Cap 17 𖠌 Casa do William

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Disse a eles o endereço do Afton e assim que chegamos de frente a sua casa, ele está escorado na cerca conversando com uma senhorinha do outro lado, ele segura um prato de bolo e parece rir muito com a velhinha.

Joe parece desesperado, mesmo estando calado, ele me desce do carro e segura minha mão para ir até Michael. O longo sorriso de Michael some instantaneamente quando me vê chegando nesse estado.

— Ela tá passando mal e não quis ir pro hospital! – Joe diz.

— Estou melhorando, obrigada mesmo Joe – Minto – vá para a casa – Coloco a mão na barriga, sentindo a dor aumentar, ainda contendo as lágrimas – Eu deixei meu remédio na casa do Michael – Seguro os ombros do Michael.

— Podem ir – Michael nem percebe que aquele é um de seus amigos de infância e o outro um antigo inimigo, pois a ansiedade toma conta de suas expressões, ele começa a me levar para dentro de casa, com a outra mão ocupada com o prato – o que aconteceu, Raven?

— Eu não sei! – Digo soluçando – Mas meu abdome está doendo muito e eu vi sua silhueta caindo, parecia muito você na alucinação ou visão, eu já não sei o que é! – As lágrimas de dor escorrem pelas minhas bochechas.

— Caralho – Michael parece não saber o que dizer.

— Talvez se eu meditar – Meus soluços são mais frequentes, e de repente é como se eu fosse uma criança.

— Dorme um pouco, princesa – Ele afofou uma almofada do sofá.

— Não, não; se estou assim deve ter algum motivo.

— Você não está em estado de buscar respostas, se deite, vou procurar algum remédio que possa ajudar.

Sua voz é completamente aflita, ele me deixa a sós na sala e corre até a cozinha, possivelmente procurando algo. Minhas forças parecem viajar de trem para longe de mim.

Deito-me no sofá e meus olhos ficam pesados a cada segundo e meu corpo se arrepia de ponta a ponta pela dor. Mas mesmo assim acabo caindo no sono.

Vejo a casa do William, os corredores, dos quartos e da sala de estar onde tanto ficava e escondia as traquinagens do Michael, me lembro da televisão, do videogame, e da sala que o Sr.William não nos deixava entrar, que era onde o mesmo trabalhava.

Algumas fitas de VHS aparecem e depois tudo corta para poças d'água enquanto escuto crianças choramingando.

Enfim acordo, Michael está na outra ponta do sofá lendo um livro, eu não sabia que ele gostava de ler, e quando nota que não estou mais dormindo, ele larga o livro de lado imediatamente.

— Está se sentindo melhor? – Sua fala ainda é aflita.

— Sim, muito melhor – Minha voz sai como um sussurro.

A dor não está mais em meu corpo, mas meu coração se parte pelo sonho, os cenários no qual fui criança e me diverti, onde briguei tanto com o Michael e hoje ele já não me dá motivos para gritar com ele.

O passado é um conforto dolorido, um tempo que é guardado e esquecido. Eu desejaria novamente encobrir as merdas que ele fazia, jogar RPG em dias chuvosos e estudar bruxaria no fundo da biblioteca.

A vida adulta me frustrou tanto que acabo vivendo desejando o passado, o passado em que eu me divertia e tinha tempo para escrever.

— Que bom – Ele se demonstra aliviado.

— Qual o horário? – Minha voz é fraca de sono

— Sete e quarenta da noite, você chegou aqui às quatro e cinquenta.

1983: O início - 𝐌𝐢𝐜𝐡𝐚𝐞𝐥 𝐀𝐟𝐭𝐨𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora