Saltar sobre um muro de dois metros não é minha especialidade, sempre fui a garota que está constantemente com o rosto enfiado em algum livro, nunca fui boa em esportes, talvez seja por isso que eu e Nora nos damos tão bem, ela é atlética como um jogador de futebol americano, às vezes até falava com um, mas ainda assim, cá estou eu, saltando por cima do segundo muro do dia. Mas quem está contando não é mesmo?
Senti uma dor aguda nos cotovelos, principalmente o esquerdo, assim que eles se chocaram com a barreira de concreto que barrava nossa liberdade. Nora fez o melhor possível para me levantar até o auto e surpreendentemente, ela conseguiu. Estávamos quase lá.
A não ser por...
- Lana, tudo bem por ai? - Nora esticou-se para me observar, mas eu não consegui responder - Consegue descer até o outro lado?
Minha garganta não conseguia formular as respostas, na verdade tudo o que ela conseguia fazer era se contrair, tentando segurar o choro.
Minha melhor amiga me observou com o canto dos olhos e no mesmo instante percebeu que algo estava errado.
- É ela Kitty, é ela. - Eu disse, enquanto podia sentir lágrimas rolando pela minha bochecha quente.
Nora me encarou, faziam exatamente seis anos e meio que eu não a chamava de Kitty, era um apelido antigo entre nós, algo sobre nossa infância que nem mesmo a gente se lembrava. Somente eu sabia sobre ele. Ou pelo menos achava que sim.
- Quem Lana? Do que você está falando? - Nora perguntou, embora eu pudesse quase sentir que ela sabia exatamente do que eu estava falando.
- Ela virou uma dessas coisas. - Enxuguei o rosto. - Não posso descer, ela esta bem aqui.
Nora entendeu e não fez mais perguntas. O que me fez agradecer mentalmente. Não queria ter que detalhar o ser horrível que minha antiga vizinha dos fundos se tornara. Pude ver seus olhos totalmente brancos, a boca espumando algo negro e as veias saltadas. Não havia mais o que fazer.
- Vamos ter que bolar outra coisa então. - Ouvi Nora gritar sobre o som das batidas incessantes na porta. - Consegue pensar em algo?
Meu coração disparou. Nora precisava sair dali e rápido. Pensa Lana, pensa.
Então, meus olhos varreram o lugar e uma ideia me surgiu, como se alguém tivesse ascendido um interruptor dentro da minha cabeça e iluminado tudo. Isso acontecia com frequência.
- Rápido! - Gritei. - Vamos até vértice do Muro, acho que posso pegar você.
Nora correu até onde eu apontei sem pestanejar. O rosto dela se iluminou assim que entendeu o que eu planejava.
Havia uma parte do muro, uma parte mal acabada entre os cantos, que possuía uma ferragem exposta, como se o muro não tivesse sido suficiente para cobri-la. Era um pilar feito por um pedreiro inexperiente: meu pai.
Com cuidado, sentei atrás das ferragens e inclinei meu braço pra Nora, assim eu teria como sustentar o peso dela, mas ainda não era o bastante, por mais que pulasse ainda faltava um palmo pra que seu braço alcançasse o meu.
- Drogaa! - Ela exclamou, enquanto tentava, inutilmente, pular mais alto.
Um desespero começou a tomar conta de mim, então me inclinei mais para baixo, ignorando a dor que se formava na parte esquerda da minha barriga.
Mais perto. Mais perto. Preciso chegar mas perto.
Inclinei meu corpo ainda mais, sentindo os ferros pontudos penetrarem minha pele. E quase ao mesmo tempo em que Nora conseguiu pegar minha mão, a porta dos fundos foi completamente posta abaixo.
- Ahh! - Soltei um grito de dor assim que senti o peso de Lana me puxar mais para baixo, e consequentemente, afundar minha pele ainda mais para dentro daquele arranque enferrujado.
Por sorte, ou nem tanta sorte assim, Nora fora rápida e subiu com a agilidade de um felino selvagem, agarrando meu braço e usando ele como apoio para se inclinar até a ponta do outro ferro. Depois disso ela fez o trabalho todo sozinha.
Gemi ao me levantar e mais ainda quando percebi que os problemas não paravam de aumentar. Estávamos encurraladas.
- Nora o que faremos? - Minha voz soou desesperada. - Eu não tinha mais ideias sobrando, muito menos vontade de pensar, na verdade sentia que tudo estava em câmera lenta. Mas Nora ignorou minha pergunta.
- O que você fez Lana?! - Ela apontou para minha blusa suja de sangue, mas antes que eu pudesse responder, um infectado agarrou minha perna e me puxou. Não lembro de nada após isso.
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The Virus
Ciencia FicciónNora se vê em um mundo onde não há mais família, amor ou felicidade, tudo foi destruído... pelo vírus. Ela e sua melhor amiga, Lana,embarcam em uma busca pela sobrevivência, mas estará mesmo tudo perdido? Essa é uma história de amor e ódio, suspens...