A água gelada que caía do chuveiro batia com força em minhas costas, as ricocheteando.
Os cortes, feitos por deitar nos cacos de vidro, já estavam cicatrizando. Sempre tive algum dom para curativos.
Pelos meus pensamentos já se passara a hipótese de ajudar as pessoas, talvez me tornar um médico.
Eu não pude salvar a vida dos meus pais, então poderia salvar outras vidas.
Mas eu não me sentiria bem assim, não me sinto bem assim. As pessoas são desumanas para mim, são somente carne e osso. Somente sentimentos falsos.
Então a vingança caiu melhor, acabou se ajustando à minha vida. A vingança me deixou rico, mas não era como se eu usasse todo esse dinheiro.
O prazer de ouvir as pessoas tão frágeis pedindo por sua morte era maior. Era maior que qualquer amor, qualquer paixão ou amizade. Maior que o dinheiro.
Como eu sou uma ótima pessoa sempre concedi os pedidos das pobres almas.
Já estávamos de noite e Louis não chegava, eu estava preocupado, meu coração passara o dia disparado e minhas mãos suando como nunca.
Só espero que ele não tenha visto a reportagem.
Suspirei fundo e saí do pequeno cômodo, deixando apenas uma toalha enrolada em minha cintura.
Senti um arrepio passar pelo meu corpo e a porta se abriu. O garoto havia chegado.
Continuei com meu corpo virado para as escadas, não olhando em seu rosto, eu não podia olhá-lo.
- V-você foi embora. - Sua voz estava ainda mais fraca e eu podia sentir seus passos cada vez mais próximos de mim.
- E-e-eu...
Fui interrompido por uma mão em meu braço, seu resto de força forçando-me a encará-lo.
- Você. Me. Deixou. Sozinho. - Seus olhos estavam vermelhos e havia somente uma camisola de hospital em seu corpo.
Suas cicatrizes com grandes pontos bem feitos estavam expostas. Seu rosto não tinha cor, somente branco, seus lábios do mesmo jeito.
- E-eu... - Tentei novamente, mas ele negou com a cabeça.
- Eu não quero ouvir suas explicações.
A mágoa estava estampada em seus olhos, estava clara em seu corpo frágil. A raiva estava ali também e por um momento eu realmente senti medo da minha vítima.
Ele virou-se de costas, deixando meu corpo grudado ao chão. Meus pés não se movimentavam, meu cérebro não atendia aos meus comandos.
- Não gosto de hospitais. - Foi tudo que saiu de meus lábios.
Seus passos foram diminuindo a velocidade e quando chegou à mesa da cozinha, jogou tudo que ali havia no chão.
Copos e pratos voaram contra a parede, restos de comida encontrando a madeira fria.
- Você não gosta de hospitais? - Sua voz era calma e pausada, em som de deboche, havia até mesmo um sorriso em seus lábios.
Ele virou-se para me encarar novamente e eu pude ver seus olhos queimando em fúria, um tom tão forte de azul que poderia ser facilmente confundido com preto.
Seus pés movimentaram-se em minha direção e ele parou na minha frente.
Meu olhar estava no chão, eu apenas encarava o nada pensando em como me sentia mal por tê-lo deixado.

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circus » larry
Fiksi PenggemarOlhos verdes e expressão ingênua, para os outros um simples palhaço abandonado pelo circo, para si mesmo um assassino em série em busca de vingança pela sua família. Louis será apenas uma vítima?