Capítulo 1

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Capítulo 1

Dias atuais

Emily guardava a última caixa com coisas da cozinha. Finalmente tinha terminado de arrumar essa parte da casa para a mudança que faria no dia seguinte. Infelizmente ali não daria mais para ficar, eram tantas lembranças que um recomeço era o ideal.

— Jay, já acabou de guardar suas coisas?

Jay coloca a cabeça no vão da escada e responde:

— Quase mãe, falta pouco.

— Quando acabar vamos jantar na lanchonete do Ray, tudo bem?

— Tudo bem, mas quero um hambúrguer com tudo que tenho direito!

— E vai ter uma grande dor de barriga com tudo que tem direito!

— Fala sério mãe, sabe que como de tudo e nada acontece.

— Sei, sei... mas volta e termina de uma vez, senão serão dois hambúrgueres, e isso não vai ser bom de ser ver.

— Sabe que eu dou conta, né, mãe?

— Anda logo garoto, termina de uma vez enquanto me arrumo pra sairmos. Aproveita e toma um banho também, o cheiro tá vindo aqui.

— Credo mãe!

Jay volta correndo para seu quarto, e Emily segue rindo da cara de seu filho quando fala essas coisas. Era tão bom manter esse clima leve depois das coisas pesadas que ambos viveram nos últimos tempos. A doença de Evelyn foi uma fato triste de se presenciar. Agora, pelo menos ela iria descansar em paz e não iria mais sofrer dia após dia, definhando em cima de uma cama de hospital.

Lembrar de sua irmã sempre trazia um aperto no peito. Evelyn sempre a apoiara em tudo, após saírem de sua cidade natal e enfrentarem uma nova vida longe de tudo que conheciam. A ideia da mudança de lá fora dela, que após seu acidente a vários anos atrás, quis que saísse de onde poderia ter lembranças ruins. Infelizmente, Emily perdeu boa parte do que ocorrera a ela tempos antes, ficando um grande espaço de tempo em branco no lugar. Bem, segundo sua irmã, nada de interessante havia acontecido, somente as típicas coisas adolescentes, como ela mesma dizia. Como não achava mesmo importante, ela pouco se esforçava para relembrar.

Evelyn e Emily chegaram com a cara e a coragem e conquistaram tudo que que queriam. Emily tornou-se escritura de romances como sempre quis, e Evelyn era sua agente e tinha seu escritório de contabilidade. Tempos antes de se formarem em suas faculdades, Emily conhecera Brandon, que foi aquele tipo de amor tranquilo que ela gostou de vivenciar, mas não era a paixão que ela escrevia ou vivenciava através de suas personagens. Mas ele dera tanta segurança que pouco tempo depois se casaram. Evelyn não havia gostado disso, mas a apoiou em tudo. E desse casamento nasceu James, seu filho mais que amado, por ele fazia tudo ao alcance, até suportar certas atitudes de Brandon.

E agora estava aqui, divorciada e sem sua irmã, que era sua rocha, sempre a apoiando em todas as decisões, mesmo as que não aceitava de todo.

Evelyn tinha descoberto o câncer pouco tempo antes, quando não havia mais chance de combate-lo. Emily ficara ao lado da irmã dia e noite, com isso, seu casamento que já não andava bem, foi se desgastando até o fatídico dia em que Brandon saiu de casa e logo após recebia o pedido de divórcio. Na mesma época, Evelyn tinha ficado totalmente de cama, com isso, contando os dias para que ela se fosse realmente desse mundo.

Voltando a tudo o que aconteceu, Emily percebeu que seu casamento já era fadado ao fracasso, pois Brandon tornou-se uma pessoa ausente, sempre viajando a trabalho e ficando até altas horas, chegando sempre em casa tarde. Emily permaneceu casada depois de algum tempo por seu filho, pois sempre achou que ele deveria estar ao lado do pai e da mãe. Mas depois da atitude dele com sua irmã, isso ficou em segundo plano. Como ela poderia mostrar felicidade a seu filho, se não estava sentindo nada além de desprezo e incompreensão por parte do marido? E com ela ficando cada vez mais com sua irmã e o “deixando de lado”, foi que finalmente percebeu que estivera se enganando. E Brandon tinha dado o golpe final saindo de casa e pedindo logo depois a separação. Jay, por quem ficara preocupada por conta da separação, mostrou-se do lado da mãe, pois a queria feliz, e não ao lado do pai por mais que o considerasse, mas ele sentia que deveria apoiar a mãe nesse momento. Jay também adorava sua tia, e sentia muito a cada vez que o quadro dela piorava. Até que finalmente ela não conseguiu resistir ao tratamento.

Isso tinha acontecido a alguns meses atrás. E como sugeriu sua irmã antes de vir a falecer, que voltasse para onde viviam antes. Que se afastasse dali, pois não tinha mais nada que a prendesse ali. Ainda bem que tinham preservada alugada a casa onde moravam antes de toda essa mudança. Esperava que Jay não sentisse muito, pois mesmo sendo super carinhoso e compreensivo, ele tinha nascido e crescido na cidade, mesmo morando onde estavam a pouco tempo após a separação. Brandon não mostrou nada com relação a mudança, só que continuaria assistindo o filho através da pensão.

Emily então começou a arrumar tudo e se preparar para a mudança que faria. Esperava que com novos ares pudesse superar tudo o que havia ocorrido nesse meio tempo.

Como será que estava sua cidade depois de mais de quinze anos? Como estariam os colegas de escola? Cindy, sua amiga e companheira de travessuras, e que tinha perdido contato a alguns anos. Hilary, a vaca dos tempos de escola? Dela não sentia falta nenhuma, mas será que ela teria mudado? Tantas coisas vinham com esses pensamentos, que imagens borradas começavam a passar por sua cabeça. Será que era alguma coisa do passado? Como não fez nada para puxar a memória ao longo dos anos, não via nada de interessante. Mas agora que começava a forçar um pouquinho... Bom, era melhor parar com isso.

Queria tanto que com essa mudança sua vida voltasse aos eixos, mesmo sem sua irmã ao lado a apoiando e dando seus conselhos.

Tinha acabado de se arrumar e estava esperando por Jay em seu quarto. Olhou pela última vez o que estava deixando para trás. Depois da separação, havia se mudado para a casa da irmã para poder cuidar melhor dela. Após seu enterro, ela enviou a instituições de caridade tudo o que sua irmã possuía, afinal, não teria como levar nada mesmo. Ficaram somente algumas lembranças, fotos delas e de Jay.

E olhando para a cômoda, avistou uma foto das duas ainda jovens, com o mundo pela frente. O sorriso de ambas trazia tanta coisa boa... Como gostaria de tê-la ao seu lado.

Antes que percebe-se, tinha começado a deixar cair lágrimas de tristeza por tudo o que viveram e poderiam estar vivendo. Infelizmente nem tudo é como desejamos. Antes que Jay a visse triste novamente, foi ao banheiro e lavou o rosto, se recompondo. Não poderia fraquejar na frente do filho, pois não era somente ela que estava sentindo, ela também estava.

— Mãe, vamos, tô com muita fome!

Riu com os exageros de seu filho. Ele era seu bem mais que precioso. Por ele se mostraria forte.

— Já vou meu leãozinho faminto!

— Mãe, para com esse apelido chato.

Emily desce se encontrando com Jay na porta.

— Mas você é meu leãozinho, Jay! Ainda mais com esse cabelo todo!

— Nem vem mãe, pode ir parando. Imagina se ouvirem isso? Vai acabar com minha reputação.

Emily dá risada das palavras do filho.

— Tudo bem, sua velha mãe aqui não falará mais nada hoje. E vamos logo matar essa sua fome.

— Vamos!

Reminiscências (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora