua cabeça e o levar para perto de sua família novamente.

Os vizinhos eram tão sorrateiros que sempre ofereciam ajuda para o garoto com intenções financeiras, de tentar ver o que ele escondia de valioso dentro daquela casa que por fora era muito simples ou tentavam se aproximar cada vez mais dele para ter noção do paradeiro de seus bens.

Ele era um pequeno pote de ouro trancado que todos queriam se aproveitar de sua curta inocência e grande riqueza, tentando-o abrir com uma pequena chave falsa.

Encontrou seu pijama favorito em sua primeira gaveta, como sempre, a rotina diária e sem mudanças o irritava completamente. Deixou o tecido, já um pouco desgastado pelo uso excessivo, em cima da cama e caminhou até o banheiro.

Assim que ligou o chuveiro, sentindo as gotas grossas e mornas rolarem por sua pele despida, se sentiu renovado e completamente livre de todo aquele mal-estar de momentos atrás. Continuou ali até desconfiar que iria acabar com a água do mundo se passasse mais um minuto com o chuveiro ligado.

Depois de desligou e se enrolou na toalha, percebeu o tão frio que estava ficando aquela casa e talvez tenha sido um pouco precipitado se atrever a tomar um banho naquela hora da noite. Mas mesmo assim não se importou, se enrolou no tecido e saiu do box, caminhando descalço até o espelho mais próximo.

Se observou no espelho, tentando relembrar como o tempo havia passado tão rápido diante seus olhos e consequentemente, levado algumas de suas coisas mais preciosas. Pegou outra toalha passando contra o vidro do espelho para tentar deixar a imagem mais nítida.

Fechou os olhos e se segurou no canto da pia, mesmo para trazer mais confiança para si e também para que suas fracas pernas não falhassem. Aquilo era um tanto torturador de ser visto, e de ser sentido seria pior ainda.

Abriu os olhos segundos depois, vendo uma sombra negra refletida contra o espelho logo atrás de seu corpo esguio. Rapidamente, completamente assustado com o que via, tocou no vidro gelado e viu a imagem desaparecer.

Seus pelos estavam todos arrepiados e ele implorava para sua mente parar de brincar com si mesmo, ele pensava e tentava acreditar que aquilo não fora por nenhum segundo real.

Desistiu de continuar ali, apagando a luz e saindo dali se sentindo um completo idiota por trancar a porta e ir direto para o quarto. Vestiu seu pijama, deitando-se na cama logo depois.

Fechou os olhos e tentou dormir, tentou apagar o que sua mente havia visto.

Mas...

O que ele viu?

Aquilo era real?

Mas...

O que era aquilo?

Seria uma de suas primeiras companhias?

Ele se sentia sozinho todos os dias e quem sabe alguém estivesse disposto em o acompanhar.

Ou algo.


Continua...

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