Capítulo 22

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  Clarice  pov.

    Precisava conter toda aquela ansiedade em mim, não gostava nenhum pouco de saber que as coisas com Adam podiam piorar ainda mais, ou simplesmente vir a tona. Precisava ocupar a mente e nada melhor que trabalhar, havia um bar no centro que precisava de garçonetes então não vi um motivo para não tentar. Era um bar de jovens em com música ao vivo, pôsteres de banda e uma Juke Box . O dono, era um homem que aparentava ter um pouco mais que trinta, tinha um sotaque português. A primeira impressão foi a de um senhor gentil.
          — Bom dia, eu gostaria de saber se a vaga de garçonete ainda está disponível? – a moça no balcão sorriu.
          —Ronny, temo uma ...– me olhou dos pés a cabeça. — ...moça aqui.
          — Diga a ela que não precisamos mais de nenhuma garçonete, já mandei que retirassem aquele aviso. – gritou enquanto falava ao telefone, sem ao menos nos dar a devida atenção.
           — Ah, claro. Obrigada.
           Tinha certeza que toda essa trama na qual minha vida havia se tornado iria render um best sellers de um enorme sucesso, já até conseguia imaginar. Sorri comigo mesma ao imaginar, tudo o que eu mais queria era esquecer aquele problema com o qual eu havia me metido. Talvez eu pudesse mudar de cidade, ou quem sabe mudar meu nome.
          — Uma moeda pelo seus pensamentos? – fui arrastada pra longe dos meus pensamentos quando vi aquele sorriso perfeito a minha frente. — Acho que meu beijo é horrível, você sumiu depois disso.
          — Oi, Jay. Como tem passado?
          — Bem, tô pensando em começar um curso de mecânica, uma certa garota me abriu os olhos. – sorri
          — Bom, isso é ótimo! Fico feliz em ter te ajudado.
          — Vai fazer algo agora? Tava pensando em fazer uma trilha...– mostrou os equipamentos e a enorme mochila que carregava. — ... Subir algumas montanhas, me afastar desses problemas, quer ir?
          — Não sei se...– respirei fundo, seria bom um belo exercício físico, uma distração enorme, sorri. — Quer saber, eu acho que eh também preciso disso.
           — Então, vamos!
           — Vou apenas passar em casa me trocar e podemos ir.
           — Eu te acompanho.

        Não demorei muito, fui mais rápida do que pretendia. Troquei  de roupa, optando por um tecido mais leve, tênis confortáveis, e na mochila levei apenas algumas frutas, sanduíches e garrafas com água. Deixei um bilhete pendurado na geladeira, avisando apenas que havia saído .
          — Levantar acampamento! – disse sorrindo.
          — Tenha que lhe informar que tenho apenas uma barraca na mochila, vai ter que se contentar em dormir comigo. – sorriu sugestivo.
           Senti meu rosto esquentar, sabia que estava vermelha feito pimentão.
            — Acho melhor irmos, assim poderemos aproveitar o pôr do sol.
          

             Não demorou muito para que conseguíssemos entrar na mata mais densa, a trilha era quase imperceptível precisa se manter atento ou poderíamos ficar perdido por dias ali. Jay ia na frente sempre me auxiliando nas subidas mais difíceis, explicando coisas que eu não sabia, me alertando sobre ervas venenosas e algumas outras medicinais, era de se impressionar o seu conhecimento sobre tal coisa.
           — Bom, acho que não preciso mais de academia nenhuma. – disse ofegante enquanto sentia o suor descendo pela minha testa. — Minhas pernas estão mais fracas do que pensei.
           — Pausa pra recuperar as forças e tomar uma água. – me sentei no chão ao ouvir aquilo. Sorrindo enquanto bebi um grande gole de água ele olhou no relógio de pulso, parecia saber muito bem o que estava fazendo.— Ainda temos uns trinta minutos de caminhada , se continuarmos nesse ritmo, talvez dê para chegar até a cachoeira. Vamos!
         — Aí senhor! – resmunguei.
         — Meu pai e eu fazíamos essa trilha quando era pequeno, sempre que dava. Era tipo um ritual entre nós dois.
          — Meu pai não é do tipo que curte natureza, se ele entra em uma mata dessas, aposto que ficaria louco. – sua gargalhada soou gostosa naquele silêncio.
           — Demorou muito para que eu aprendesse a apreciar esse lance todo também. – segurei em seu braço para conseguir manter o equilíbrio. — mas até que eu gosto desse lance de natureza, funciona como um mantra pra mim. Espero que funcione com você também.
           —  Como assim?
           — Depois daquele dia, que te beijei, fiquei pensando em você. – seus olhos se mantinham focados nas pedras e em todo o caminho. — E saber que alguém foi capaz de te ferir daquele jeito me causa raiva, as pessoas e essa sociedade em que vivemos andam muito doentes. Não existe mais respeito e compaixão ao próximo. – se virou para me encarar. — Eu já não tive a oportunidade de conhecer minha mãe, e da mesma forma que te agrediram me fez lembrar que foi assim que tiraram meu pai de mim. Eu não tenho ninguém além da minha irmã e se eu puder ajudar as pessoas pra que não venhamos a ter esse tipo de problema novamente, eu vou ajudar. Uma vez por semana subo essa mesma trilha, me sinto como se tivesse treze anos novamente, não existe problemas, não existe dor, não existe nada além de mim.
           Fiquei quieta por um momento, nunca em toda a minha vida havia me aproximado dele desta forma, sabe o que se passava em sua cabeça e em seu peito me fez sentir algo. Carinho,uma enorme vontade de confortá-lo. Porém eu não me movi.

Verdade ou Consequência? (TERMINADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora