Little Angels

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As risadas das crianças já chegavam até os ouvidos das pessoas que passavam pelo corredor, recebendo uma dose de animação diária ao perceberem a alegria daquelas crianças enquanto seus corpos estavam doentes.

Frank estava na escada do escorregador, que era perfeito para sua altura, deixando-o com um ar ainda mais infantil perto do brinquedo. A garotinha logo acima dele subia as escadas com cuidado, olhando para trás com os olhos assustados de medo em direção à Frank, que carregava um sorriso doce nos lábios.

"Está tudo bem, querida?" Ele perguntou assim que percebeu que a garotinha havia parado ali, observando-o com olhos aflitos, talvez tivesse medo de altura, mesmo se estivesse a pouquíssimos metros do chão.

"Tio Frank..." Ela começou um pouco desconfortável, enquanto algumas crianças saiam da fila do brinquedo e iam para outros, pois todos ali eram amigos de longa data e entendiam o medo da pequena, deixando para Frank resolver aquilo e não pressionando para que ela descesse do escorregador logo.

Não precisava de mais nenhuma palavra ser dita para que o rapaz entendesse o que estava acontecendo com a criança ali, logo ele se aproximou um pouco mais e tentou passar um pouco de confiança para ela.

"Pode subir tranquila, eu vou estar bem aqui atrás de você, meu anjo, tenho certeza você não vai cair." Disse com a voz calma e firme de sempre, passando confiança para a pequena que subiu alguns degraus e voltou a olhar para cima.

"Tio, você pode descer comigo?" Chamou assim que se sentou na parte superior do brinquedo, deixando um espaço para que o mais velho se aproximasse.

Percebendo o tanto que a criança precisava de uma prova de confiança para conseguir descer, e também, ele sabia que lá no fundo, ela também precisava de uma figura de pai para brincar com ela.

Era triste dizer que ela era mais uma das crianças largadas numa sala de hospital para morrer por causa de suas doenças incuráveis, deixadas por pais medrosos e totalmente sem corações, que mesmo sabendo que elas precisavam de sua presença nem se fosse por algumas horas até seu fim, evitavam observar as criaturinhas com os lábios arroxeados, os olhos sem brilho e os cabelos finos e fracos.

Aquilo era o de menos do que acontecia naquele hospital, mas por sorte aquelas crianças ainda tinham Frank, que sempre estaria disposto a visita-las todos os dias para levar sua dose de carinho e receber em troca o mesmo, mas muito mais que o dobro.

O maior segui o pedido da menininha e se aproximou, segurando-a firme para trazer ainda mais confiança, descendo o escorregador rapidamente e colocando os pés no chão para parar seu corpo e não assustar a pequena.

E foi logo depois que ele recebeu mais um presente diário naquele local, a garotinha agora já de pé a sua frente possuía um sorriso forte em seus lábios pálidos e rachados por causa de seu estado de saúde, um brilho encantador em seus olhos que antes estavam apagados e uma imensa gratidão sendo carregada em seu peito.

"Obrigada." Ela agradeceu voltando para Iero, abraçando-o com seus bracinhos pequeninhos em volta do corpo do maior e depositando um curto beijo em sua bochecha como bônus do agradecimento, saindo dali em seguida e indo até a fila do brinquedo novamente, alegando que desta vez conseguiria ir sozinha.

Frank se levantou em seguida, indo até as outras crianças que estavam em outro canto brincando umas com as outras de esconde-esconde. Assim que se aproximou, todas pararam com a brincadeira, convidando o maior para brincar com elas.

E então ele embarcou de vez no mundo de fantasia dos pequenos, se enchendo de luz e provando do mais doce da inocência que aquelas crianças possuíam. Enquanto se escondia, um garotinho se aproximou dele, perguntando se ele conhecia um bom esconderijo para ele se esconder.

O baixinho seguia Iero para onde ele estava indo e ambos acabaram se escondendo em baixo da mesinha que ficava do outro lado da sala, esperando que o outro não os encontrassem.

"Esse rapaz ao seu lado, é seu novo amigo? Quem é ele?" A criança se pronunciou baixinho, esticando um de seus dedinhos e tocando o ombro de Iero com cuidado, tentando chamar sua atenção.

"Quem?" Frank parecia confuso com a frase do garoto, olhando para os lados afim de ver se havia alguém ao seu lado, mas nada viu.

"Esse moço de cabelos pretinhos e com duas bolinhas verdinhas brilhantes nos olhos, um pouco mais alto que você e uma cara tão branquinha quanto a minha, ele é seu amigo, não é?" O maior quase gargalhou com a descrição do pequeno, que parecia estar realmente vendo alguém do outro lado de Iero e tendo um maior cuidado em dizer docemente como o tal era. "Como ele se chama?" A criança voltou a falar, tagarelando como sempre e cheio de perguntas, deixando tio Frank confuso naquele momento, mas pensou que seria o começo da "era dos amigos imaginários" e então passou a entrar na brincadeira.

"É um segredo" Levou um dos dedos aos lábios e vedou-os, como se não pudesse falar para o pequeno, que observava de olhos curiosos e esperava uma resposta. "Por que não pergunta à ele?" Iero voltou a falar, também querendo uma resposta.

"Como você se chama, moço?" Falou um pouco mais alto, esticando as sobrancelhas finas assim que pareceu receber uma resposta, mas apenas ele havia ouvido. "Ele disse que se chama Gerard." E assim foi a vez de Frank realmente estremecer.

Frank sentiu um sopro em seu pescoço, sentindo todos seus pelos arrepiarem naquele mesmo segundo, se levantando rapidamente e esquecendo que estava debaixo da mesa, batendo com a cabeça na quina da mesma.

Depois dos dois saírem de debaixo da mesa e as crianças voltarem a chama-los para a brincadeira, alegando que se esconderam tão bem que não haviam achando-os, o menininho ainda olhava para Frank com um olhar curioso.

"Gerard está rindo de você, tio Frank." Abriu um sorrisinho, soltando uma risadinha leve em seguida. "Gostei de você, tio Gerard, até mais!" Abanou uma das mãos em um sinal de despedida para as costas de Iero, saindo dali correndo e voltando para onde as crianças estavam.

Frank ainda estava incrédulo com o que havia acabado de acontecer ali, pensando que o nome do amigo imaginário do menino era o mesmo daquele estranho rapaz que havia invadido sua casa. Correu uma das mãos pela testa, confuso, tentando digerir o que estava acontecendo.

Tentou ignorar tudo, pois já estava ficando tarde e como ele teria de ir embora sozinho, não poderia ficar até o escurecer. Todos os fins de tarde das crianças, para elas, ficavam mais tristes com a ida de Iero, mas elas ainda acreditavam que ele voltaria no dia seguinte.

Depois de ser abraçado por todos aqueles pequenos anjinhos adoráveis, Iero saiu daquela sala e se despediu das enfermeiras e recepcionistas que estavam ali presentes logo próximo a saída.

Assim que tocou os pés fora do hospital, sentiu uma brisa gelada tocar seu rosto descoberto e arrepiar seus cabelos, vestido o pequeno casaco fino de sempre, puxou a toca para cima e ajeitou-a em sua cabeça. Apressando o passo em seguida e se encolhendo, colocando as mãos no bolso e voltando para casa.

Continua...


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