Assim que Lana sumiu do meu campo de visão, virei-me de costas e caminhei até minha bicicleta, agora minha única esperança era chegar até o cais.
Levantei meu único meio de locomoção da grama e sentei em seu banco frio, pedalando logo em seguida.
Os prédios passavam por mim rápidos e silenciosos, diferente de ontem a noite, quando alguns ruídos ainda eram aparentes. Ao que me parecia, os infectados não gostavam do sol, o que era um tremenda vantagem.
Depois de algumas pedaladas exaustivas, cheguei finalmente à linha do trem que cortava a cidade, mas dessa vez eu não atravessaria, meu destino era o porto, não minha casa.
Segui em frente sem maiores dificuldades, a cidade estava deserta, lojas estavam intactas, e ruas silenciosas.
Então em meio aquele cenário de guerra uma duvida surgiu inesperadamente. Para onde será que os infectados foram? Eles não podiam simplesmente desaparecer.
Observei o máximo que pude, mas eu não conseguia encontrar uma alma viva.
Tentei esquecer aquele pensamento, e segui em frente.
Era incrível acreditar que em menos de dois meses a cidade já estava daquela maneira. Isso significava que aquela doença, seja ela qual for, se espalhava rápido, e nos estávamos mais próximos da extinção do que nunca.
Engoli em seco, quantas famílias ainda estavam escondidas, só esperando alguém as resgatar? Mas esse alguém nunca viria, eu sabia disso, elas não.
Droga. Nunca me sentira tão impotente em toda minha vida, e isso me torturava.
***
Depois de quase um quilometro pedalando, eu podia sentir meus músculos das coxas queimarem, mas eu não podia parar, tinha de chegar ao cais.
Aos poucos senti cheiro de sal, e um imenso barco foi aparecendo no horizonte.
Segui reto pela rua e cheguei até a praia, onde não havia areia, só um imenso porto, onde o único barco que atracou era aquele que salvaria nossas vidas.
Parei a bicicleta e olhei em volta, haviam várias famílias esperando o barco abrir sua comporta, mas nenhuma delas era a minha família.
Um aperto invadiu meu coração, por que eles não estavam aqui?
Então numa fração de segundos senti um tapa atingir minha bochecha, e meu pai estava bem na minha frente, com uma expressão séria.
- Isso foi por você ter fugido de casa.
Eu acariciei minha bochecha, sem palavras para respondê-lo.
- E isso foi por não ter morrido.
Ele abriu os braços cobertos por casaco grosso e me abraçou, me apertando tão forte que eu quase fiquei sem ar.
Já era o segundo abraço daquele dia, e ainda nem tinha me acostumado com o primeiro.
Me afastei de seus braços e olhei em volta, meu irmão estava em pé ao lado de minha madrasta Kelly. Ambos sorriam.
- Nunca mais faça isso com a gente. - Meu pai advertiu, olhando fixamente em meus olhos. - Nós pensamos que você estivesse... - Morta, era o que ele ia dizer, mas não conseguiu.
- Eu estou bem pai, juro.
Ele sorriu, mas não só por eu estar bem, e sim por sobreviver, por ter coragem de desobedecer suas palavras e enfrentar o mundo como ele era agora. Por voltar viva.
Meu irmão andou em minha direção e me deu um abraço apertado, que logo retribui. Ele abriu a boca para falar, mas sua voz foi abafada pelo som da plataforma sendo baixada, possibilitando nossa entrada no navio.
As pessoas começaram a se movimentar e meu pai as acompanhou, nos empurrando pelas costas.
Eu olhei em volta, tentando esperançosa, avistar minha melhor amiga, mas eu não a via em lugar algum.
Será que ela não viria? Será que algo lhe acontecera? Será que algo acontecera a seu pai?
Meu coração se apertou, eu não queria partir sem vê-la, não queria deixá-la nessa cidade podre.
Parei de andar instintivamente.
Meu pai, agora em minha frente, caminhava sem perceber meu sumiço. Logo, a multidão aumentou e eu o perdi de vista.
Sabia que o que eu estava fazendo era absurdo, imprudente e estúpido, mas eu não podia evitar, minhas pernas pareciam ter vida própria, elas não seguiam mas a razão, apenas o coração, que me mandava encontrar Lana.
Dei meia volta e me preparei para correr, logo meu pai se daria conta de meu sumiço e eu não queria estar lá para ver.
Antes de dar o primeiro passo, pensei ter escutado alguém chamar o meu nome, mas eu não olhei para trás, devia ser apenas o vento dançando sons em meus ouvidos.
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The Virus
Science FictionNora se vê em um mundo onde não há mais família, amor ou felicidade, tudo foi destruído... pelo vírus. Ela e sua melhor amiga, Lana,embarcam em uma busca pela sobrevivência, mas estará mesmo tudo perdido? Essa é uma história de amor e ódio, suspens...