Chegando em casa, fui para o meu quarto pois estava cansada. Mesmo assim, fiz um rabo de cavalo no cabelo, pus meus óculos e peguei meu notebook para ver meus email's, ouço duas batidas leve na porta e suspiro, quem seria?
-Pode entrar.- falei sem tirar os olhos da tela do computador.
-Senhorita, vim buscar suas malas.- disse, olhei para trás e vi uma mulher de estatura baixa e com um avental preso ao corpo, Neena.
-Ah sim, estão ali.- falei voltando minha atenção para a tela do computador e apontando para o closet, onde estavam as malas.
Ela foi e voltou carregando duas malas.
-Depois eu pego a outra, senhorita.- falou e eu assenti, ela ficou em silêncio mais permaneceu no cômodo, olhei para ela que me encarava como se estivesse me estudando e eu arqueei uma sobrancelha.
-Que foi?- perguntei e me levantei, fui até o criado-mudo e peguei um calmante, botei goela abaixo com uma água que estava em cima da minha escrivaninha.
-A senhorita...- ela balbuciou com um olhar peculiar.
-Eu? Fala Neena.- falei, meio intimidadora. Ela suspirou e fitou meus olhos, a testa dela se enrrugou e ela cruzou os braços.
-Eu acho que a senhorita está muito cansada e ainda sim fica tomando esses remédios, precisa se cuidar, precisa dormir, Calíope.- falou, com uma voz fraternal.
-Neena.- falei chegando perto dela e pegando em seu braço, ela abriu um sorriso.- Você não é paga para achar, querida.- falei revirando os olhos e dando costas para ela, entrei no meu closet e pude ouvir a porta sendo fechada, eu odiava tratar as pessoas daquela forma, mas era meu instinto, aliás, instinto do meu pai, afinal, ele tinha me criado com a personalidade dele.
Sentei em um sofá que ficava no meio do closet, tampei meu rosto e respirei fundo.
-Droga!- falei.Assim que tomei meu banho, pus uma camisola violeta, fiz um coque e desci para beber água. Quando estava lá embaixo, encostada no balcão, perdida nos meus pensamentos e no meu copo de água, ouvi alguém chorar. Não que eu me importasse que alguém estivesse chorando, mas por um minuto eu criei um pouco de empatia por aquela alma que se desfazia em lágrimas. Andei com cuidado até onde estava vindo o barulho do choro, e quando vi já estava no jardim atrás da casa, vi um corpo encolhido atrás de uma árvore que ficava ao lado da piscina, um cabelo preto e roupas pretas. Era Mia, o que minha irmã estava fazendo aqui? Essa hora? E chorando? Me aproximei por trás da árvore, sem que ela percebesse que eu estava ali e sentei ao lado dela, escorando as costas na árvore espessa e deitando minha cabeça. Respirei fundo, fazendo com que ela percebesse minha presença. Ela parou de chorar e limpou seu rosto com as mangas do casaco preto, quando ia se levantar eu puxei seu braço para que ela sentasse.
-Senta aí e para de frescura.- falei séria, olhando outras árvores que estavam a minha frente, pude ver de canto de olho que ela me fitava, com uma expressão confusa no rosto, mesmo assim se sentou.
-O que você quer?- ela perguntou em um fiapo de voz, fungando toda hora.
-Quero saber porque diabos minha irmã caçula está chorando no jardim da casa.- falei e pela primeira vez naquela noite, cravei meus olhos nos dela, eles estavam opacos e úmidos, mas representava medo e tristeza.
-Por que eu sou uma idiota, só isso.- cuspiu as palavras em cima de mim.
-Como assim, explica pra mim.- falei.- Tudo bem que você deve ter vários motivos para me odiar, mas eu sou sua irmã, Mia. Nós temos que ter contato, temos que conversar e se ajudar.- falei pousando minha mão em cima da dela, ela hesitou, mordendo os lábios mas respirou fundo e fitou o chão.
