Alguns dias haviam passado em um flash, os afazeres eram os mesmos como sempre e todo se tornava parte de rotina, mas ainda no final da semana, Iero ainda teria que ir à consulta que havia marcado com Dr. Toro.
Não era tão cedo como havia pensado, ganhando um tempo a mais assim que levantou e se trocou, já estando pronto para sair. Ele mal se importava com o café-da-manhã, o que para ele era uma das únicas coisas excluídas da rotina.
Preferiu passar em uma de suas bancas favoritas próximas ao consultório e comprar mais uma HQ para sua coleção. Com o objeto ainda embrulhado em mãos, observou a hora e pensou estar ainda cedo para a consulta, mas também seria bom ficar um pouco sob a presença de Jamia que ali deveria estar.
Adentrou o local, se sentando em uma das poltronas macias, o mais perto possível da mesa da garota, desembrulhando a HQ e folheando-a tranquilamente, olhando meio escondido para a garota e vendo que a mesma estava pendurada ao telefone.
Assim que a mesma desligou o aparelho, tratou logo de abrir um sorriso simpático ao ver Frank ali, para ela belo e elegante como sempre, e como aquela garota adorava a presença de Iero, começou a puxar assunto naquele mesmo minuto.
"Bom dia, Frank. Como está?" Perguntou sorridente, com uma voz calma e até melosa demais para começar um assunto, mas ninguém notara isso ali.
"Bom dia, Jamia. Estou bem, e como você está?" Respondeu-lhe como se fosse um ato de educação normal, pois seus olhos já estavam ficando bem vidrados na HQ que já se encontrava aberta em suas primeiras páginas.
"Então..." Ela começou novamente, se apoiando na beirada da mesa e se aproximando um pouco mais do garoto que não a fitava, pois, seus olhos queriam saber de outra coisa. "Você vai fazer alguma coisa nesse sábado?" Esticou-se ainda mais, tentando ganhar a atenção do rapaz a qualquer custo.
"Hmm..." Ele pensou, pensou, pensou e se lembrou que não fazia nada de diferente nos finais de semana já fazia anos, então percebeu que poderia tentar dar uma chance para a moça. "Estou livre, por quê?" Perguntou como se não soubesse onde ela queria chegar.
"Que tal uma ida ao cinema? Fiquei sabendo que vai ter uma estreia de um filme aparentemente muito bom." Seus dedos batiam conta a mesa e faziam alguns ruídos, pois ela parecia totalmente desconcertada, um pouco apavorada com o que estava acontecendo.
Ele apenas assentiu com a cabeça, movimentando uma das folhas de sua HQ e continuando com seus olhos presos a mesma, enquanto a moça falava e falava, os horários previstos e o lugar que poderiam se encontrar, assim quando tudo parecia estar certo, o silêncio voltou a se ali.
Frank estava preso e cativado com seus olhos nos desenhos, quando Jamia o chamou novamente, praticamente o tirando do transe que estava, avisando que poderia ir até a sala de Dr. Toro, pois já estava na hora prevista de sua consulta.
Se levantou e passou próximo a garota, assentindo com a cabeça como se estivesse seguindo seu aviso e se despedindo também por algum momento. Assim que chegou próximo a porta, bateu algumas vezes e recebeu um "Pode entrar" logo em seguida, abrindo-a e entrando na sala.
"Olá, Frank. Como está se sentindo?" Toro esticou uma das mãos assim que viu o outro se sentar e se ajeitar ali, tentando ficar confortável de frente para ele, o menor agarrou a mão do outro assim que viu a mesma se aproximar, em um ato de educação apertou-a e logo largou.
"Estou me sentindo confuso e estranho por esses dias." Coçou a cabeça parecendo meio perdido com as palavras certas para serem escolhidas naquele momento, pois ele ainda tinha medo que o médico pensasse que a depressão estava voltando e os remédios horríveis teriam de voltar.
"Mas... É por causa das antigas lembranças? Alguém anda te incomodando ou algo parecido? Tem algo que queira me contar?" Voltou com as perguntas, coisas normais em uma consulta como aquele, e que por sorte Toro era um dos médicos do pequeno de longa data e já havia conseguido ganhar um pouco da confiança do outro.
