I saw him

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Com olhos incrédulos, olhou novamente a cama para tentar saber se estava ficando louco ou algo parecido. Mas não, tocou o colchão do lado contrário que havia passado a noite e observou uma silhueta marcando toda a extensão do tecido amassado.

Era como se alguém, proporcionalmente maior do que o garoto, havia passado a noite ali, dormindo ao seu lado.

Mas aquilo não era possível!

Nada seria real, apenas criações de sua cabeça...

Porém, aquilo era concreto e totalmente apavorador.

O garoto correu para a cozinha, procurando o paradeiro do copo quebrado da noite anterior, se ele estivesse ali, com certeza alguma coisa estava acontecendo dentro daquela casa. E como aquele pequeno tinha medo de fantasmas e assombrações, sentindo-se amaldiçoado por ter o aniversário justo marcando data com o Halloween.

Olhou, olhou, olhou e nada, nenhum mínimo caco pelo chão, nenhuma sequer pista de um vidro quebrado pelo chão. Suspirou aliviado, indo mais próximo da pia e encontrando o copo em cima da mesma, o objeto estava em pedaços, mas todos os pedaços estavam juntos com cuidado e dentro de uma pequena sacola.

Mas, se ele havia corrido da cozinha rapidamente na noite anterior, o que aquilo estava fazendo ali? Quem havia arrumado tudo, privando o pequeno de não se machucar logo pela manhã?

Ninguém ainda tinha respostas.

O garoto se sentia mal logo pela manhã, tendo calafrios percorrendo a espinha e com um enorme ponto de interrogação em sua mente. E claramente pensou que estava precisando de ajuda, deveria logo marcar uma visita a seu antigo psiquiatra de confiança se tudo continuasse como estava indo.

Não tinha nenhum pingo de vontade para se alimentar, indo até a sala e ligando a TV, deixando em um canal qualquer, nada ali era importante para aquela vidinha pacata. Se jogou no sofá e agarrou uma coberta, olhando a hora no relógio em seguida e acabou percebendo que ainda era cedo, nada para fazer por algumas horas poderia ser torturante para o garoto.

Passava um desenho infantil e segundo os pensamentos do menor, algo tão estúpido e bobo para um jovem de 18 anos ficar assistindo, pegando preguiçosamente o controle e saindo em busca de algo que prestasse.

A maldita TV velha estava falhando assim que passou em um dos últimos canais, justamente o canal que exibia a programação favorita do garoto. Soltou um resmungo e fez menção de desligar o aparelho, o mesmo continuou como nada tivesse acontecido.

O menor levantou do sofá preguiçosamente, indo até a TV e procurando por seu maldito fio para desliga-la, já que não teve sucesso utilizando o controle. Pensou que o mesmo poderia estar com a pilha velha e que já não funcionaria mais, teria de comprar pilhas novas depois de fazer suas visitas no hospital.

Puxou o fio do aparelho e viu toda a luminosidade se apagar e o barulho irritante de chiados parar. Assim fitou a tela escura, clareada com o reflexo da lâmpada da sala e pensou em ouvido uma branda risada logo a suas costas e um assopro em seus cabelos, mas nada viu refletido na tela da TV.

Saiu da sala bufando de raiva e se direcionou para a cozinha, afim de comer alguma coisa só porque não tinha nada mais para fazer até o horário do almoço, e depois, pelo período da tarde teria de voltar ao hospital como fazia todos os dias da semana.

Ele já estava pensando numa ideia de arrumar um emprego e pelo menos tentar levar uma vida de um adulto normal, porque não queria depender do dinheiro dos pais que trabalharam praticamente a vida toda.

Saiu com algumas frutas da geladeira e levou em direção à pia, lavando as mesmas e colocando-as em um prato, enquanto vasculhava as gavetas por uma faca de bom corte. Com uma suficiente para cobrir sua necessidade, o menor levou até a primeira fruta, descascando-a tentando ser cuidadoso para não se machucar.

De frente para a pia, continuou o que estava fazendo até ouvir uns barulhos esquisitos logo as suas costas. Parecia que uma das cadeiras da mesa estava sendo arrastada um pouco mais para fora como se alguém fosse se sentar nela.

Irritado com os ruídos, virou o corpo para frente e se deu de cara com uma pessoa ali, digamos, o que parecia ser uma pessoa. Era um rapaz muito mais alto do que o garoto encostado na pia, com cabelos negros curtos completamente lisos jogados por seu rosto e uma pele tão pálida que quase chegava em um tom próximo a uma folha de papel.

O menor estranhou a presença do outro ali, arregalando os olhos e tentando descobrir como aquele rapaz entrou ali se tivera certeza que havia trancado tudo na noite anterior e não havia ouvido barulho nenhum que demonstrasse que a porta poderia ter sido arrombada.

Com o susto que havia passado, nem percebera que sua mão já estava sangrando por causa da faca ter escorregado e ter sido prensada deliciosamente contra sua macia carne. Mas quase nem se importou com a dor que começava a incomodar, pois ele ainda teria que esclarecer algo com o invasor de sua casa.

"O que você está fazendo aqui?! QUEM É VOCÊ?" O baixinho praticamente gritou assustado, deixando a faca logo ao seu lado, talvez pensando que poderia precisar dela em algum momento.

O silêncio se instalou na cozinha assim que o pequeno se calou, respirando ofegante e com os olhos quase pulando para fora da face. Ele observava o outro logo a sua frente, timidamente observando todos os detalhes do rapaz.

"Eu te fiz uma pergunta!" Voltou a falar, agora com o tom mais calmo, mas ainda firme como antes. Olhava no fundo dos olhos do outro que pareciam ter uma coloração esverdeada jamais vista pelo pequeno que estava se encantando aos poucos com a beleza que estava logo a sua frente.

"Eu te machuquei?" Finalmente o rapaz resolveu falar alguma coisa, com uma voz macia e os olhos arregalados demonstrando sua preocupação, se levantou da cadeira e se aproximou do garoto.

"Não..." Frank respondeu com voz baixa, como se temesse a aproximação do outro, fitando o chão em seguida e se espremendo contra a beirada da pia, querendo ficar o mais longe possível do que parecia ser uma pessoa a sua frente.

"Me desculpe, eu nem me apresentei! Eu sou Gerard, muito prazer." Estranhamente, o rapaz falava como se ambos haviam trombado num passeio ao parque ao ar livre, mal se lembrava que havia invadido a casa do outro e que precisaria explicar melhor o que estava fazendo ali.

É claro que ao ouvir aquele nome, o corpo do pequeno estremeceu e algo sussurrou em sua mente misturando em seus pensamentos como aquele nome pertencia tão bem para aquele rapaz, combinava com a beleza do outro. Mas aquilo era só pensamentos! Frank ainda estava irritado e jamais poderia continuar deixando alguém que invadiu sua casa conversar como se esbarrassem num canto qualquer por aí.

"Meu nome não importa para você, saía da minha casa!" Aquilo soou extremamente grosso que o garoto mal imaginou que havia conseguido dizer aquilo para o invasor.

"Deixe-me primeiro concertar meus erros..." Como se nada tivesse o expulsado dali, o maior ainda continuava com o mesmo tom adocicado como dês do início. Se aproximou ainda mais, tocando nas mãos do garoto e olhando o ferimento um pouco mais de perto.

"O que você quer?" Agora a voz de Frank havia falhado, soado baixinho e ofegante, parecia que algo estava incomodando completamente. Seu corpo estremecia e suas mãos suavam mais do que nunca, mas ele nunca se atreveria a voltar a olhar profundamente nos olhos do rapaz a sua frente! Alguém estava desconfortável com a situação, mas no fundo, no fundo, amava ser cuidado e ter a atenção de alguém.

As mãos frias do rapaz embalaram a mão machucada do menor, assim os dedinhos do mesmo se movimentarem como uma tentativa de demonstrar uma possível negação. Mas que segundos depois, começaram a ficar imóveis e aceitar o que estava acontecendo.

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