Capitulo 17

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Pov. Camila

Fecho a porta depois que Lauren sai. Dinah deve chegar em breve.

Vou a passos lentos até a cama de minha mãe e acaricio seus cabelos.

Ela continua dormindo, mas cortaram os sedativos. Espero que acorde logo. Deitada assim, ela é uma triste versão da Bela Adormecida esperando por um príncipe que nunca virá.

Caminho até a janela e lá embaixo vejo Lauren saindo do hospital com o capacete na mão. Meus dedos tocam o vidro frio, que logo fica marcado por minha respiração.

Lauren se afasta cada vez mais até sumir de vista. Eu me viro para minha mãe. Lanço um olhar para a janela. Seguro sua mão fria. Penso se ela vai ficar bem. Penso se Lauren vai ficar bem. Quero soltar suas amarras.

Preciso soltar as amarras que prendem as duas.

Mesmo vindo de mundos tão diferentes, minha mãe e Lauren são iguais. Ambas desesperadas para mandar a dor para longe, sem perceber a dor que estão causando às pessoas à sua volta.

Meu pai costumava dizer que só sabemos o tamanho de nossa força quando passamos por uma dificuldade. Tenho medo do que vou descobrir até tudo isso terminar, mas não quero abandonar nenhuma delas. Sempre fiz qualquer coisa por minha mãe, e não conseguiria me afastar de Lauren. Duas batidas na porta e Dinah entra, trazendo um milk shake para mim.

— Como você está? — Ela me dá um abraço forte demais para alguém que parece tão frágil.

— Tentando ser forte. — Bebo um gole do milk shake.

— Lembra que o seu pai dizia que, se a gente tentar com muita vontade, não tem como não conseguir? — ela pergunta, apertando o pingente de cristal de seu colar, presente de meu pai quando ela fez quinze anos.

— Lembro sim. — Dou um sorriso triste.

O pai de Dinah se separou de minha tia quando ela e seus dois irmãos eram crianças. Depois disso, eles nunca mais se aproximaram. É por isso que a opinião de meu pai e de meu avô sempre foi muito importante para ela.

— Sua mãe está fora de perigo? — ela indaga de repente, estreitando os olhos. Sinal claro de que quer verificar se está tudo bem para poder me perguntar outra coisa.

— Está. Tem um caminho complicado pela frente, mas está.

Nós nos sentamos no sofá e ela me examina. Aperta os lábios pensando nas palavras certas, até que não se aguenta:

— Você tá namorando a motoqueira tatuada? — Seus olhos brilham.

— Essa é uma pergunta que eu não sei responder. A palavra namoro nunca surgiu. — Passo a mão por minha roupa enquanto falo, percebendo que amassou bastante ao longo do dia.

— Mas vocês estão juntas?

— Sim. — Um sorriso escapa quando confirmo.

— Ai, caramba! O vovô vai morrer! — Dinah diz e logo percebe que escolheu mal as palavras, ao lembrar que minha mãe está bem ali, apagada. — Desculpa. — Tudo bem. Ele vai morrer mesmo. Mas não de um jeito horrível...

— Refiro-me à morte de verdade. — Pensando bem, vai ser sim de um jeito horrível. Ele vai ter um treco.

— Isso é ótimo. — Ela suspira de alívio e se joga para trás, me surpreendendo.

— Como é que é? Você quer que o nosso avô morra e depois me mate? Assim, nessa ordem mesmo? Porque é a cara dele vir com uma lição de moral. Ele pode, os homens da família podem, nós não. Somos donzelas indefesas a ser protegidas. — Balanço as mãos, imitando o jeito do vovô de falar.

Coração perdido (G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora