Capitulo 3

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Pov. Lauren

Um dia após o outro. Um dia após o outro. Um dia após o outro. É assim que a vida segue, enquanto você sofre, ri, chora, ama, perde. Ela não para.

Algo que aprendi ao longo desse último mês é que o tempo não é médico, ele é ilusionista. Nós não nos curamos conforme a vida passa, só nos iludimos achando que vai chegar aquele dia em que tudo será mais fácil. Então continuamos à procura do momento em que ficaremos bem, tendo a sensação de que estamos melhorando, quando na verdade só seguimos vivendo.

O tempo é capaz de deslocar as nossas dores e nos distrair com a vida que segue, mas a dor nunca some por completo. Nós a colocamos em um arquivo do coração e evitamos mexer nela.

É o que penso balançando meu pé para lá e para cá, como um pêndulo, enquanto a terapeuta do grupo de apoio a pessoas que perderam alguém tenta fazer um garoto novo falar.

Meu avô nos obriga a vir às reuniões toda terça-feira à tarde. Nós, os netos, porque minha mãe segue em uma rotina particular, que envolve ficar a maior parte do tempo no quarto. O garoto novo estava conversando com Sofia na hora do intervalo, enquanto eu falava com Austin ao telefone. Minha irmã tem um instinto acolhedor e não consegue ver pessoas sozinhas sem se aproximar.

Austin vem nos buscar mais tarde, já que Sofia caiu com a moto na semana passada e ela está no mecânico. Como ela não se machucou, não foi difícil esconder o fato de minha mãe. Afinal, minha mãe está tão alheia que, mesmo que visse a moto toda estourada, não perceberia.

Sei que ela ouviu minha discussão com minha irmã, mas infelizmente nem isso foi capaz de fazê-la reagir. Quase morri quando a vi chegar em casa com a roupa rasgada. Sofia prometeu ter mais cuidado, e eu prometi não contar nada ao vovô, pelo menos naquele momento.

Volto à atenção para o garoto moreno de cabelos cacheados e levemente compridos à minha frente.

— Prefiro não falar hoje.

A pior frase que ele poderia escolher em uma terapia.

— Por que não fala um pouco sobre você? Qualquer coisa — a terapeuta insiste, e vejo minha irmã lançar um olhar incentivador ao garoto, como se ela mesma falasse muito por aqui.

O jovem hesita, mexe na manga da camiseta comprida, dá de ombros e repete:

— Qualquer coisa?

— Sim.

— Só estou aqui porque me obrigaram. — Ele não diz isso com raiva, mas de forma tão espontânea que me rouba um sorriso. É o primeiro que confessa o que todos nós pensamos. Ninguém quer estar aqui, porque comparecer implica ter perdido alguém.

— Pode dizer outra coisa?

— Não. Hoje não. Era uma coisa só e já fiz a minha parte. — Ele balança as mãos, encerrando a questão. A terapeuta sorri. Esses sorrisos benevolentes fazem parte do que odeio na terapia. Não precisamos de pena.

Uma hora depois, somos liberados e saio para ligar para o Austin, enquanto Sofia se aproxima do garoto novo e tira um videogame portátil do bolso. Não vejo minha irmã se empolgar tanto com um amigo desde que Liam foi embora. Fico feliz por vê-la rir de coisas bobas outra vez.

Enquanto procuro sinal de celular, chuto uma pedrinha com a ponta do meu All Star preto de estrelinhas brancas, que eu mesma customizei, e ajeito minha saia xadrez de preguinhas, na altura das coxas. Ela tem três tons: rosa, chumbo e preto. Está calor hoje, então minha blusinha preta, sem mangas, completa um visual que Sofia insistiu em chamar de Avril Lavigne, só porque acrescentei meias pretas até os joelhos.

Coração perdido (G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora