Capítulo 10

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O vento da noite soprava gelado e forte em meu rosto, meus braços cruzados e meu moletom fino não estavam dando conta de aquecer meu corpo. Eu sabia que Adam era um erro, sabia onde estava me metendo e mesmo assim, como todo o ser humano, insistimos em cometê-los mesmo sabendo das suas consequências.
Caminhei quase que a manhã inteira e agora neste fim de tarde, o meu celular em fim parou de tocar. Me sentei na areia branca da praia e recolhi meus joelhos até o peito, para que assim os abraçasse. Por mais que eu afugentasse meus pensamentos, por mais que minha mente cansada me obrigasse a pensar em algo além de Adam, eu não conseguia.
Me sentia imunda, completamente suja. E lembrar de como ele me tocou fazia aquelas palavras ecoar ainda mais na minha cabeça, cada vez mais altas, cada vez mais fortes e cada vez piores. Larguei minha bolsa na areia e caminhei em direção ao mar. As ondas iam e vim, e somente ela poderiam acabar com aquela dor.
Tirei meus sapatos a medida que me aproximava mais, quando a água gelada tocou meus pés, senti um breve arrepio. Mas quanto mais ela tocava meu corpo, mais eu podia sentir meu coração pulsar. Pulei a primeira onda que veio antes de mergulhar, meus pensamentos se calaram como eu imaginei que aconteceria. Meus pulmões se comprimiam cada vez mais por falta de ar, e cada vez mais eu podia sentir meus músculos relaxarem. Logo que retornei a superfície, vi as nuvens negras que se aproximavam bem rápidas. Não estava muito longe da praia, mas precisava chegar nela o mais rápido possível. Uma boa porcentagem das pessoas morrem em praias, principalmente em dias de tempestades.
As ondas ganhavam força bem rápido, o que não me impediu de alcançar a praia. Me ajoelhei na areia antes de relutar em aceitar todo os sentimentos que estavam reprimidos em mim; medo, dor, aflição, arrependimento, amor, entre muitos outros.
Respirei fundo e me levantei, peguei as minhas coisas e retornei para a casa. As pessoas na rua me olhavam, umas riam. Também eu devia estar parecendo um lixo, ainda mais com os olhos vermelhos de tanto chorar.
-- Clarice!- parei na rua procurando quando senti uma mão tocar em meu ombro. -- O que aconteceu?
-- Oi, Jay. - pela primeira vez em meses, eu não estava feliz por vê-lo.
-- Coloca isso.- me estendeu seu moletom. -- Antes que pegue uma pneumonia.
-- Jay eu...
-- Sem mais nem menos. - sorri agradecida e coloquei o moletom agradecendo o calor que o tecido me proporcionou. -- Eu estava indo até a sua casa, ainda bem que te encontrei.
-- E o que quer?- perguntei enquanto aguardava o semáforo fechar.
-- Você e a pessoa mais esperta que eu conheço.- eu ri e ele me acompanhou. -- Preciso de uma força em física ou vou levar bomba esse ano.
-- Estranho isso. - comentei enquanto atravessava a rua. -- Você é o melhor jogador do time de basquete, tem um A automático.
-- Sim, mas ir nas aulas...- ele riu e esfregou as mãos nos cabelos. -- Preciso mesmo de ajuda.
-- Ta bom. - cedi e recebi um abraço em respostas. -- Segunda te encontro na biblioteca.
-- Na biblioteca? - ergueu uma sobrancelha.
--Claro. - me afastei dele. Caminhei rápido pra atravessar a rua enquanto ele permaneceu do outro lado. -- Não quero que perca a concentração!- gritei e ele riu.
Sorri feito boba enquanto caminhava pelo parque, Adam não me incomodava mais mentalmente. Jason havia me ajudado com o bloqueio mental, o que me deixou bem satisfeita. Agora que a ficha caiu, sei muito bem como as coisas devem ser feitas. Minha atenção voltará a se prender em meus estudos, em achar um trabalho, cursar de vez a faculdade de letras e quem sabe assim me tornar uma escritora de best sellers.
-- Oi, gracinha. - parei bruscamente antes de esbarrar em um sujeito alto de terno. -- Venha comigo.
