Capitulo 14

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Saltei do ônibus no centro de Yarvil, perto da avenida periférica e do principal calçadão do comércio local, e, fumando os cigarros que Sebastian havia enrolado, sai andando em meio às pessoas que faziam compras. Meu foco estava no restaurante mais a frente, mesmo longe eu podia ver os seguranças pessoas já em pé, quanto mais eu me aproximava mais eu podia ver daquele cretino, velho, filho de uma porca.
Minha vontade era de quebrar a cara dele, mas eu acabaria morrendo junto com ele e deixando a Clarice sem proteção alguma. Então apenas deixe que a corrente me levasse, logo eu poderia dar um jeito nessa situação.
-- Parece que meu pequeno Adam esta com raiva. - zombou soltando uma de suas risadas sarcásticas. -- O que aconteceu?
-- Diga logo o que temos que fazer, meu tempo é muito precioso. -respirei fundo.
-- Paciência é uma virtude, meu caro.- um de seus capangas retirou uma pasta preta de uma bolsa e me entregou. -- Estude esses papeis que assim que tudo estiver confirmado, você irá saber.
Olhei para a pasta e abri , logo na primeira folha já percebi que se tratava de um assalto. Havia mapas de corredores, tubulações e ruas para fugas. Respirei fundo e assenti, ao meu lado Sebastian parecia tão nervoso quanto eu, podia ver em seus olhos o quanto ele lamentava o ocorrido com a Clarice.
Sem ao menos uma palavra me virei e o deixei para trás, logo ouvi um a risada amarga.

Clarice pov.

Mal conseguia acreditar que já estava indo embora daquele hospital, ainda estava com tipóia e alguns hematomas pelo corpo que haviam começado a clarear. Mas me sentia bem melhor, exceto pelo fato de que o medo e o trauma que havia em mim, não parecia ter mudado. Ainda havia medo de qualquer e todos os carros de vidro fumê que se aproximavam de mim ou até mesmo dos homens engravatados que passavam na rua.
-- Bonitinha!- sorri para Sebastian que se aproximava de mim com uma rosa vermelha na mão. -- Bom ver que você está melhor. -- olhei por cima do ombro dele esperando que alguém surgisse, mas não vi ninguém. Então ele me olhou de forma carinhosa e sorriu fraco. -- Adam não pode vir e...
-- Ele não quis vir, eu sei.- peguei a rosa de sua mão e sorri. -- Obrigada pela gentileza.
-- Vou te escoltar até sua casa. - assenti e o acompanhei até o carro.
-- Eles não estão preparando uma festa ou algo do tipo, não é?
-- Não. É surpresa. - revirei os olhos e sorri.
Já dentro do carro eu consegui ter uma visão bem mais ampla do grande problema em que estaria me metendo, e mesmo assim algo em mim, me mandava continuar. Não era mais a tipica paixão por um garoto problema, e sim a emoção de estar participando de algo grande. Havia mais problemas em torno desses garotos do que eu imaginava. Não conseguia esquecer do modo como aquele homem falava, como se Adam não fosse mais do que uma propriedade dele. Um objeto em suas mãos.
Não consegui manter um assunto com o Sebastian, por mais que tentasse não conseguia manter a concentração, minha mente insistia em armar mais e mais teorias sobre a possível encrenca entre eles. Agradeci mentalmente no momento em que cheguei em casa, nada de enfermeiras, médicos, cheiro de hospital nem mesmo aquelas odiadas agulhas. No momento em que abri a porta , havia uma recepção decoradas com balões e cartazes me esperando. E em torno de uma mesa, estavam meus melhores amigos juntos da minha familia.
-- Sabia que haviam planejado algo.- comentei sorrindo quando Clara me recebeu com um abraço apertado. Logo mais abraços vieram, e com eles o conforto e a alegria de estar em casa.
-- Não foi ideia minha. - meu pai se apressou em dizer com um enorme sorriso no rosto. -- Fico mais tranquilo e feliz sabendo que você está em casa novamente.
-- Não tanto quanto eu. - peguei um copo de refrigerante e dei um gole. -- Não sabe como eu estou feliz por poder tomar refrigerante.
-- O tenente Lavelle esteve aqui mais cedo.- comentou Luane com um sorriso enorme, estreitei os olhos para o meu pai e ele deu de ombros. -- E te deixou aquilo.- olhei para o buquê de rosas azuis com pequenas margaridas. Sebastian bufou alto, o que me fez sorrir ainda mais. Me aproximei das flores e peguei o cartão no meio delas.
"Fico feliz que esteja bem."
Coloquei o cartão no meio das flores novamente e sorri.
-- Acho que isso pode ser considerado um abuso.- comentou Sebastian. -- O cara deve ter uns trinta anos de idade, isso é quase um assédio...
-- Sebastian, cala a boca!- gritou Clara com a boca cheia de cachorro quente. -- Se não é capaz de dizer algo que preste, fique calado!
-- Ele apenas se importa comigo só isso.- sorri.
Revirando os olhos, Sebastian tirou o celular do bolso e se afastou. Logo as perguntas vieram, e por mais que eu estivesse respondendo todas elas meus olhos ainda estavam em focados em Sebastian que falava ao telefone na cozinha. Me afastei um pouco antes de me aproximar da cozinha.
--...Não cara eu não sei.- dizia ao telefone.-- Ele apenas me deu ordens...Não eu não sei o que ele quer de lá... Talvez seja grana mesmo só isso, o que mais ele poderia querer daquele restaurante? Comida italiana que não é. - Sebastian riu.-- Às dez então, beleza.
Subi as escadas correndo, e assim que entrei no meu quarto eu ofeguei alto. Encostei minha testa na porta e deixei que meu corpo cansado despencar no chão.

