Capítulo 23 - Viagem Rápida

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-Ufa, eu não aguentava mais aquela criança chorando no avião.- Mia disse assim que desembarcamos.
Nova York estava frio, mas que o comum, e também estava chovendo bem fraquinho. Pus meu sobretudo preto e uma touca, logo saímos do aeroporto e pegamos um táxi.

Chegamos ao hotel rapidamente, meu pai já tinha feito a reserva então era só fazer check in e pegar a chave do quarto. Alex pegou as malas e foi pondo aos poucos dentro do hotel, Mia deu pulinhos de alegria, e eu continuava na mesma, infeliz, queria Austin de volta para mim, agora que descobri meus sentimentos por ele, a única coisa que eu queria era me declarar.

Fizemos todo o processo e pegamos a chave do quarto, entramos e jogamos a mala em um canto, Mia já foi correndo e pulou em uma cama, a do meio. Peguei a do canto esquerdo e o Alex ficou com a do canto direito. Pedimos um lanche da tarde e logo chegou, depois de comer, eu fiquei um pouco angustiada e precisava respirar ar fresco, a chuva parou então resolvi dar uma volta.

Andei pelas ruas de Nova York, eu conhecia pouco, e eu queria muito que Austin estivesse aqui para curtir comigo, mas o grande motivo de eu estar aqui, era justamente ele. Eu sabia que existia uma lanchonete do outro lado da cidade, eu costumava ir com meu pai, e eu adorava o café e os bolos de lá, então peguei um trem e fui.

Entrei na lanchonete e pedi um café, a chuva começou a cair e escorrer pela janela. Tomei o café sem pressa, e comi um bolo. Observando as pessoas andarem pra lá e pra cá, droga, eu tinha esquecido o guarda chuva. Paguei o café e o bolo e sai da lanchonete correndo em direção a estação de trem. Ao chegar havia uma multidão, droga, era o famoso horário de pico. Já estava anoitecendo e eu consegui entrar na estação, fui empurrada para dentro e nem sabia onde eu estava, mais creio que o trem só tem um sentido...quer dizer, espero né. Entrei no trem e fui mas apertada que em lata de sardinha. Acabei sendo enxotada para fora, junto com uma grande multidão, olhei para uma placa e puta merda, não era onde eu devia estar. Eu reconheci o nome porque meu pai dissera certa vez que era um dos bairros pobres da cidade. Sai da estação, com receio, pus minha bolsa pra dentro da blusa de frio e as mãos no bolso, tentando só encarar o chão, meu corpo estava frio e meu cabelo pingava.

Parei em frente a um mercado e me sentei lá, iria esperar que alguém saísse para pedir informação. Uma mulher que aparentava ter uns 45 anos, com um rosto meio fino, olhos fundos, que mesmo assim era muito bonita, saiu do mercado, corri em direção a ela e ela hesitou um pouco, mas logo abriu uma carreira de dentes em um sorriso para mim.
-Por favor senhora, como faço para voltar para esse lugar aqui.- disse apontando para o papel, um planfeto do hotel. Ela balançou a cabeça negativamente e sua testa se enrrugou.
-Olha, esse horário é muito perigoso para você atravessar a cidade, eu digo isso porque já fui assaltada numa tentativa dessas e ninguém aqui aconselharia você a fazer isso.- ela disse calma, senti um frio na espinha, eu queria chorar, estava com medo e não tinha dinheiro suficiente para pegar um táxi, meu celular estava descarregado e não tinha como ligar para os meus irmãos virem me buscar.
-Senhora, eu não tenho lugar pra ficar, estou com medo.- desabafei, quase desatando a chorar.
-Ei, calma mocinha.- falou pondo a mão ossuda no meu ombro e sorrindo fraternal.- Você pode ficar na minha casa se quiser, não é nada cinco estrelas, mas... Meus sobrinhos estão me esperando para o jantar, pode se juntar a nós e amanhã te ajudamos.- falou, mordi os lábios considerando o que ela disse, será que seria uma boa? Eu nem sabia quem ela era.
-Eu sei que você não me conhece, mas será pior se ficar na rua.- falou percebendo minha preocupação e medo.- Nós somos da paz.- completou fazendo o símbolo da paz com os dedos, eu ri tensa.
-Tudo bem, eu aceito, obrigada.- falei e ela sorriu.
Segui a mulher, que descobri ser chamada de Katie, até chegarmos a uma casa bonita, não era nada grande mais bem cuidada, tinha algumas varandas e um jardim com flores podadas. Entramos na casa, eu atrás dela como sempre, a casa era bem humilde mas aconchegante e tinha um cheiro bom de lasanha.
-Cheguei crianças.- gritou a mulher, duas crianças estavam na sala brincando com monta-monta, os dois tinham cabelos castanhos e olhos castanhos esverdeados como o meu. Uma menina e um menino. Vinheram na nossa direção e beijaram a mulher na bochecha, a garotinha percebeu minha presença e parou do lado da tia, meio hesitante, os três se viraram pra mim.
-Quem é ela.- perguntou a garotinha com uma voz fofa.
-O nome dela é Calíope, e ela vai ficar com a gente hoje porque está perdida, então sejam legais.- falou e eles me deram um Oi e eu dei Oi.- Calíope esse são Lea e Valentin.- falou a mulher apontando para as crianças, eu conhecia esses dois nomes de algum lugar.... só não me lembro da onde...
-Gutooo.- gritou a mulher novamente, me tirando de meus devaneios.- Temos uma convidada.
Ouvi passos vindo para onde nós estávamos, eu estava conversando com a Lea e sorrindo para ela, enquanto Valentin mexia em meu cabelo, ele diz ter adoração por madeixas ruivas, ainda mais naturais como o meu. Os passos pararam e eu suspeitava que esse tal de Guto fosse o outro sobrinho, já que ela não disse sobre nenhum marido ou algo do tipo.
-Aí está.- a mulher falou sorridente.
Me levantei e olhei em direção do terceiro sobrinho, meu coração parou no mesmo instante, não podia ser ele, não podia. Ele me encarava com uma expressão de surpresa e desespero, eu o entendia muito bem. Encolhi meus ombros e desviei meu olhar. Meus batimentos cessavam e voltavam a bater tão rápido que até parecia uma taquicardia. Minhas mãos estavam suando, meu corpo tremia, e eu sentia arrepios. Até que ele limpou a garganta e eu lhe encarei com atenção, ele fechou a cara e começou a andar até mim.
-Oi.- disse tocando em minha mão como em um aperto de mão, só que eu não consegui me mexer com aquela aproximação, minha voz foi pra Nárnia, tenho certeza.
-O-oi.- falei, só que saiu em um fiapo de voz.
Ele se afastou e pos as mãos para trás, me encarando com profundidade.
-Vocês já se conhecem?- perguntou a tia.
-Sim- falou ele.
-Não.- eu falei ao mesmo tempo que ele.
Katie nos olhou com os olhos semicerrados, tentando entender tudo.
-Sim ou não?- perguntou a mulher.
-Sim.- afirmei baixinho, suspirando.
-Ah céus.- a mulher tampou a boca.-Não me diga, não me diga que ela é...- a mulher tentou falar, mas travou. Austin balançou a cabeça positivamente e suspirou cruzando os braços.
-Sim, Calíope Hall.- falou, a mulher abriu um sorriso enorme e estranho.
-O que foi?- perguntei intrigada.
-Ela é linda, Guto.- Katie disse abraçando ele. Meu coração acelerou, ele falou de mim para outras pessoas, aí meu Deus.
-Guto?- perguntei.
-É apelido do meu segundo nome, se você não sabe, meu nome é Austin Augusto Martinez.- falou com charme, eu ri e pus as mãos no bolso de trás da calça.
-Entendi, maneiro.- falei.
-O Guto fez o jantar, então sem mais delongas vamos comer?- disse a mulher batendo palmas e empurrando os sobrinhos para o outro cômodo da onde surgiu Austin.
Só agora percebi no quanto ele estava lindo, sem aquele terno ele parecia um adolescente sem preocupações. Ele estava usando uma bermuda preta, com a cueca cinza dando indícios de que estava ali, estava sem camisa, e seu abdômen estava maravilhoso como sempre, seus braços tonificados, sua pele bronzeada, seu cabelo desgrenhado, enfim, ele estava lindo de morrer.

Entramos em um cômodo tamanho mediano, onde estava alguns eletrodomésticos e uma mesa redonda porém grande, com 6 cadeiras. Eu sentei em frente a Austin, ou Guto, como vocês preferirem, e Lea se sentou ao meu lado. Ela tinha se apegado a mim em tão pouco tempo e eu tinha gostado daquela garotinha.
-Ah Calí é sua namolada?- perguntou Lea, senti meu rosto ruborizar, Austin gargalhou.
-Lea, come, um dia eu te conto.- falou ele.
-Essa lasanha está deliciosa.- Valentin disse e Lea concordou.
-Está mesmo.- disse Katie, dando uma garfada.
Todos me encararam por um tempo e eu entendi o porque.
-Magnífica.- falei levantando o garfo e depois levando ele a boca, Austin sorriu para mim.
Observei eles conversarem e Austin não tirava os olhos de mim, o que me deixava vermelha, vez ou outra. Ah se meu pai soubesse...
Logo terminamos o jantar e as crianças foram escovar os dentes, Katie me ofereceu uma escova de dentes nova que estava guardada no fundo do armário, e eu aceitei de muito bom grado. Escovei os meus dentes e logo foi Austin e Katie para o pequeno banheiro.

Katie saiu primeiro e subiu uma pequena escadinha, depois voltou com um colchão em mãos e pos ao lado do sofá.
-Você escolhe entre o sofá e o colchão, querida. Infelizmente não temos mais camas.- ela disse parecendo frustrada e com vergonha. Pus a mão em seu ombro e sorri.
-Tudo bem, não quero lhes causar transtornos, eu posso dormir no colchão sem problemas.- falei.
Então ela pos uma coberta e um travesseiro sobre o colchão e me deu uma toalha e roupa limpa para tomar um banho, fui ao banheiro, tomei um banho, lavei o cabelo e o sequei com a toalha, e vesti a roupa que ela me deu, uma blusa grande, que quase chegava aos meus joelhos, e um shorts de pano fino, sai do banheiro e fui me deitar.
-Tudo bem aqui então?- Katie perguntou, parada na escada.
-Sim.- eu e Austin falamos em uníssono.
-Ok.- ela falou lentamente e apagou a luz, logo sumindo.

Apertei meus olhos, na tentativa frustrada de dormir. Mas só ouvir a respiração forte de Austin não estava ajudando.

A Filha de um MilionárioOnde histórias criam vida. Descubra agora