Capitulo 5

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Pov. Camila

Eram por volta das oito da noite quando Sofia saiu e me avisou que não tinha hora para voltar. Fui até o quarto da minha mãe, que já dormia.

Tentei assistir à televisão, mas, como nada me prendeu, agora estou esperando Austin passar para me buscar. Preciso sair um pouco. Os empregados já estão dormindo, e a casa parece ainda maior no silêncio da noite.

As quinze para as onze, passo pelo segurança no portão, que me lança um olhar de "essa casa virou uma zona". Ele tem razão, o que posso fazer? Vovô ainda tenta pôr ordem, vovó passou alguns dias conosco, mas não é nos pressionando que as coisas vão voltar a ser o que eram; quer dizer, elas simplesmente não vão voltar.

Estou vestindo preto dos pés à cabeça, com direito a gola alta e um gorrinho que dá um toque delicado a tanta escuridão. Sou eclética em meu modo de vestir, posso ir do gótico a princesa da Disney em dois segundos. Provavelmente foi isso que me levou a cursar moda na faculdade, embora eu não veja mais sentido nisso e esteja pensando em trancar por um semestre, pelo menos.

Meus cabelos estão ondulados, inclusive os tingi de castanho-escuro há dois dias, próximo à cor original. Eu não me arrependo de ter pintado, porque minha razão era justamente querer me olhar no espelho e ver uma pessoa diferente.

Às vezes me pego pensando na motoqueira. Achei que ia passar quando mudasse a cor. É difícil não pensar, já que Sofia passa mais tempo com Zac do que em casa.

Austin estaciona o Audi A3 prata e desce para me dar um beijo rápido nos lábios. Ele é uma antítese para meus pensamentos atuais. A calça social bem passada e a camisa listrada de mangas compridas da Lacoste são o oposto da calça jeans rasgada e da camiseta preta justa que insistem em surgir em minha mente cada vez que fecho os olhos.

Ele abre a porta do carro, espera que eu entre e a fecha. Sempre o mesmo ritual. Não existe ninguém mais educado que ele. Namoramos desde que eu estava no segundo ano do ensino médio. Ele é primo do Maurício, marido da Doniya. Aliás, foi através dele que ela o conheceu. Tem vinte e três anos e já está estagiando na área de contabilidade de uma multinacional, por isso não pôde ir ao enterro, fato que ainda não perdoei completamente.

Meu pai o adorava; meu avô, se pudesse, o adotaria. Ele é o típico garoto brilhante e inteligente. Mesmo sendo novo, sugeriu muitos investimentos rentáveis à minha família. Por ele, nos casaríamos amanhã, assim como Maurício e Doniya, mas não me vejo casada tão cedo. Gosto dele, gosto muito, só não sei se estou pronta para um passo tão grande. E não sei explicar direito, mas nós nos distanciamos durante o tratamento de meu pai.

Às vezes eu converso mais com Liam, que está em outro continente, do que com Austin. Aliás, fiz algo que talvez não devesse ontem. Liguei para Liam e disse que não gosto das novas amizades da Sofia. O que posso fazer? Não gosto mesmo. Minha irmã tem voltado de madrugada para casa e muitas vezes cheirando a bebida. Não que ela fosse um exemplo de comportamento quando meu pai estava vivo, mas está ultrapassando todos os limites. Tentei conversar com minha mãe e o máximo que consegui foi que ela espera que essa fase passe um dia. Já foi muito ela ter falado.

Meu namorado entra no carro e liga o rádio antes de partir. Como sempre, na Antena 1. Seguro um resmungo. Não que eu não goste dessa rádio, mas ela só toca música antiga e me sinto com cinquenta anos, sem contar que era a preferida do meu pai. Então, qualquer intenção de tentar me distrair se perde.

— O que deu em você para me ligar tão tarde?

— Senti sua falta.

Não é completamente verdade, mas não vou contar sobre Sofia para Austin. Ele contaria ao meu avô e ainda diria que foi com a melhor das intenções.

Coração perdido (G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora