Hi Frank

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O frio da madrugada torturava o garoto encolhido em cima da cama, pensava que poderia ter esquecido uma das janelas abertas e decidiu levantar para verificar ou morreria congelado.

Checou todas as janelas e portas existentes da casa, todas fechadas e bem trancadas. Nem se arriscou olhar lá fora, talvez estivesse até caindo neve! Mesmo amando neve, com ela viria o tremendo frio e ele não estava nada preparado para isso.

Mas como o inverno havia o pegado desprevenido! Assim abriu o guarda-roupa procurando uma outra coberta como se fosse resolver alguma coisa naquele momento, jogando a mesma na cama assim que a encontrou.

Caminhou até a cozinha, pois tinha uma tremenda e estranha sede. Com os lábios arroxeados de frio e os dentes rangendo, se aconchegou contra seus próprios braços e finalmente chegou onde queria quase caindo duro pela escada.

Mal se atreveu a abrir a geladeira e morrer congelado de vez ali, pegou um copo do armário e ligou a torneira, tomando a água que queria, lentamente, encostado na pia de frente a janela.

Uma das janelas de frente com a pia da cozinha, tinha os vidros completamente embasados, o que dificultava a visão do que acontecia lá fora. Segundos depois, uma pequena luz amarelada e com faíscas tentou aparecer contra o vidro, dando sinal que algo acontecia lá fora. Parecia que alguém estava iluminando o lado da casa com algo, mas quem ficaria ali, próximo a janela num tremendo frio daquela noite? Aquilo seria improvável de ocorrer.

O jovem observava confuso, mas atentamente, e só parou quando o vidro recebeu suposta mensagem. Mas algo que só poderia ter sido escrito por alguém que estivesse dentro da casa.

" Hi Frank. "

O pequeno levou um tremendo susto, derrubando o copo no chão e sentindo seu coração palpitar. Olhou para trás e não viu nada, até porque a escuridão tomava conta daquele lugar.

Não sabia explicar como viu aquilo escrito contra o vidro, agora menos embasado do que antes, pois possuía seu nome ali. E ele temia qualquer coisa que fosse, pois pensava que estava ficando louco.

Mas, como aquele "algo" sabia seu nome para escrever no vidro?

Com certeza era fruto de sua cabeça por estar tão cansado, ou ele até estaria dormindo, aquilo era um sonho bobo. Ele repetia isso milhões e milhões de vezes em sua mente, para tentar faze-la acreditar que aquilo jamais seria real.

Encenou a volta para o quarto, tomando cuidado para não pisar em nenhum dos cacos ali deixados na cozinha pelos destroços do copo quebrado, alertando-se que limparia amanhã de manhã quando estivesse mais calmo ou quando acordasse do pesadelo se lembraria que aquilo nunca havia acontecido na realidade.

Finalmente deitado em sua cama, puxou a coberta até o pescoço e agarrou um travesseiro, respirando fundo e apertando as pálpebras como se quisesse voltar a dormir o mais rápido possível. Sentiu a cama se movimentar um pouco e um peso deitar-se contra o colchão, fazendo um mínimo barulho. Mas como a casa se encontrava em um completo silêncio, qualquer mínimo barulho trazia calafrios para o garoto.

Nem ousou olhar para traz e permitir que sua mente criasse mais uma baboseira para si. Aquilo estava indo longe demais. Ele chegava a tremer diante todo aquele frio, mesmo todo embrulhado com aquelas cobertas. Mas ele sentia falta de alguma coisa, de algo que o esquentava nas noites geladas de inverno.

O calor humano.

Era uma das coisas de sua listinha de desejos...

E era uma das coisas que ele nem sequer tinha...

Aquela noite não poderia ficar pior para ele, não é? Mas pode apostar que ficou. No exato momento que um vento forte começou a anunciar que uma breve tempestade estaria por vim.

E como ele tinha medo de tempestades! Os riscos iluminados que cortavam o céu, os barulhos estrondosos dos trovões e seu medo pela caída de raios acabava com sua mente, o deixava em completo conflito consigo mesmo.

Enquanto o mundo parecia estar acabando lá fora, o bichinho permanecia encolhido na cama, segurando os próprios braços e com um medo de tudo aquela estrutura da casa cair em sua cabeça.

Foi uma das vezes que teve medo de morrer.

Mas ele não queria morrer naquele estado.

Isso lhe trazia lembranças, as piores e mais secretas que guardava dentro de si. Ele não conseguia mais fechar os olhos e recordar daquelas noites de horror, era tão jovem naquele dia que perdeu pessoas tão importantes de uma forma tão brutal... E que anos depois acompanhou a lenta morte de seu outro ente querido, tão lenta quando torturante.

Não tinha como evitar ficar aos prantos naquele momento, ele se sentia tão só e desprotegido...

Passou as mãos contra a face tentando retirar as lágrimas que se atreviam a escorrer por seu rosto, sentindo os dedos gélidos tocar a pele ainda mais fria. Fazia alguns barulhos por causa do choro, mas implorava pela volta do silêncio.

Implorava para voltar a dormir.

Implorava para a dor sumir.

Para alguns, aquela cena poderia ser de quebrar corações, mas não havia nada a fazer.

A não ser para um único ser que o acompanhava fazer.

E ele fez.

O menor sentiu algo extremamente quente tocar suas costas, mas desta vez ao menos se importou. Se sentia completamente abandonado e quebrado por dentro que nem se importava mais com o que acontecia ao seu redor.

Parecia que braços o envolvia e o aquecia, como se algo o abraçasse e levasse todo aquele tremendo frio embora. E as lágrimas, que escorriam grossas sem piedade pelo rosto do menor, também pararam de cair no exato momento que se ouviu um breve sussurro.

"Everything will be okay... "

Uma voz branda e abafada, soou calma contra o ouvido do outro, dizendo que tudo ficaria bem.

Sentiu um tremendo arrepiou, ele nunca havia escutado aquela voz e aquele som não pertencia a nenhum de seus familiares falecidos. Era uma voz masculina, mas tão serena e gostosa de ouvir que o outro queria se pronunciar para saciar por mais, pois o mínimo de carinho que estava tendo, queria ter para sempre.

E assim, o garoto finalmente pegou no sono, depois de horas e horas com sua mente lutando para o deixar acordado e totalmente atordoado com a vida que levava. E incrivelmente desta vez ele venceu si mesmo, conseguindo dormir por breves horas.

Acordou com a luz que atravessava o vidro da janela, que tocava seus olhos e anunciava o novo dia. Com uma dor fraca na cabeça por causa do choro da noite passada, se levantou e foi se arrumar para fazer o café da manhã.

Pegou qualquer roupa que encontrou pela frente e se vestiu, ele jamais se importava com a própria aparência. Começou a guardar as cobertas e arrumar a própria cama, sabia se não fizesse, a mãe não apareceria ali gritando e tentando educar novamente o garoto.

E como ele queria deixar a cama ali, cheia de lençóis e travesseiros espalhados para que sua mãe viesse dar lhe um sermão.

Mas a cama poderia até virar pó com o passar do tempo que nada mudaria.

Ela nunca iria aparecer.

Ele nunca mais iria escutar aquela mesma voz.

E como aquilo o matava por dentro, como torturava e mordiscava os pedaços do seu coração.

Tentou parar de pensar sobre isto, se direcionando para a arrumação da cama, prestando maior atenção como ela estava mais desarrumada do que o normal.

E foi quando ele teve uma enorme e assombrosa surpresa que o deixou mais pálido do que poderia e arrepiou cada fio de cabelo que possuía.


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