Nora

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- Já se passaram três meses desde que a infestação começou em Nova York, não sabemos muito sobre os infectados, só que mordem e arranham, transmitindo assim, a doença.

Ouvíamos com atenção a frequência das forças armadas anunciar pelo rádio.

 - Pedimos a todos os sobreviventes que permaneçam em casa, com as portas e janelas trancadas, tudo o que podemos fazer agora é aguardar. Logo, nós enviaremos tropas equipadas para o salvamento dos sobreviventes, não deixam de ter esperança e acima de tudo...

De repente o rádio ficou mudo e tudo o que podíamos ouvir era um chiado, ensurdecedor.

O silêncio tomou conta de todos. Um calafrio percorreu minha espinha.

Meu pai estava sentado no sofá, em frente ao rádio, seu rosto estava quase tão pálido quanto o meu.

- Pai, o que vamos fazer agora? - Perguntei, quase não acreditando que haveria uma resposta, sabíamos que ninguém viria.

- Vamos sobreviver. - Ele se virou para Kelly - Ligue para o Marcos e diga que é urgente.

Kelly é minha madrasta, minha mãe morrera quando eu ainda era pequena, e meu pai se casou outra vez. No geral, nos dávamos bem.

Eu estava na sala do apartamento onde morávamos, junto do meu irmão Dylan, ele estava brincando com um carrinho, parecia não ter consciência do que estava acontecendo, o invejei por isso.

Marcos é um militar condecorado que trabalhava para a ONU, mas agora está aposentado, assim como meu pai.

- Acha que ele pode nos ajudar? - Minha madrasta perguntou, sem tirar os olhos fixos do chão.

- Apenas ligue. - Ele respondeu.

Ficamos alguns minutos em silêncio, já faziam 2 meses que estávamos trancados em casa e o estoque de comida estava perigosamente baixo.

Precisávamos sair.

Minha madrasta começou a discar um numero num telefone sem fio, só meu pai possuía telefone que funcionava, foi presente do seu superior, quando ainda trabalhava para a ONU.

Porém, não prestei muita atenção em sua conversa, havia uma coisa que estava me incomodando há semanas.

Lana.

Eu não sabia onde ela estava, com quem estava, e se estava bem. Desde o jardim de infância somos melhores amigas e sabíamos tudo uma da outra, agora, eu não sabia nem se ela estava viva.

Precisava encontra-la.

- Pai... - Hesitei um pouco, aquela era uma pergunta complicada. - Eu preciso ver a Lana, por favor, me deixa ir até a casa dela?

Sua expressão ficou dura.

- Mas que pergunta é essa? Claro que não! - Ele chegou mais perto. - Quem sabe quantas daquelas coisas podem estar lá fora? Sua amiga já deve estar morta.

Aquelas palavras me enfureceram, como ele podia ser tão insensível?

- Como pode insinuar isso? Você não sabe de nada! - Me alterei. - Qual é o problema de irmos até a casa dela? Eu nunca vi uma dessas coisas que você tanto fala, não quero apodrecer nesse apartamento!

Meu pai suspirou.

- Nora, entenda que eu faço isso para te proteger, eu quero o seu bem. E acredite, aquelas coisas estão lá fora, por isso, amanhã bem cedo vamos sair daqui para pegar um navio que vai partir da costa, já falei com Marcos ele ele disse que existe uma ilha segura, sem infecção e nós podemos ir para lá. - Ele sorriu.

Não pude deixar de sorrir também. Uma ilha segura? Sem infecção? Será mesmo?

- Mas e Lana?

- Sinto muito, mas não podemos busca-lá, é arriscado demais sair de casa agora, já vai escurecer, e amanhã pode demorar tempo demais, nós podemos perder o navio, ele só vai atracar por meia hora.

- É só levantarmos mais cedo, assim a pegamos. - Eu disse, esperançosa, embora soubesse que nada o faria mudar de ideia.

- Não é assim tão simples. - Ele coçou a cabeça. - O navio vai chegar exatamente quando o sol sair, se sairmos de casa muito antes ainda vai ser noite e aquelas coisas vão estar nas ruas.

Suspirei, sabia que não ia convencê-lo.

Fui para o meu quarto e olhei pela janela, nós estávamos no sétimo andar, então não havia problema.

Tudo o que vi foi o sol em frente as colinas se pondo. As casas estavam com as luzes apagadas, com portas trancadas e como sempre, a rua estava deserta.

De longe pude ver o telhado da casa de Lana, que ficava a dois quarteirões do meu prédio.

Comecei a lembrar de nossa infância.

Quando tínhamos mais ou menos uns dez anos invadimos uma fabrica sem querer.

Estávamos brincando num bosque perto de casa, e na medida que fomos nos afastando acabamos entrando no estacionamento da fabrica, pois aquela parte, especificamente, não tinha muro, e nós não sabíamos.

Um guarda nos viu e acionou os alarmes, saímos correndo na mesma hora.

Na época ficamos super apavoradas, pensando que a polícia ia bater na porta de uma de nós.

Hoje apenas rimos de tudo, ou pelo menos riamos.

Sem que eu percebesse uma lagrima caiu do meu rosto.

Eu definitivamente me recuso a ir sem Lana, tenho que dar um jeito.

Imediatamente tive uma ideia.


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