Frank abriu os olhos com cautela, percebendo que agora estava em um lugar diferente do que antes acordava. Se espreguiçou um pouco na cama, agora maior do que passara as noites anteriores, se desenroscou um pouco dos lençóis e se levantou para abrir a janela.
Observou lá fora, percebeu como tudo havia ficado completamente coberto do veludo branco e como o vento que agora batia em sua face era gélido. Indicando que o inverno enfim havia chegado naquela região.
Ainda muito confuso com o que acontecia, tentou relembrar onde estava observando os detalhes de lá de fora, mas nada conseguiu. Sua mente ainda brincava consigo e o irritava sempre, ele só queria não depender das pessoas para apenas lembrar onde havia passado a noite ou onde pelo menos era sua casa.
Olhou para trás e se deu de cara com outro corpo enrolado entre as cobertas, demonstrando que havia acordado cedo demais, já que o outro parecia dormir tranquilamente.
Se aproximou do rapaz deitado na cama, afim de tentar reconhece-lo, já que não fazia ideia de quem teria passado a noite ao seu lado. Com cautela, colocou os joelhos no colchão e puxou um pouco o lençol que cobria um pouco da face do outro.
Mesmo com o mínimo movimento, fez que o outro acordasse, virando-se para o lado do menor, que olhava curioso. Mas tomou um susto ao ver a face do rapaz. Ele era totalmente desconhecido para o pequeno.
"Quem é você?" Gritou assustado, se colocando um pouco para trás, afim de se afastar do desconhecido.
"Ei, acalme-se, Frankie." O outro disse tentando controlar o pequeno, com uma clara voz de sono, se levantando aos poucos. "O médico disse que é normal você ter esses esquecimentos, shhh, vai ficar tudo bem." Completou se levantando e indo em direção ao pequeno, que apenas se aproximou ainda mais da parede logo as suas costas tentando não manter contato com o rapaz.
Acabou por esbarrar em um criado mudo próximo a si, derrubando algumas fotografias no chão. Ainda muito confuso, se abaixou e pegou um dos quadros com fotografias.
Olhou bem a imagem, percebendo que estava em uma delas, estava mais novo e em algum lugar que lembrava muito bem um parque, mas o mais esquisito para ele é que havia alguém do seu lado, com os braços voltados em seu corpo e com um enorme sorriso próximo a si.
"É você?" Perguntou, quase tendo certeza da resposta, mas mesmo assim, precisava de uma confirmação.
"Sim. Na verdade somos nós, no nosso último ano da escola. Você não se lembra?" O rapaz disse com a voz sonolenta e os olhos pesados carregados de sono, demonstrando que a noite não havia sido fácil, porém ao falar abria um sorriso cauteloso, afim de passar mais confiança para o outro e mostrar que estava tudo bem.
"Eer..." Pensou bem, fitou melhor a imagem e voltou a observar o rapaz. "Mas agora você tem cabelos grandes..." Disse mais como um pensamento, mas da altura suficiente para que o outro ouvisse.
"Sim... Ou você não gosta?" Passou uma das mãos pelos fios lisos e castanhos mais ou menos da altura de seu ombro, sorrindo um pouco sem jeito.
Frank não respondeu, agora envergonhado, passou a fitar os próprios pés contra aquele chão gélido. Tentou lembrar quem era aquele rapaz, mas não conseguia, sua mente também não colaborava e então resolveu duma vez aguentar seu passado e presente.
"Mas... Você ainda não me respondeu quem é..." O menor disse envergonhado, pensando firmemente o porquê de não conhecer alguém que parecia viver consigo.
"Eu sou o seu namorado, namoramos dês do primeiro ano do colegial. Você era tão tímido que nos tornamos amigos depois de você esbarrar em mim e pensar que pudesse te machucar, mas acabou que eu te assustei no começo, porém você continuou se esbarrando em mim, que comecei a achar engraçado."
"Você continua lindo como sempre foi, com as mesmas bochechas rosadas quando eu me atrevia a falar como eu amava tanto você e nunca te deixaria. Mas algumas coisas aconteceram depois do término do ensino médio. Você pensou estar sozinho por conta das coisas que aconteceram com sua família ao longo de sua vida, chegou até pensar que eu estava com você por conta da grana que tem." Narrou um pouco do que sabia, explicando para o menor, deixando algumas lágrimas cortarem sua pele.
"O que aconteceu comigo?" O menor perguntou curioso, mas amedrontado, confuso e também muito surpreso com as coisas que o outro falava.
"Você se afastou de mim!" O outro praticamente cuspiu aquela frase sem pena alguma em Frank, com todas as forças de seus pulmões quase caindo em prantos.
"Me desculpe! Me desculpe! Mas eu não sei por que eu fiz isso." O outro retrucou confuso, deixando algumas lágrimas também passearem por sua face.
"Você encontrou outro alguém..." Completou, desta vez deixando seus ombros mais leves, como se tivesse levado uma pancada assim que soltou suas palavras. "Esse alguém na verdade, era uma garota que sempre fora também uma das nossas colegas de escola, porém eu tive de viajar um tempo para conseguir acompanhar a banda... É, eu tenho uma banda... E quando eu voltei você acabou me contando tudo e eu enlouqueci, eu não estava aceitando perder você! E acabei indo embora e não olhando para trás... Eu juro que tentei te esquecer." A voz do rapaz agora estava falha e moída por causa do choro repentino, mas ele estava decidido que teria de continuar com toda aquela conversa, ele teria de ser franco com o outro.
Frank sentia suas pernas reclamarem por causa da posição desconfortável, o que lhe obrigou a sentar de volta a cama e observar o outro em sua narrativa de sua própria vida. O que lhe causava imensos arrepios e que só parecia piorar.
"Jamia era o nome da garota... Ela estragou nossas vidas, Fran. Ela adoeceu você! E eu não estava aqui para te salvar." Passou as mãos pelo rosto tentando controlar as lágrimas que não perdoavam uma sequer amostra de dor. "Abra a primeira gaveta que encontrará um jornal com a matéria... Ela se matou depois de perceber que estava grávida e que você não era o pai... Porque bem... Você não gosta de garotas... Mas então ela enlouqueceu completamente e fez essa enorme barbaridade, o que acabou sobrando para você... Meu pequeno, você não merecia... Eu não estava... Eu não pude fazer nada..." O rapaz voltou a se torturar com o infernal passado, agora mordendo os lábios afim de conter os soluços do choro que parecia não dar trégua, igual a dor.
"E eu acabei tentando me matar também... Porque bem, eu fui acusado de tentar matar ela... Não é? E então foi isso que me levou para aquele hospício imundo! Foi isso!" O menor gritou como se havia descoberto um mundo, mas era só mais uma prova que suas memórias estavam voltando e que ele não estava tão louco assim como os médicos afirmavam.
"Eu te tirei daquele inferno, eu consegui. Depois que eu descobri tudo, me impossibilitaram de te ver, porque seu dinheiro estava indo embora para as mãos daqueles incompetentes que trabalham naquele inferno. E eu posso ter demorado um pouco para conseguir te libertar, mas meu amor... Agora, agora... Agora nós temos as nossas vidas de volta. Apenas eu e você, e mais ninguém para nos atrapalhar." Limpou as lágrimas, vencendo toda aquela dor e conseguindo engolir o choro, para abrir um sorriso e tentar se aproximar do menor, colocando sua mão sob a do outro, que mesmo ainda não cem por cento com o assunto, não ousou se esquivar.
"Mas... Você é o Gerard, não é? Gerard Way, eu pensei que você tinha olhos verdes, era um pouco mais alto, tinha uma pele mais pálida do que esse bronzeado, cabelos negros e curtos... Mas isso nã-" O menor foi cortado assim que tentou continuar a falar.
"Gerard? Quem é Gerard, Iero? Eu sou o Jaymes. J-a-y-m-e-s. Você só pode ter confundido alguém comigo." O maior arregalou os olhos em completa confusão.
"Gerard é o rapaz que esteve comigo enquanto estive doente, é quem me tirou daquele inferno... É quem salvou minha vida... Mas, se você não é o Gee... Quem é você?!" Frank parecia ter perdido o chão naquele momento.
"Gerard Way não existe, Frank. Isso deve ter sido alguma alucinação da sua cabeça por ter sentindo minha falta todo esse tempo, meu pequeno." Disse com cautela, se aproximando ainda mais do outro e entrelaçando seus braços em volta de seu corpo, o puxando para um abraço preciso.
"Mas... Eu juro que ele existe..." Agora era a vez do menor cair em desespero e se inundar em lágrimas.
Continua...
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Insidious
Misteri / ThrillerSe você visse sua família morrer aos poucos, realmente escorregar por seus dedos e acabasse sendo torturado por uma dor sem fim, sem poder fazer nada para que mudasse o destino desta história e no final acabar sozinho mofando em uma casa fria e tota...