Reminiscências (Completo)

Capítulo 10

POSTAGENS SEMANAIS

PASSADO

Mesmo sendo companhia um do outro durante algumas noites na semana, Gregory e Emily em meio às outras pessoas não possuíam vínculo algum. Emily, por estar sempre envolta de sua escrita ou isolada como sempre preferiu estar. Já Gregory não admitia ainda estar perto daquela menina ao redor das demais pessoas. Ouvira muitas coisas, as pessoas a tratavam diferente, a achavam estranha por estar sempre isolada dos demais. Era a chacota das demais meninas populares da escola que frequentavam, e debochada pelos caras mais descolados.

Gregory não queria ter sua imagem junto a ela por pontos, que para ele na época eram importantes, pois em sua cabeça jovem e imatura, ser visto ao lado de Emily, ter algum contato mais íntimo, colocaria por terra todas as amizades que estava conquistando e que seriam importantes para seus projetos futuros.

Quando se cruzavam, Gregory fazia questão de passar longe ou não olhar Emily como fazia quando estavam em seus momentos juntos. Emily, por outro lado já se tornara dependente daqueles pequenos momentos, e Gregory tomando aquele tipo de atitude a entristecia. Nessas horas em nada lembrava o garoto insistente que ficava ao seu lado falando bobagens ou simplesmente calado, admirando o anoitecer em seu telhado.

Emily nunca contestava tais atitudes de Gregory. Afinal, quem era ela para exigir algo? Aproveitava o que tinha, nunca exigindo mais daquilo. Até que um dia tudo mudou.

Estava mais uma vez perdida em pensamentos com sua escrita, quando o sentiu ao seu lado. Percebeu que Gregory trazia algum tipo de cheiro alcoólico, e isso a aborrecia em demasia. Após os vários momentos de bebedeira do pai, abolia qualquer tipo de relacionamento com pessoas que se perdiam em bebidas e ações inconsequentes. E não entendia o porquê de Gregory precisar fazer aquilo, afinal, era o garoto popular, as meninas faziam filas e mais filas atrás dele. Não que estivesse dando muita importância àquilo.

Aquele era o pensamento que tentava a todo custo fazer como lei para sua mente. Não queria admitir que estava começando a ter sentimentos pelo garoto que fazia questão de ignorá-la na frente dos outros. Não a tratava mal, mas sua indiferença a deixava ver o quanto às pessoas davam muito valor a status e aparência.

— Não vai falar nada? – Gregory pergunta com voz arrastada.

— Perguntar o quê? Qual o motivo de estar bêbado ao meu lado? Preferiria que você fosse embora, não sou dessas pessoas que curtem bater papo com bêbados.

— Sabe por que estou assim? – Fala, ignorando as palavras de Emily. — Muitas vezes você precisa interpretar um papel para não enlouquecer. Eu sou um ator nato, poucos percebem o que realmente sou de verdade.

Emily estranhou tais palavras, mas o deixou continuar. Sentia que tinha mais por trás daquela bebedeira. Algum motivo forte.

— Meu pai faleceu. E sabe o quê? Não dou a mínima, afinal ele não me deu absolutamente nenhuma importância em vida. Por que eu daria importância agora que o velho morreu?

Emily continuava calada e ouvindo o que Gregory despejava em meio a palavras entorpecidas pela bebida. Achava estranho ele estar morando com sua tia, mas agora entendia o motivo. Assim como ela, as pessoas que deveriam estar ao lado deles em todos os momentos os deixaram de lado, como um móvel que não servia a não ser para atrapalhar.

Emily era familiarizada com esse tipo de sentimento, afinal, os próprios pais não eram exemplos de nada. Sua irmã e ela dependiam somente uma da outra, e isso era o que bastava.