-Calí...- começou, a última vez que ela me chamou assim, ela tinha uns dois anos.- Você também deve ter uns 20 motivos pra me odiar, mas eu sou consequência do que eu passei. Você deve estar se perguntando porque eu estava chorando, vou te explicar... Bom, eu estava namorando Jack, ele tem uns 24 anos, ele vive de música e bom, fuma e bebe. Fui comentar sobre meu relacionamento com o pai, e ele praticamente me enxotou do escritório dele, disse que o dia que eu tivesse bom senso e criasse juízo para arrumar um namorado empresário, eu poderia voltar lá. Então, Jack queria conhecer papai, e quando eu disse a ele o que ele disse, ele ficou revoltado e mandou eu sumir, que eu não era garota pra ele, fui hoje a procura dele pra tentar mudar a situação, mas flagrei ele com uma loira cheia de curvas e uma tatuagem no seio direito.- ela falou, com um sorriso no rosto, mas as lágrimas caíam, meu queixo estava caído, eu não sabia que tudo isso havia acontecido e muito menos que minha irmã namorava, ela nunca comentará e isso só me deixava mais frustrada, pois ali eu reconhecerá que eu não sabia nada sobre as pessoas ao meu redor, ela me fitou procurando um olhar de compreensão, e eu o dei, então ela continuou.- É ruim pra mim sabe, eu sou assim, rockeira, ando sempre de fones por aí, não ligo pra nada nem pra ninguém. Mas se põe no meu lugar Calí... minha mãe está tão cega de amor pelo meu pai que não está nem aí pra mim e nem pra Alex, Nosso pai, é como você sabe, tudo que ele mais ama é dinheiro, eu só queria ser como você Calí, queria ser aceita pelo nosso pai, queria que ele se preocupasse comigo, tanto quanto ele se preocupa com você, queria entrar pra empresa e trabalhar junto com ele, você é tudo que eu quero ser e não posso, deve ser por isso que eu tenho tanta raiva de você.- ela falou se encolhendo e evitando contato visual, claro que não era nada fácil ela me dizer que tinha inveja de mim, meu queixo mais uma vez estava no chão.
-Mia...- foi a única palavra coerente que eu consegui soltar, eu estava sem palavras, minha boca entreaberta e minha respiração forte.
-Eu sei que você vai dizer que eu sou só mais uma garota mimada, irresponsável e invejosa...- ela falou e algumas lágrimas caíram dos seus olhos. Como em um impulso eu pulei pra cima de Mia, e lhe dei um abraço, ela estava tão surpresa quanto eu.
-Você não é mimada, nem irresponsável e muito menos invejosa, Mia.- comecei, minha voz embargada e algumas lágrimas queriam sair.- Você é minha irmãzinha mais nova, sinto que devo cuidar de você, mas tenho que te confessar também... eu tenho inveja de você, porque você também é tudo que eu quero ser e não posso, eu queria ser essa rockeira que não precisava se preocupar com nada e vive cada segundo como se fosse o último. Mas ao invés disso, eu tenho que ficar presa a uma empresa, fazendo cálculos e arranjando soluções para os negócios do meu pai. Acho que alguém trocou nossos papéis né?- falei, depois me afastei e fitei seus olhos, nós rimos e nós abraçamos denovo.
-Verdade, Calí...-disse- É tão bom estar assim com você, eu precisava de você mais do que você pode imaginar, afinal só tenho você de irmã mais velha e bom, você já viveu mais coisas do que eu.- falou.
-Queria que as coisas fossem sempre assim.- falei, logo uma decepção tomou conta de mim, apesar de estar daquela forma com Mia, eu sei que aquilo não duraria muito, dentro de mim havia um monstro criado pelo meu pai, eu era egoísta e determinada.- Olha só maninha, você pode conversar com Jack e fazê-lo te entender, assim como está fazendo comigo e se não der mais certo, procure outro cara, ele certamente não merece a menina maravilhosa que é você. Você quer fazer faculdade de administração, certo?- perguntei e ela assentiu.- Pois faça por você, não pelo papai. Um dia ele reconhecerá a grande mulher que você é, e te colocará na empresa.- falei por fim. Ela me abraçou mas uma vez e agradeceu, voltamos pra dentro da casa, abraçadas e sorrindo uma para a outra, só agora eu reconheci a minha irmãzinha medrosa, aquela que estava sendo totalmente opaca naquela família.Entrei no meu quarto e me deitei, respirei fundo e esfreguei as minhas mãos suadas ao rosto, afinal, o que foi aquilo no jardim? Dei uma de irmã preocupada e empática cheia de conselhos? Era muito pra raciocinar, e eu estava morta de cansaço, então apenas deixei o sono me levar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Filha de um Milionário
RandomE quem diria que uma esquina que eu cruzaria transformaria minha vida de uma maneira absurda.