"É sempre bom lembrar, família não é só de sangue."
Três meses depois...
Faz três meses desde a morte da mãe do Austin, e eles já estavam superando, resolvi levar todos, incluindo tia Katie, para a praia. Fomos para uma ilha deserta, onde meu pai tinha uma casa, e onde nós estávamos agora.
-Não valeu, a bola estava com a gente.- gritou May fazendo biquinho enquanto cruzava os braços, mal ela sabia que suas bochechas enormes ficavam mais fofas quando ela estava irritada.
-Que com vocês o que, estava conosco.- gritou Valentin do outro lado do campo, estávamos brincando de vôlei para distrair as crianças antes do almoço sair.Enquanto May e Valentin brigavam por conta da bola, Austin saiu de fininho e se sentou na areia, aproveitei a deixa e fui atrás.
-O que foi, você parece bastante pensativo hoje...- falei olhando o mar, pude sentir ele encarando meu pescoço e depois toda a extensão do meu ombro nu, me arrepiei.
-Estou pensando no futuro.- respondeu, rápido e direto como a bala de uma arma.
-Futuro? Parece ótimo.- falei com a voz meio trêmula.
-Eu estava pensando em uma coisa...
-O que?- perguntei intrigada.
-Agora que minha mãe se foi...Eu vou voltar a morar com minha família, preciso cuidar deles.- respondeu, meu sorriso morreu.
-Como assim? Mas e como vai pagar as contas?- perguntei exaltada.
-Eu posso trabalhar em qualquer outro restaurante, antes eu só precisava de empregos bons para pagar a clínica da minha mãe, mas agora....qualquer emprego já dá pra pagar meio punhado de contas.-disse e finalmente encarou meus olhos tristes.- Não quero que fiques mal, por isso vou te propor uma coisa.- assenti.- Você sabe que seu pai nunca irá nos aceitar, mas o que você acha de fugir comigo e morar na minha casa?- soltou por fim, fiquei sem reação.
-Austin...eu não posso...- falei tentando fazer meu cérebro aceitar aquilo, eu tenho minha família também, não posso abandona-los.
-Abandona-los? Calíope, você fala como se eles só tivessem a você, como se fossem May e Valentin indefesos, são adultos, seu pai tem a Amber, e você? Vai continuar vivendo os sonhos dos outros?- disse enfurecido, fiquei sem palavras para aquilo. Apenas me levantei e botei um sorriso ainda que meus olhos estivessem cheios de lágrimas.
-Crianças? Vamos almoçar para depois ir embora.- falei olhando para os dois pequeninos.Depois do almoço, eu e Austin não nos comunicamos, ele foi dar uma volta na praia e eu fiquei no quarto lendo Charles Bukowski, quando alguém bateu na porta.
-Entre.- disse pondo o livro sobre o criado-mudo e ajeitando o vestido. Logo o rosto de Katie apareceu por entre a porta, deu um de seus sorrisos fraternais e entrou, fechando a porta e se sentando ao meu lado.
-Como você está? Conversei com Austin, ele me contou.- falou pondo sua mão quente sobre minha perna, sorri triste pra ela e desabei em um longo suspiro.
-Eu tenho muita necessidade em ficar com Austin. Mas eu vivi minha vida toda ao lado dos meus irmãos, meu pai e Amber, seria como abandona-los.- desabrochei.
-Querida, é assim mesmo, a vida é um eco no escuro, não podemos esperar muito dela. Mais se já viveu tanto tempo com sua família, que tal experimentar algo novo agora? Ele só te ama, quer o melhor para todos nós e faz o possível e o impossível para que isso aconteça.- falou.
-Não é tão simples...
-Sabemos que não é simples, ele não está te pedindo pra abandonar sua vida, ele só está pedindo pra você colocar ele nela. Também sabemos que seu pai nunca vai aceitar o fato de que vocês dois se amam e querem ficar juntos.- Katie disse.- A escolha é toda sua, continuar com sua vida ou perder o homem que a ama.E então ela saiu do meu quarto, me deixando algumas lágrimas e dúvidas, chorei a tarde toda, até Austin abrir a porta e eu esconder meus olhos inchados.
-Você estava chorando?- perguntou ele tocando meu rosto.
-Não, foi só um cisco.-menti
-Cisco grande ein?- brincou e riu me abraçando.-Não importa o que aconteça, estarei sempre com você.
-Eu te amo.- falei com a voz embargada.
-Também te amo.Fomos embora para casa, Katie, May e Valentin foram na frente, Austin ia primeiro conversar com meu pai e pegar as coisas dele, eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. De madrugada eu fui para a cozinha e ele estava lá.
-Olha, eu comprei uma passagem pra mim e outra pra você, partimos as 8 da manhã, tabom?- ele disse sorridente.
-Austin, eu não vou...- sussurrei emocionada. Seu sorriso se desfez.
-Ok, eu já deveria saber que você não iria mesmo, te cuida guria, mas te cuida bem mesmo, porque agora eu não vou mais estar aqui, te amo não se esqueça.- disse enquanto beijava minha testa e me abraçava, uma lágrima caiu e eu queria eternizar aquele momento.- Eu sei que você não vai mudar de idéia, mas qualquer coisa...- disse pondo a passagem na minha mão, acenou e foi para o seu quarto.E naquela madrugada fria, foi só eu e minhas lágrimas, dúvidas e uma passagem. Seria esse o fim de um amor eterno?
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A Filha de um Milionário
RandomE quem diria que uma esquina que eu cruzaria transformaria minha vida de uma maneira absurda.