Acordei nua. O edredom não estava apenas fora, mas do outro lado do quarto, o lençol embolado como se eu estivesse tentado assassiná-lo. Meu corpo todo estava úmido e grudento. Eu devo ter me remexido muito e tirado o restante da roupa durante o sono. Seria alguma virose? Isso seria péssimo. Me levantei para tomar um banho e me arrumar para o trabalho. Peguei minha mochila o celular e sai. Entrei na loja e Adam já estava lá, e as coisas já estavam organizadas.
— Bom dia. - falou, e acredite por um instante aquele canto superior esquerdo subiu, mas então ele alargou o sorriso e as covinhas ficaram mais profundas. Os olhos estavam cheios de alegria.
— Bom dia. - respondi sem jeito me lembrando da noite anterior.
— Melhorou? – puxou a minha mão e avaliou o meu rosto a procura de algum hematoma. Me remexi nervosa e forcei um sorriso, só de estar próxima a ele todas as minhas células estavam se agindo por todo meu corpo.
— Sim, dói um pouco mas, vou sobreviver.- sorri e entrei na sala dos fundos. Adam me seguiu e coçou a cabeça meio sem jeito, nervoso assim como eu.
— Se quiser descansar ai, fiquei a...
— Não. Eu estou bem. - sorri.
Fiquei a tarde ali apenas ouvindo música, peguei um dos quadrinhos que havia ali e comecei a ler enquanto cantarolava Californication. Mal tive tempo de me recompor quando ouvi a voz de Jason.
— Oi.- falei sem jeito. Olhando para ele agora, depois do beijo do Adam eu notei que não havia tanta beleza assim, apesar de ainda ser um gostoso.
— Oi. - ele sorriu e arcou ficando de frente pra mim. — Hoje eu vou fazer uma coisinha lá em casa, aparece por lá.
Assenti, e ele sorriu. Dando um beijo em meu rosto ele se retirou da loja, segurando minha felicidade entrei na sala dos fundos e tomei um copo d'água. Adam me olhou curioso.
— O que foi?
— Jason é... maravilhoso.– falei me abanando com a mão.
— E daí? - falou grosso.
— E daí, que ele me chamou pra ir na casa dele. – me joguei no sofá ao lado dele e senti novamente todo aquele nervosismo tomar conta de mim e me recompus, olhei para o filme sangrento que ele assistia e fiz uma cara de nojo. — Que filme é esse?
— Sei lá.- disse colocando em Bob Esponja. — Melhorou?
— Sim. - sorri.
Como era fim de semana raramente alguém aparecia na loja, me deitei no sofá e fiquei ali assistindo TV e ás vezes eu ia lá na frente ou pegava algo para comer ou beber. Adam estava deitado no chão às vezes ele me olhava e quando eu o pegava olhando para mim seus olhos se desviavam dos meus.
Eu estava com tanto sono que estava quase dormindo ali.
— Adam?
— Fala. - falou tão preguiçoso quanto eu.
— Quem eram aqueles caras de ontem? - ele se sentou e me olhou, seus olhos estavam na altura dos meus, sua expressão séria. Seus cotovelos apoiados no joelhos enquanto eu continuava largada no sofá .
— Eu não posso falar... É complicado.- ele tentou dar um sorriso para disfarçar. — Mas, assim que eu estiver...um pouco livre de toda essa sujeira no qual eu me meto eu te conto.
—Você se meteu com drogas ou matou um traficante? - brinquei.
Ele apenas riu e olhou para a Tv, algo me dizia que eu havia acertado. Lembrei da noite em que ele me disse que apenas arrumava encrenca com quem não devia. Me levantei resmungando pela dor que senti, não era uma dor forte, mas incomoda.
— Estáa tudo bem? - ele me olhou preocupado.
— Sim,estou apenas apenas um pouco dolorida... o soco de ontem foi forte. – vi a expressão dele ficar séria.— Mas botei ele pra correr.
