Capítulo 18

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Lá estava eu ensinando tudo o que sabia sobre física ao Jay, ele aprendia rápido, o que eu pensava que iria durar o dia todo, durou apenas algumas horas.
Alguns dias já havia se passado e eu estava me preparando para a prova final, e como ele queria ajuda. Nada melhor que unir o útil ao agradável. Enquanto eu explicava as variações de tempos e tudo mais, ele prestava atenção sem tentar nenhuma gracinha, e eu estava realmente feliz com aquilo.
-- Você é um cara muito inteligente, Jay. - comentei. E seu sorriso surgiu, perfeito e convencido. -- Devia investir nisso.
-- Não acho que seja necessário. - esticou os braços e os colocou atrás da cabeça. -- Eu tenho um grande futuro como jogador de basquete. O treinador disse que se eu ....
-- Mas e se não der certo? O que você vai fazer?
Sua expressão relaxada tornou-se sério, pensativo. Seus olhos focaram nos meus e por uns minutos intermináveis ele permaneceu assim.
-- Eu não sei. - esfregou as mãos, provável provavelmente suadas, na bermuda jeans. -- Nunca pensei nisso.
-- Eu sempre achei muito estranho, você ganhar uma nota automática só por comparecer nas aulas.- sorri.
-- Como assim?
-- Bom, se você não precisa se esforçar nas aulas, e sim no basquete, quando algo acontecer e basquete não for mais uma opção, o que te resta? Nada. Porque o seu tempo é agora, tempo de investir em você e não em uma incerteza.
-- Você tem razão. - ele pensou um pouco.
Foi um gesto sem malícia e segundas intenções, segurei uma de suas mãos apenas para lhe passar um pouco de segurança. Seus olhos permaneceram em mim, e um sorriso fraco surgiu.
-- Não deixe que seu tempo passe. Invista em algo concreto, algo que te passe segurança. Não se agarre em incertezas.
-- Acho que tenho que começar a ver isso, realmente eu nunca vi por esse lado. - soltei sua mão. -- Mas por agora, não sei você , mas eu estou repleto de fome. Que tal um lanche por minha conta?
-- Uma ideia tentadora.

Nos sentamos na praça enquanto, eu observava as crianças no parque ele falava com alguém no telefone. Enfiei uma batata frita na boca, logo ele se juntou a mim dando uma grande mordida em seu cachorro quente. O vento soprou leve e trouxe um cheiro de margaridas e grama recém-cortada.
E não muito longe dali,podia se ouvir o som de um cortador de grama.
-- Você parece distante. - fui tirada daquele momento de paz. Sorri e enfiei uma batata na boca. -- O que houve com você aquela vez?
-- Então, você não soube?- remexi no banco desconfortável com o rumo daquela conversa.
-- Ouvi boatos.
-- Eu estava voltando pra casa naquela tarde e uns caras me abordaram, e...bom, você sabe.- suspirei e olhei em seus olhos. -- Fui espancada.
-- Eu sinto muito.- murmurou e me puxou para um abraço que eu retribui agradecida.
-- Está tudo bem, agora.- pelo menos eu acreditava que sim. Ou me fazia acreditar que sim.
-- Eu sabia que aquele tal do...
-- Jay, eu não quero falar sobre isso. - suspirei. Ele assentiu, aproveitei que seu olhos haviam se afastado de mim eu apenas enfiei outra batata na boca.
-- O que acha de jogamos uma partida de basquete?- sugeriu sorrindo.
Olhei para a quadra vazia e sorri. Me levantei de imediato e corri para quadra, podia ouvir seus passos atrás de mim, sua risada sonora e sua respiração acelerada.
-- Quem fizer vinte e um pontos, primeiro ganha.- assenti.-- Damas primeiro.
Peguei a bola e lancei ela na cesta, ponto perdido quando ele pegou a bola no ar e a enterrou na cesta. Ainda rindo eu fui atrás dele tentando tirar a bola de suas mãos, mas tudo o que conseguia era deixar que ele fizesse mais alguns pontos.
Os minutos haviam se passado e tudo o que eu consegui foram oito miseros pontos, enquanto ele estava a quatro pontos da vitória. Peguei a bola e driblei ele, gritei quando suas mãos agarram minha cintura e juntos caímos no chão. Eu não conseguia parar de rir, ao meu lado Jay gargalhava e seu corpo sacudia.
-- Trégua!- gritei. -- Desisto!
-- A partida tava começando a ficar interessante!- se levantou me puxando junto. -- Acho bom irmos, o sol já está sumindo.
-- Boa ideia!
-- Mas antes.- olhei para seu rosto e percebi, que ele não era tão idiota assim. Ainda sorrindo ele me puxou para um beijo.
Sua boca era macia, e quando senti sua língua pedindo passagem, eu cedi. A todo momento suas mãos permaneceram em torno da minha cintura. Já as minhas mãos estavam presas entre nossos corpos.
Minha adolescência fazia parte daquele momento, eu podia lembrar de cada olhar apaixonado no intervalo, dos sorrisos trocados e de cada batida acelerada do coração quando ele falava comigo. Mas, agora, neste exato momento não era aqueles lábios que eu queria, não era aqueles bracos em torno de mim que eu queria. Não era ele que eu queria.
Uma dor atingiu meu peito, me afastei dele. Limpei a lágrima solitária que corria meu rosto.
--Me desculpe.- murmurei e me afastei com passos largos.
-- Eu levo você embora.- me acompanhou.
-- Não, Jay! Eu vou sozinha. Te vejo amanhã. - pendurei a bolsa sobre o ombro e sai apressada dentre as pessoas no parque.

Verdade ou Consequência? (TERMINADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora