Pov. Lauren
Um dia após o outro. Um dia após o outro. Um dia após o outro. É assim que a vida segue, enquanto você sofre, ri, chora, ama, perde. Ela não para.
Algo que aprendi ao longo desse último mês é que o tempo não é médico, ele é ilusionista. Nós não nos curamos conforme a vida passa, só nos iludimos achando que vai chegar aquele dia em que tudo será mais fácil. Então continuamos à procura do momento em que ficaremos bem, tendo a sensação de que estamos melhorando, quando na verdade só seguimos vivendo.
O tempo é capaz de deslocar as nossas dores e nos distrair com a vida que segue, mas a dor nunca some por completo. Nós a colocamos em um arquivo do coração e evitamos mexer nela.
É o que penso balançando meu pé para lá e para cá, como um pêndulo, enquanto a terapeuta do grupo de apoio a pessoas que perderam alguém tenta fazer um garoto novo falar.
Meu avô nos obriga a vir às reuniões toda terça-feira à tarde. Nós, os netos, porque minha mãe segue em uma rotina particular, que envolve ficar a maior parte do tempo no quarto. O garoto novo estava conversando com Sofia na hora do intervalo, enquanto eu falava com Austin ao telefone. Minha irmã tem um instinto acolhedor e não consegue ver pessoas sozinhas sem se aproximar.
Austin vem nos buscar mais tarde, já que Sofia caiu com a moto na semana passada e ela está no mecânico. Como ela não se machucou, não foi difícil esconder o fato de minha mãe. Afinal, minha mãe está tão alheia que, mesmo que visse a moto toda estourada, não perceberia.
Sei que ela ouviu minha discussão com minha irmã, mas infelizmente nem isso foi capaz de fazê-la reagir. Quase morri quando a vi chegar em casa com a roupa rasgada. Sofia prometeu ter mais cuidado, e eu prometi não contar nada ao vovô, pelo menos naquele momento.
Volto à atenção para o garoto moreno de cabelos cacheados e levemente compridos à minha frente.
— Prefiro não falar hoje.
A pior frase que ele poderia escolher em uma terapia.
— Por que não fala um pouco sobre você? Qualquer coisa — a terapeuta insiste, e vejo minha irmã lançar um olhar incentivador ao garoto, como se ela mesma falasse muito por aqui.
O jovem hesita, mexe na manga da camiseta comprida, dá de ombros e repete:
— Qualquer coisa?
— Sim.
— Só estou aqui porque me obrigaram. — Ele não diz isso com raiva, mas de forma tão espontânea que me rouba um sorriso. É o primeiro que confessa o que todos nós pensamos. Ninguém quer estar aqui, porque comparecer implica ter perdido alguém.
— Pode dizer outra coisa?
— Não. Hoje não. Era uma coisa só e já fiz a minha parte. — Ele balança as mãos, encerrando a questão. A terapeuta sorri. Esses sorrisos benevolentes fazem parte do que odeio na terapia. Não precisamos de pena.
Uma hora depois, somos liberados e saio para ligar para o Austin, enquanto Sofia se aproxima do garoto novo e tira um videogame portátil do bolso. Não vejo minha irmã se empolgar tanto com um amigo desde que Liam foi embora. Fico feliz por vê-la rir de coisas bobas outra vez.
Enquanto procuro sinal de celular, chuto uma pedrinha com a ponta do meu All Star preto de estrelinhas brancas, que eu mesma customizei, e ajeito minha saia xadrez de preguinhas, na altura das coxas. Ela tem três tons: rosa, chumbo e preto. Está calor hoje, então minha blusinha preta, sem mangas, completa um visual que Sofia insistiu em chamar de Avril Lavigne, só porque acrescentei meias pretas até os joelhos.
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Coração perdido (G!p)
FanficLauren teve as pessoas mais importante de sua vida mortas em um acidente de carro. Camila perdeu o pai e está com problema na família. Lauren é a pessoa que Camila deveria afasta. Lauren não gosta do tipo de pessoa que Camila convive. Elas são diver...