Frank pensou em falar sobre Gerard, o rapaz que havia invadido sua casa, ou que estava vendo algo inexistente e sobrenatural em sua casa e que o seguia em vários lugares, mas seria uma imensa besteira, não é verdade? Quem iria acreditar em tais fatos vindo de um garotinho traumatizado? Então ele preferiu guardar para si, como sempre fazia com as loucuras de sua mente.
Então ele apenas fitou as mãos sob suas pernas, observando os movimentos de seus dedos uns contra o outro, sentindo-se um verdadeiro retardado naquele instante. Só parou assim que o médico bateu com algo em cima da mesa.
Seus olhinhos correram para a mesa de Toro, logo a sua frente, e caíram em cima de uma caixinha escura, aparentemente velha e gasta pelo tempo, sendo aberta momentos depois e retirando-se pequenos quadradinhos dali.
Eram fotos, aparentemente mais do que uma dúzia, sendo espalhadas pela mesa e usando o espaço da caixinha que agora se encontrava no chão. O pequeno olhava atento para as imagens e observava todos os detalhes, com medo te tocar nas pequenas fotografias antigas desgastadas pelo tempo, com as bordas amareladas e com pequenos rasgos em suas pontas.
"Pode pegar, são todas suas..." Toro resolveu falar assim que observou o garoto com os olhos arregalados para as imagens, mas que não se atreveu tocá-las.
Depois de escutar a voz do médico, dando-o um pouco mais de confiança, pegou uma das fotografias, observando todos os detalhes. Era uma das famosas fotos de famílias, que sempre eram tiradas anualmente, tendo a presença de todos os integrantes de sua própria família.
Uma fotografia antiga poderia trazer alguns malefícios para a mente do garoto, não é mesmo? Jogar velhas lembranças no rosto de alguém que não tinha mais tempo para ter sua família parecia injusto. Mas no pensamento do outro, aquilo poderia demonstrar um pouco o quanto eles pareciam felizes naquele momento e como ele poderia continuar em frente...
Alguém logo as costas de Frank, olhava as imagens atentamente como o outro e sentia uma enorme pena ao ver os olhinhos do garoto se encherem de água. Como Gerard queria socar a cara daquele médico no segundo que observou uma lágrima escorrer pela pele de Frank, que logo tratou de passar uma das mãos ali e esconder qualquer pista de fraqueza.
O pequeno já não olhava mais para frente, devolvendo as imagens para o médico que agora o observava confuso. Logo Iero tratou de dizer que teria que fazer algo diferente hoje e já estava ficando tarde, inventando uma desculpa para sair daquela sala torturante.
Mal se importou com os sorrisos doces de Toro ao entregar a caixinha com as fotografias, saiu daquele consultório sem nem olhar para a secretária que ganhou um brilho a mais nos olhos assim que o viu passar por ali, e já com a caixa em mãos, a primeira coisa que queria fazer era jogar tudo aquilo fora e tentar esquecer o passado de alguma forma.
Já em casa, exprimido no sofá com um semblante triste e cansado, empurrou fortemente a caixa que se encontrava em cima da mesinha próxima ao sofá, vendo-a cair no chão e todas as imagens ficarem ali espalhadas pelo chão.
Ele definitivamente não queria aquilo dentro de sua casa.
Mesmo que fosse seus familiares e ele mesmo, bem mais jovem, praticamente um bebezinho com seus pais e depois mais crescido com sua pequenina irmã, ele não se importava mais. Todas aquelas lembranças ruins voltavam a sua mente a todo momento, apertavam o seu pescoço e clamavam por ver lágrimas escorrem pelo rosto do menor.
Ele já soluçava e se apertava contra o estofado macio, abraçando a primeira almofada que havia encontrado ali, pensando quando toda aquela dor iria embora. Mas alguém o observava fazia tempo, esperando o momento certo para se aproximar...
Porém não conseguiu ficar mais nenhum segundo vendo o garoto se exprimindo no sofá e chorando sem parar, ele precisava fazer alguma coisa para diminuir a dor do menor.
Continua...
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Insidious
Misterio / SuspensoSe você visse sua família morrer aos poucos, realmente escorregar por seus dedos e acabasse sendo torturado por uma dor sem fim, sem poder fazer nada para que mudasse o destino desta história e no final acabar sozinho mofando em uma casa fria e tota...