Conforme as horas iam passando eu pensava mais e mais sobre o que havia ouvido. Olhei para o relógio que marcava oito horas exatamente, o que me fez pensar que eu poderia ajudar ou intervir em algo. Pegando qualquer roupa na gaveta e corri para o banheiro, tomei um banho apressado e desci correndo pegando apenas a minha bolsa antes de sair jogando um beijo para o meu pai.
Só havia um único restaurante italiano em toda a cidade, o Bragatti's. Ficava mais ou menos um hora e meia de caminhada da minha casa, prendi meus cabelos no alto da cabeça e me apressei em andar. As pessoas passavam me encarando, e conforme eu andava podia sentir meu peito se apertando. Assim que avistei o restaurante respirei fundo, entrei no lugar e me sentei em uma mesa mais ao fundo. O garçom veio e me trouxe um cardápio, o cheiro da massa e do alho predominava o local, assim como os casais e os homens de negócios.
Faltavam apenas alguns minutos para as dez horas. Meus olhos ainda vasculhavam a todo o momento, como se bandidos fossem cair do céu naquele lugar.
-- Clarice?- a minha frente o Tenente Lavelle puxava uma cadeira para se juntar a mim na mesa. -- O que faz aqui?
-- Ah...Tenente!- disse um tanto supresa. -- Eu estava...- seus olhos estavam focados em mim o que me deixou nervosa. -- Precisava comer algo decente depois de sair daquele hospital, a propósito.- sorri.-- Obrigada pelas flores.
-- Eu não quero que pense que...
-- Ah não! Em momento algum.- me apressei em dizer.
-- Minha mãe mandou eu te mandar, sabe.- coçou a cabeça sem jeito. -- Ela disse que você iria gostar.
-- E ela acertou.- seus olhos desviaram dos meus para suas mãos na mesa. -- O que o trás aqui?
-- Eu estava trabalhando em um caso e...- comprimiu os dedos nos olhos. -- Eu precisava de algo mais decente que um pretzéls e uma Pepsi para comer. Se importa se eu acompanhá-la?
-- Não , de modo algum.- peguei o cardápio e olhei para os vários pratos nele.
-- Posso anotar seu pedido?- assenti para o garçom.
-- Vou querer capeletti ao molho branco e um suco de uva pra acompanhar.
-- E o senhor?
-- Eu quero um fettuccine com copa e mascarpone. - sorriu ao fechar o cardápio.-- Vou acompanhá-la num suco.
-- Com licença.- disse o garçom e se retirou.
-- Então Tenente, tem trabalhado muito pelo o que eu vejo.- comentei.
-- Mais do que deveria, estou no rastro de um...bandido há três anos.- exalou.-- E sempre que eu estou prestes a prendê-lo, ele some.
-- É um trabalho bem exaustivo pelo o que vejo.
-- Muito, mas não vamos falar sobre isso. - concordei com a cabeça.-- Soube que quer ir para a faculdade de letras, estou certo?
-- Sim, quem te disse isso?
-- Seu pai, conversei com ele no dia em que...- devo ter feito alguma expressão de dor ou algo do tipo, para ele ter para de falar.-- Ele apenas me contou.