Ele riu. Peguei minha bolsa e me virei para ir embora, era estranho. Todos temiam aquele garoto e no entanto ele não tinha o que se temer. Aquela onda de marrento era apenas com pessoas que ele queria impressionar.
— Clarice?
— Oi. - me virei para ele colocando meu casaco. Queria que ele me beijasse como ontem, e tenho certeza de que ele também queria, mas não fez nada.
— Eu... - ele se levantou , e encostou na porta. Fiquei esperando alguma reação dele, mas ele apenas ficou parado. —...me desculpe pelo beijo de ontem.
— Ah...– eu não consegui entender , primeiro ele me dava o melhor beijo que eu já havia recebido e agora me pedia desculpas? — Não devia ter acontecido mesmo, eu entendo. Até amanhã.
Segui de volta para a casa e me deitei um pouco. Aquela cena do beijo com Adam não saia da minha mente, eu queria outro beijo e jo entanto ele estava arrependido por isso. Que diabos estava acontecendo com ele? E comigo, principalmente. Jason era bonito e tudo mais mas, a idiotice dele tentar ser melhor que todos me irritava. Olhando para o relógio decidi fazer algo para comer, preparei um quiche e me sentei na frente da tv, peguei um analgésico e tomei, talvez deitar fizesse aquela dor sumir. Me estirei na cama e fiquei olhando para o teto. Mais uma vez senti falta da minha irmã, se ao menos ela estivesse aqui. Fechei os olhos e deixei aquela lembrança fluir.
Aquele era mais um verão arrastado, como uma tradição da família nos reunirmos na cachoeira. Mas naquela tarde apenas Clara e eu estavamos lá. Ficamos deitadas aproveitando o último raios do sol e a brisa suave, já mais imaginaríamos que logo tudo mudaria, mas o sorriso dela. Todo aquele afeto que tínhamos uma com a outra, ela não era apenas uma irmã e sim minha melhor amiga. Um estalo na janela me fez levantar assustada.
Olhei para o vulto que pulou para dentro do meu quarto, já me preparava para gritar quando ele sorriu.
— Booo!-gritou e riu ainda mais.
— Droga! - resmunguei. — Que merda você pensa que está fazendo?
— Eu queria te ver. - se levantou e sentou-se na minha cama. Olhei para fora da janela a procura de uma escada e não encontrei.
— Como você subiu aqui? -perguntei incrédula.
— Pela calha. - tirou o moletom.
— Isso é perigoso você podia...
— Fica calma.- virou a aba do boné para trás e apoiou os cotovelos no joelhos. Um sorriso perfeito surgiu em seus lábios me fazendo arrepiar. — Já fiz muito isso para fugir escondido.
— Ah. - foi tudo o que eu disse.
— Seu quarto até que é...normal.
— Normal?
— Sim sem frescuras de rosa, maquiagens...essas coisas.
Assenti ainda nervosa com o fato dele estar ali. Fiquei calada durante alguns segundos, ele olhava tudo ali. Os pôsteres, meus ursos de pelúcia e por fim seus olhos pousaram em mim. Me joguei em poof vermelho ali e disfarcei meu nervosismo, olhando para minhas unhas.
— E então...O que fez você invadir meu quarto?
— Me desafiaram a roubar uma peça íntima sua. -ele riu.
Fiquei corada. Podia até me imaginar como um pimentão.
— Acho melhor você ir, daqui a pouquinho meu pai chega e se ele ver você aqui vai...
— Eu realmente não consigo entender o que me deixou atraído por você.— falou sem rodeios se levantando e caminhando pelo meu quarto. — Eu não costumo perseguir garotas nem sentir ciúmes delas, mas com você... não consigo entender. Eu não consegui me expressar direito sobre o beijo de ontem, eu não me arrependo de ter te beijado é só que...
— Isso deve ser passageiro. - tirei um porta retrato das suas mãos antes que ele quebrasse. Ele riu, coloquei-o de volta no lugar. — Dorme que passa.
— Se eu dormir com você passa?- disse prensando seu corpo ao meu. Não me virei, seu nariz fungou em meu pescoço e eu me encolhi. Suas mãos lançaram minha cintura, e um riso abafado escapou quando eu me arrepiei.
Retomei meu controle e me afastei dele, caminhei até a porta pronta para sair quando ele me segurou. Olhei para seus olhos e tentei me soltar.
— Saia! - falei com a voz firme e ele riu.
— Só mais um beijo e eu prometo que saio. - me apertou contra seu corpo.
— Não... Eu... Só saia,Adam!- respirei fundo.
— Ta bom. - ele me soltou e eu relaxei.
Fui puxada antes de ter minha boca esmagada pela sua, lutei contra socando seus ombros e tentando me soltar. Aos poucos fui sentindo a maciez de seus lábios e quando sua língua tocou a minha, um nó se formou na boca do meu estômago. Envolvi minhas mãos em sua nuca e compartilhei aquele beijo. Percorri a extensão de seus ombros sentindo os músculos duros, não cessamos o beijo quando caímos na cama. Ele rolou por cima e eu pude olhar no fundo de seus olhos. Empurrei seus ombros recuperando o pouco de sanidade que ainda me restava.
Ajeitei a alça da minha camisa e olhei para o sorriso idiota dele.
— Acho bom você ir embora antes que eu...- falei ofegante. As palavras não se formavam em minha cabeça.
— Você o que? - ele se levantou sorrindo.
— Eu...eu...
— Eu...eu... Você o quê?– tirou uma mecha de cabelo do meu rosto e sorriu, percorreu levemente o nariz pelo meus rosto e continuou:— Eu quis tanto te beijar desde o momento em que te vi no meu quarto, então ontem surgiu a oportunidade e eu não podia deixar passar. Tem ideia do quão doloroso é te querer e não poder? Te ter todos os dias ao meu lado na loja e não poder tocar em você?
— Isso é um erro.– sussurrei com os olhos em seus lábios.
— Talvez não. – empurrei seus ombros e me levantei, me recompondo. Adam continuava sentado com os olhos em mim, parecia uma fera mansa agora, não estava tão assustador como antes.
— Acho melhor você ir embora, não quero que meu pai o veja ...
— Ok.– se levantou e veio em minha direção, não queria olhar em seus olhos então mantive a cabeça baixa enquanto tentava acalmar minha respiração. — Olha para mim.– pediu. — Por favor.
Olhando em seus olhos agora eu vi minha rendição, quando busquei sua boca novamente. Um beijo calmo e tranquilo enquanto sua mão subia e descia pelas minhas costas, quando sua mão aperto minha coxa e me levantou eu apenas me segurei ainda mais firme em seu corpo. Me colocando sobre a cama ele continuou o beijo, apenas o beijo. A necessidade do toque apenas , suas mãos estavam calmas ao meu lado impedindo que seu peso me esmagasse e quando ele se afastou eu resmunguei involuntariamente.
— Acho melhor eu ir. – sussurrou.
— Sim, eu acho que seja. – não conseguia afastar meus olhos dele, cada vez mais eu podia sentir uma força que me puxava para ele.
— Poderia me convidar para invadir seu quarto mais vezes. – sorriu sugestivo aplicando um beijo em uma das minhas mãos. — Até mais minha dama.
Me deitei na cama e esperei que ele saísse para fechar a janela. Coloquei os dedos sob os lábios e fechei os olhos. Pude sentir minhas entranhas pedindo por mais, mas tentei recuperar o controle, olhei para o moletom em minha cama e sorri. Isso jamais iria se repetir, por mais que eu desejasse, ele tinha namorada que era a irmã do cara que eu estava afim. Mas há altura do campeonato nem sei mais o que eu desejava para mim.
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Verdade ou Consequência? (TERMINADA)
FanfictionMuitas vezes um jogo pode passar dos limite e a verdade pode ter mais consequências que o suportável. Eai! Verdade ou Consequência? Leiam também a sequência, Silencie . *.*