Não consegui dormir, olhei no visor do celular, marcava 02h37 da madrugada, decidi ir para onde eu estaria em paz. Me arrastei para fora da cama, usando apenas uma blusa cinza solta e grande e um shorts curto de moletom preto. Andei pelo corredor e fui para a cozinha, ele não estava lá como de costume, então andei lentamente pelos fundos da casa, e encontrei uma porta no fim do corredor, estava escrito o nome dele, abri a porta devagar para não acorda-lo e o vi dormindo, ele estava de bruços, com um braço ao lado do corpo e o outro embaixo do travesseiro, usando apenas uma cueca box cinza, e um cobertor até a metade das pernas. Andei até a cama, o quarto era simples mais aconchegante, me deitei silenciosa na cama, e ele se mexeu um pouco, mas não acordou. Continuei observando ele dormir, seu peito inflando, sua respiração calma. Fiquei assim por uns minutos, até que ele acordou, assim, do nada. Seus olhos percorreram todo o meu rosto, e ele sorriu vindo até mim para me despejar um selinho.
-Acordou assim do nada.- comentei, abraçando ele e encostando minha cabeça em seu peito. Ele começou a brincar com minhas madeixas.
-Não...- respondeu.- Senti seu cheiro.- falou calmo.
Uma descarga elétrica correu pelo meu corpo, me deixando totalmente inquieta, um sorriso brotou em meus lábios, não pude conter, aquilo cada vez se tornava mais especial, e eu nem sabia do que aquilo se tratava. Continuamos abraçados em silêncio, ele enrolava minhas madeixas ruivas em seu dedo indicador e com a mesma agilidade, desenrolava.
-Porque veio até aqui? Qual o motivo para não conseguir dormir?- perguntou com uma voz rouca, suspirei exasperada e percorri todo o seu peito nu, com as pontas dos meus dedos, ele se arrepiou.
-Bom, aconteceu algumas coisas nesses últimos dias, creio que você já deve estar sabendo...- falei.
-Ah sim, pobre Senhora Hall, era tão simpática, e acontece uma coisa terrível dessas com ela, logo com ela.- ele falou com uma ponta de tristeza em sua voz.
-Sim...- falei, meu rosto se contorcendo em uma careta de dor e cansaço.
-Mas qual o real problema, baixinha?- perguntou devagar e calmo. Levantei minha cabeça para encara-lo, apoiando todo o peso da mesma em seu peito, segurada apenas pelo meu queixo.
-Austin, certas coisas acontecem e nos pegam desprevenidos...-comecei, seus olhos cravados em mim, absorvendo cada palavra que saía de minha boca, afim de me compreender e me ajudar a encontrar uma luz no fim do túnel.- Todo o peso disso tudo que está acontecendo agora, me pegou desprevenida... eu não sei como lidar, não posso carregar a dor da minha família toda nas minhas costas, não sozinha...- confessei, ele suspirou, fazendo minha cabeça se levantar e abaixar, junto com seu peitoral.
-Agora você me entende, baixinha.- ele disse quase inaudível, e fitou o teto.
-Como?- perguntei, fazendo com que ele me encarasse antes de se explicar.
-Você entende o que sinto...digo, carregando toda a dor, o peso, de uma família inteira nas costas... Meus irmãos sofrem com a minha ausência, imagina com a ausência da minha mãe, minha tia se desdobra para cuidar deles e dar amor e carinho, mas sabemos que colo de mãe é insubstituível, eu, assim como minha tia, também me desdobro para dar uma vida estável para eles, as vezes eu queria que nada disso tivesse acontecido, queria que minha mãe continuasse fazendo aquela macarronada que só ela sabia fazer, aos domingos, queria estar no meu quarto, mesmo com a parede meio descascada, ainda sim era meu, queria estar brincando com Lea e Valentin, zombando dos meus irmãos mais velhos e beijando a bochecha da minha mãe, nós éramos uma família muito feliz, mas como você disse, certas coisas acontecem e nos pegam desprevenidos.- ele disse, por fim, seus olhos marejados ao lembrar da família, eu também estava prestes a chorar, não estava mais aguentando chorar, ou ouvir alguém chorar, bati de leve em sua barriga, fazendo com que ele prestasse atenção em mim.
-Tenho uma idéia.- falei sorrindo, ele piscou umas três vezes antes de perguntar o que era.
-O que?- perguntou.
-Amanhã é sábado, quer dizer, hoje já é sábado, que tal se nós fossemos a um local que eu adoro?- perguntei, sorrindo.
-Que lugar?- ele perguntou, um misto de confusão e curiosidade surgia em seu rosto bronzeado.
-Surpresa.-brinquei.
Ele sorriu de canto, e me abraçou. Acabamos pegando no sono ali mesmo. Não era a minha cama confortável, nem os meus travesseiros de pena de ganso, muito menos o meu teto azul com estrelas, mas só o fato de estar ali, com a minha cabeça recostada sobre o peito de Austin, presa em seus braços com nossas pernas entrelaçadas, sentindo seu cheiro e sua respiração calma, para mim já era mais do que o paraíso.Acordei assustada, braços em volta de mim, um peitoral másculo debaixo de minha cabeça, com os olhos semicerrados de sono, olhei para cima e vi Austin dormindo, o mais incrível ali, era um sorriso que insistia em permanecer no canto de seus lábios. Estava tudo bem, até meu coração se acelerar, meus olhos ficarem esbugalhados e minha respiração difícil, a única coisa que eu conseguia pensar era... QUE HORAS SÃO? Levantei da cama apressadamente, acordei Austin que se sentou na cama, me vendo arrumar o cabelo em um coque e correr até seu pequeno banheiro para lavar o rosto, ninguém podia saber que eu estive ali, não podia deixar resquícios de "Austin's" sobre mim. Sai do quarto, despejando um selinho sobre meus lábios doces, e caminhei até a cozinha, Neena estava lá, andando de um lado para o outro, quando me viu seu rosto tomou cor novamente, veio em minha direção e pegou em meu braço.
-O que aconteceu? Onde estava, percorremos a casa toda e não te achamos, todos estão preocupados.- ela falou, sem pausas, quase ri da sua afobação.
-Calma.- falei, me soltando de suas mãos e levantando os braços e as mãos em forma de rendição.- Eu estava... hãn... érr...- comecei, ficando desesperada, eu precisava dizer algo ou estaria perdida nas mãos de Neena, ela quando queria, descobria qualquer coisa que fosse, observei seu rosto pequeno, e um V se formar em sua testa, qualquer coisa que eu dissesse ali poderia ser usado contra mim, então me arrisquei.- Estava andando pelo jardim, é, andando, precisava pensar um pouco, tomar um ar, acho até que vou sair, é, sair, pode crer...- falei, notavelmente nervosa.
Ela sorriu fraco, e acariciou meu antebraço.
-Vai ficar tudo bem, Calí.- disse, ah sim, ela achava que eu estava me preocupando demais com o problema da Amber, Santa Amber! Não que eu estivesse nem aí para ela, eu só não estava tão preocupada, eu não poderia me dar a esse luxo, ou teria complicações para voltar a ter estabilidade emocional. Apenas assenti e me retirei da cozinha, indo em direção ao meu quarto, Neena se encarregou de informar a todos sobre minha breve "saidinha".
Entrei no meu quarto e tranquei a porta, deixei o peso do meu corpo se chocar com a porta de madeira, e então descansei minha cabeça ali, respirando e inspirando, nada tiraria minhas lembranças de mim dormindo nos braços de Austin, então corri para o meu closet, me arrumei e troquei de roupa e preparei uma mochila, logo chamei Neena e mandei avisar para o motorista Austin, que iria precisar de seu serviço, passei já no escritório do meu pai para lhe informar que iria sair, ele nem se importou muito. Então logo Austin e eu caímos na estrada.-Você não vai falar mesmo para onde estamos indo?- perguntou, era eu quem estava dirigindo, apertei mais o volante e encarei a estrada.
-Não.- falei, olhando Austin de soslaio, ele parecia apreciar a vista, parecia até feliz por estar fora da minha casa, Austin assim como eu, era um viajante nato.
-Puxa, como você é má, garotinha.- ele disse, pondo a mão no peito para fingir que estava magoado, lhe olhei com um olhar brincalhão, e nós rimos.E assim seria nosso fim de semana, eu, Austin, uma mochila e dois dias para aproveitar, livre de preocupações. Agora era só eu, uma garota normal, igual a todas, e Austin era só ele, um garoto como os outros, não existia Calíope Hall a empresária, ou Austin Martinez o motorista da família Hall. Era só nós dois, aproveitando o que a vida tem de melhor para nos oferecer.
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A Filha de um Milionário
RandomE quem diria que uma esquina que eu cruzaria transformaria minha vida de uma maneira absurda.