-- Eu ainda não me formei, mas estou quase lá. - sorri. Então me lembrei do comentário do Sebastian sobre as flores, mais cedo.-- Tenente quantos anos o senhor tem?
-- Bom, acredito que não sou tão novo quanto você e nem tão velho para ser chamado de senhor.- zombou e eu corei, então ele riu. -- Tenho vinte e cinco anos.
-- Desculpa se fui indelicada...
-- Em momento algum. - riu ainda mais. E por um instante pude ver que seus olhos verdes brilhavam mais a cada sorriso seu, sua barba ainda estava por fazer o que lhe conferia uma aparência mais máscula.
E assim se seguiu a noite, comemos em silêncio, rindo uma vez ou outra de minha tentativa falha de usar garfo e faca, conversando sobre baseball e basquete. Outrora tentávamos disputar qual time de futebol era o melhor, Bayern de Munique ou Real Madri. Quando se mora com o pai a gente aprende a gostar deste tipo de coisas, o que me deixava mais enturmada com o mundo de esporte do que com a nova coleção de outono.
Ouvi um grito e logo se seguiu um disparo, o Tenente se levantou e se debruçou comigo no chão. Haviam mais pessoas tentando se proteger de um confronto contra os bandidos, e enquanto dois sujeitos armados e encapuzados rendiam os clientes do restaurante. Um deles, talvez conhecido, rendia o dono do local sua voz gritava toda vez que o senhor de meia idade o contrariava. Meus olhos não desgrudavam dele, eu sabia muito bem quem era e como por intuição, seus olhos azuis se viraram em minha direção.
Pareceu ser uma eternidade, mas por breves instantes ele pareceu envergonhado. E foi quando ele atingiu o dono do lugar com a arma e pegou a bolsa, no chão. Seus olhos ainda estavam em mim, enquanto ele se afastava
-- Parado!- o Tenente Lavelle se levantou empunhando seu revólver.
-- E vai fazer o que tenente?
Comecei a chorar, não podia acreditar que Adam era capaz disso. Olhei novamente para os casais deitados no chão e entre eles eu podia ver o sangue escorrendo da cabeça daquele senhor. O que me deixou ainda mais triste, já não conseguia prestsr mais atenção a minha volta tudo o que eu fiz foi me arrastar até aquele homem e verificar se ele estava vivo.
-- Largue essa arma!
-- Vai atirar em mim? - de longe eu olhei para ele. E mesmo com aquele capuz podia ver o sorriso estampado em seu rosto. Ele não podia estar feliz por fazer aquilo!
Foi quando tudo aconteceu rápido demais, Adam jogou sua arma pro ar e correu houve um disparo contra o Tenente . Pude ver Adam tentando fugir, mas o projétil conseguiu atingi-lo. Fechei meus olhos para a desgraça que viria a seguir, mas não ouvi mais nada a não ser o som dos pneus cantando no asfalto.

Verdade ou Consequência? (TERMINADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora