Estive pensando em um plano, nada disse a ninguém, nada anotei em caderno algum para que não fosse encontrado, forcei minha mente a se lembrar.
O sol começa a apresentar seus primeiros raios de domingo, e eu consigo escutar o som da televisão na sala, mesmo estando em meu quarto.
Michael está em casa.
Ontem antes de ir aos meus pais, havia conseguido pegar uma agulha a vácuo na clínica e trazido-a dentro da bolsa, bolsa branca e de pano, intencionalmente casual demais que guardava não apenas isso, mas um livro velho e marrom sem nome.
E agora, meus pés são calçados por um tênis preto, me visto de uma saia branca com babados e uma regata marrom colada com detalhes de renda nas bordas.
Passo pelos degraus, e em silêncio vejo o Afton dormindo no sofá, com o rosto contra o braço a almofada, deixando sua bochecha amassada, e um braço jogado para baixo.
Com um sorriso suave eu passei por ele e me direcionei até a cozinha procurando por sal, e então colocando-o em uma pequena sacola e amarrando dentro da minha bolsa.
De volta a sala, me abaixo ao lado do corpo adormecido e, tirando a agulha da bolsa, seguro seu braço com o máximo de suavidade que posso, sua pele contra minha mão me faz temer errar, temer que ele acorde.
A ponta brilhante se encaixa sobre a veia aparente em sua mão, e ele resmunga franzindo o rosto.
Meus olhos paralisam em sua face, pensando que o acordei, mas ele continua de olhos fechados.
E com um suspiro temeroso volto minha atenção em sua veia, puxando um pouco de seu sangue para o compartimento interno da agulha.
— Isso, ótimo. – Suspirei baixo, fazendo um carinho leve sobre o pequeno furo em sua mão quando tirei a agulha.
O sangue dele não voltou ao normal, e isso é visível através do pequeno tubo de vidro conectado a agulha, seu sangue contém um reflexo luminoso, uma mistura de roxo com preto tentando se disfarçar no vermelho carmesim.
A agonia.
Não se pode dizer que a agonia se trata de algo físico e palpável, ela se trata de uma energia emocional negativa, memórias e sentimentos, no caso do Michael, foi essa energia que o trouxe de volta, mas para isso ela se fundiu ao sangue.
Isso diz mais sobre o Michael do que o próprio elemento, é como se ele fosse um deles, dos que se recusam a morrer, e então sua agonia impregnou no sangue, um sofrimento em forma física e palpável.
Nunca vi algo igual em toda minha vida, em todos os meus anos e anos de estudo.
Contudo, pego pouco menos de um dedo de sangue, mas é o suficiente para o que eu preciso.
Ao sair e trancar a porta, jogo a chave por baixo da mesma e me coloco a caminhar pelas calçadas, levam alguns bons e bons minutos até que chego frente a casa do dito cujo William, e abrindo uma fresta pela janela dos fundos joguei-me para dentro.
Subo as escadas com um silencio ensurdecedor, não escuto nada além dos meus próprios passos e o ranger da porta do primeiro quarto que abri, um quarto repleto de brinquedos sujos e papel de parede rosa um tanto desgastada, mesmo com pouco tempo de desuso.
Se eu não sentisse sobre minhas costas o quão pesado é esse lugar, eu até poderia dizer que foi o tempo que desgastou tanto o ambiente.
Abro uma gaveta da penteadeira branca frente a janela, bem ao pé da cama, nela há laços de tons diferentes de rosa, alguns amarelos, azuis marinhos, mas pego para mim aquele o qual minha memória melhor se recorda, um laço vermelho.
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1983: O início - 𝐌𝐢𝐜𝐡𝐚𝐞𝐥 𝐀𝐟𝐭𝐨𝐧
FanfictionDurante nossa vida perdemos constantemente pessoas que amamos, mas eu não imaginava que perderia ela tão cedo, em 1983 a criança mais importante para mim morreu, talvez por irresponsabilidade minha? Nunca soube. Sou Raven Emily, quando tudo acontece...