-- Meu pai me ensinou a não confiar em estranhos.- desviei dele e sai andando. Senti um puxão em meu braço, logo algo tocou minha barriga. Olhei para baixo e vi o brilho do aço escuro, um medo se instalou em minhas pernas. Aquela onda fria tomava conta de tudo, das minhas pernas e braços. Meu coração parecia querer sair pela boca, nem o aperto em meu braço me incomodava.
-- Acho melhor vir comigo, eu odiaria ter que abrir um buraco nessa cabecinha.- os olhos verdes do sujeito brilharam ainda mais com essas palavras.
Não disse nada, me senti incapaz de formular palavras. Então, apenas assenti positivamente com a cabeça, e deixei que ele me guiasse até um carro. Fui empurrada pra dentro, o outro sujeito sorriu e colocou um pano preto em minha cabeça.
-- Se comporte, o chefe me mata se te levar com algum ferimento.
Ouvi o som da porta do carro bater e a ignição serem ligadas. Por mais que tivesse algo me impedindo de ver para onde eu estava indo eu tinha noção das curvas que eles faziam. Quando ouvi som de cascalhos em contato com o pneu, tive certeza de estar entrando em uma estrada de terra. O medo estreitava ao meu redor, nunca pensei que morreria assim, largada no meio do mato. Mas e se eles não me matassem? Apenas me mativessem em cárcere privado, me torturando? Minha respiração agora saia pesada e entrecortada.
-- Não tire o pano da cabeça.- avisou e ouvi um estalo. -- Se tentar correr quero que saiba que está engatilhada e eu não sou ruim de mira.
-- Vamos!- ouvi uma mulher gritar. -- Não temos tempo à perder.
Fui puxada com força para fora do carro, cai de joelhos sentindo em seguida um aperto horrível em meu pulso. Tive certeza que haviam prendido minhas mãos com alguma corda ou algo assim. Meu coração bateu ainda mais forte enquanto eu era arrastada para algum lugar no meio do nada. O fato de ter meus olhos cobertos apenas piorava tudo, não conseguia ignorar o fato de que o que me esperava não era nada bom. Senti um nervosismo ainda maior quando fui jogada no chão, o impacto com o chão me fez gemer de dor. E um riso abafado quando fui levantada a força.
No momento em que tiraram o pano preto da minha cabeça eu tive que piscar várias vezes para me acostumar com a luz do ambiente, então eu vi um sujeito velho, sentado em cadeira fumando um charuto que fedia, o cheiro daquela fumaça me deu ânsia, mas o medo que senti foi pior. Fez meu estômago embrulhar, senti que o que estava nele estava subindo.
Fui empurrada na frente do velho, o que me fez ver que havia uma cicatriz imensa em seu rosto.
-- Sabe quem sou?- neguei com a cabeça e ele riu. -- Pensei que Adam tivesse pelo menos contado sobre mim. - ele se levantou e se abaixou na minha frente. -- Você tem estragado meus planos sabia? Adam, não tem mais feito o que eu pedi e...soube que vocês andam muito amiguinhos.
Ele sorriu quando jogou fotos na minha frente, fotos sobre a minha noite com o Adam. Havia mais de nós dois juntos, na loja, na frente da minha casa.
-- Você está enganado eu...
O estalo foi alto, e a força que ele usou no tapa foi pior. O gosto de sangue tomou conta da minha boca, meu peito explodiu em desespero.
-- Fale apenas quando eu pedir. -avisou. -- Quero que se afaste do meu garoto, quero que fique bem longe dele. Não tente avisar à ele sobre isso, ou vai ser muito pior.- gritei de dor quando seu charuto entrou em contato com a minha perna. Lágrimas vieram ao meus olhos, já não estava mais tentando ser forte, ainda mais quando senti o charuto queimar meu braço. -- Encare isto como aviso, não tenho pena de menininhas. Levem ela daqui! Mas antes...- olhei para ele parado perto da porta. --...acho que ela precisa de uma amostra do que estou falando.
Olhei para o mesmo homem que me abordou no parque se aproximar de mim. Fechei meus olhos e implorei mentalmente por uma salvação, que nada de ruim me acontecesse.

Gente mais um cap finalizado. Desculpa a demora. Mas os estudos não me deixam descansar, tirei o tempo que tive pra escrever espero que gostem e deixei os comentários ;)
Beijos e obrigada pela leitura ;)

X.o.xo




Verdade ou Consequência? (TERMINADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora