Capítulo 12

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Acordei com muita dor no dia seguinte, por mais frio que estivesse eu me sentia quente. Muito quente. Ao meu lado, Adam dormia calmamente, seus braços estavam em torno da minha cintura. Sua aparência era tranquila e calma, seu peito subia e descia lentamente. Não estava agitado, muito menos assustador. Por uma fração de segundo me permiti a observá-lo durante seu sono, com o dedo indicador desenhei seus traços. Começando pelo contorno do rosto, seguindo para a sobrancelhas e descendo pelo pelo seu nariz, eu ri quando ele remexeu o mesmo. Então fiz o contorno da sua boca, fina e reta. Era bobo, eu sei, ainda mais depois de tudo que tive que passar mas, nada me vinha a mente além de sua perfeição. Demorou alguns segundos antes que ele abrisse os olhos, bocejando.Logo mais aquelas safiras focaram em mim e um sorriso surgiu.
-- Bom dia.- murmurou depositando um beijo em minha testa.
-- Bom dia. - sorri. Me sentindo bem mais segura em seus braços.
-- Essa cama é desconfortável demais. - resmungou enquanto se levantava, apoiando uma mão na coluna e resmungando quando se alongou. Eu ri daquela cena. -- Ta rindo de que? Você ronca muito,
sabia?
-- Eu...- comecei a gargalhar alto. Ele me acompanhou o que deu início a um momento descontraído. --...Eu não ronco, Adam!
-- Ronca sim!- contestou. Fiquei calada enquanto os espasmos do riso iam embora, dando início à um breve silêncio desconfortável entre nós. Sabia que teríamos que ter uma conversa sobre o que houve mas, aquela era uma coisa que eu não queria fazer. Me afastar dele. Queria descobrir o motivo que o tornava tão assustador assim, o que ele tinha com aqueles sujeitos. Precisava saber mais sobre ele, tudo o que eu sabia até agora era que ele estava encrencado e em uma encrenca das enormes. -- Eu...sinto mui...
-- Não foi sua culpa, Adam.- intervi. -- O que aconteceu ontem foi...
-- Por que você se aproximou demais de mim.- me interrompeu, seus punhos cerraram-se ao lado do corpo.-- Eu nunca me perdoaria se algo te acontecesse.
-- Mas não aconteceu.
-- Acho que me afastar de você é a melhor coisa que eu tenho a fazer. - assenti calmamente. -- Eu não quero que...
-- Com licença, senhorita Westerfield.- um homem alto e jovem entrou no quarto. Era muito bonito por sinal, tinha belos olhos castanhos claros. Tinha os cabelos louros e curtos na nuca,mas deixando um certo comprimento no alto, fazendo com que alguns fios caísse sobre sua testa. Tentei não reparar muito, mas era quase impossível, ele também me avaliava. Pude ver isso pelo modo como sorriu depois que eu ajeitei o cabelo. -- Sou o Tenente Lavelle, senhorita. A polícia foi acionada pelo o lamentável ocorrido, e eu preciso colher algumas informações, tudo bem?
-- Ah, claro. - me ajeitei na cama.
-- O senhor se importa de nos deixar a sós?- Adam olhou para ele e empinou queixo, os dois se encararam por alguns instantes. Então Adam se aproximou de mim e me deu um beijo no topo da cabeça, logo mais ele saiu. -- Bom, muitas vezes as vítimas se incomodam em ter que contar tudo, mas quero que saiba que eu estou aqui para te ajudar, não se sinta forçada a falar.- assenti e ele sorriu novamente. Então puxou uma cadeira para o lado da cama-- O que você se lembra de ontem?
Eu não podia dizer a verdade, Adam estaria ferrado assim. Teria que enfrentar um julgamento com aqueles caras, e isso não era bom. Eu definitivamente não podia falar a verdade, tinha que inventar algo.
-- Eu estava voltando para casa ontem, como sempre eu fazia o mesmo caminho eu...- sim, era desconfortável falar sobre o que houve, ainda mais lembrar de tudo o que passei. Tinha certeza de que toda a dor que senti, naquele momento duraria para sempre, esses momentos, as cicatrizes que ficariam em minha pele, me lembrariam deste dia para sempre.--...senti que alguém me seguia. Eu não parei para ver quem era apenas, continuei andando em frente.
-- Você não se lembra de alguma característica dele? Não sabe se já havia visto ele em algum outro momento?- neguei com a cabeça enquanto brincava com o lençol. Meus dedos demonstravam toda o nervosismo que eu sentia naquela hora.
-- Eu fui abordada pelas costas, como era tarde não havia ninguém na rua, ninguém pode me ajudar. - "Vai ser uma pena ter que machucar uma coisinha tão bonita como você ." , lembrei daquelas palavras e logo um lágrima desceu pelo meu rosto. -- Lembro que senti, algo em minha cintura.- olhei para ele e vi que ele anotava tudo em um pequeno caderno de anotações, mas sempre me olhando. O tempo todo, seus olhos chocolates exibiam toda a compaixão que ele sentia.-- Não sei dizer se era uma arma ou uma faca, mas me assustou. Fui arrastada para o beco e...
Eu não conseguia continuar. Meu peito doeu com a lembrança, e o ar faltou como se eu ainda pudesse sentir aquela dor. Cobri meus olhos com o braço e tentei controlar os meus soluços, ainda parecia inacreditável isso que havia acontecido. Apertei a mão sobre o peito, sentindo todo aquele medo novamente.
-- Eu pedi pra ele me soltar, mas tudo o que ele fez foi me dar um tapa.- de repente vi que não estava mais falando o que devia e sim o que eu sentia. Tudo o que senti naquela hora.-- Logo depois senti mais dor ainda, ele me batia como...como...como se estivesse punindo alguém. Eu me sentia acuada, não havia nada que eu podia ter feito. Nada impediu aquele homem de... Aí meu Deus! - apertei ainda mais a roupa do hospital. Seu olhar estava fixo em mim, seu maxilar apertado, e para a minha surpresa ele segurou a minha mão e deu aperto suave.
-- Não estou aqui para te forçar a nada, quero apenas te ajudar.- sorriu afetuoso.-- Me fale sobre o sujeito que te abordou.
-- Eu não... Eu não... Não consegui ver o rosto dele. - gaguejei. -- Em momento algum ele me deixou olhar para ele, mas me lembro da sua voz.- ele assentiu e anotou. -- Sorte de estar viva, foram essas palavras que ele disse antes de me largar na rua. O Tenente me olhou e exalou alto, por fim ele enfiou a mão no bolso do casaco que usava e tirou um cartão de lá, e me entregou. -- Eu acho que hoje não é o melhor dia para falar com você, então me liga caso se lembre de qualquer coisa.
-- Pode deixar que eu aviso, Tenente Lavelle- enxuguei meu rosto antes de pegar o cartão.-- Desculpe se eu...
-- Não se Culpe,Senhorita.- sorriu.-- Passo por isso quase todos os dias, às vezes é preciso muita calma pra não enlouquecer.- sorri enquanto limpava o rosto.-- Minhas melhoras à você e...- seu sorriso aumentou.-- ...espero que saia logo daqui.
-- Obrigada.- assentindo com a cabeça, não deixando de me lançar um sorriso, ele saiu do quarto.




Permaneci sozinha após o horário de visitas, meu pai estava muito preocupado. Não parava de verificar meus equipamentos, Clara só ficava ao meu lado e o Adam...Bom, ele foi embora após a visita do Tenente Lavelle. Mal via a hora de sair daquele lugar, aquele cheiro de hospital estava me deixando enjoada. Eu mal podia me virar na cama sem sentir alguma dor, parecia que um caminhão havia estacionado em cima de mim.
Eu não conseguia pensar em outra coisa se não em Adam, eu não só queria como precisava descobrir o que ele tinha com aqueles homens. O modo como ele disse que eu devia me afastar, não era o que ele queria. Pelo menos eu acreditava que não, mas no momento este era o menor dos meus problemas. Eu tinha que me aproximar dele sem que ele soubesse e aquele velho descobrisse.
Por hora, vou me afastar. Mas logo saberia tudo o que devia saber, se o próprio Adam não me conta. Eu procuro saber.
-- Me aguarde!- murmurei sorrindo.

Verdade ou Consequência? (TERMINADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora