Quando Jorge acordou, eu já estava bem desperto, fitando os carros na rua pela janela. Por incrível que pareça, a gente continuava em Recife, só não conseguia descobrir exatamente qual o bairro. O meu colega, ainda sonolento, sentou-se na cama.
– Bom dia, brother.
– Bom dia, Jorge.
– Leandro virou uma formiga de novo? Ou ele já foi tomar café?
– Ele está no banheiro. Daqui a pouco deve voltar.
Eu não quis sair do quarto sozinho. Jorge, então, resolveu me explicar como funcionavam as coisas na escola. A maioria dos alunos acordava às seis horas da manhã para irem ao banheiro, se arrumar e organizar suas coisas. O café da manhã era servido entre às 7 e às 8 horas, pois a partir daí todos já deveriam estar nas suas atividades. Os alunos novatos possuem aula teórica pela manhã, que vão desde filosofia a como montar em dragões alados, e pela tarde possuem as aulas práticas, criando o horário dependendo da sua classe. Como eu era novo, ainda não tinha nada definido. A única coisa certa era que eu deveria passar na sala do professor Alfredo, pois lá seria definida uma classe para mim. Sobre como era feita essa seleção, Jorge não quis me dizer nada.
Descobri que o diretor tinha arrumado roupas novas para mim e eram bem confortáveis. Eu tomei banho, me arrumei e fui tomar café-da-manhã com o pessoal. Meu pai estava lá, sentado numa mesa bastante afastada, onde ficava o pessoal da enfermaria. Eu falei com ele e o velho parecia bem, apesar da confusão que deveria estar em sua mente. Ele me disse que a casa da gente já tinha sido "dedetizada". Nós poderíamos voltar para lá a hora que quiséssemos.
– Você quer ficar aqui? – ele perguntou. – Porque eu não vou passar mais nem um dia nesse prédio. Nunca gostei de morar em apartamento. Você, pelo contrário, parece está se dando bem. Tem feito bons amigos aqui, hein?
Percebi que Natália, Jorge e Leandro estavam olhando para mim e acenaram quando eu os vi. Apenas Pâmela fez uma careta de nojo e passou a mão no pescoço, como se fosse arrancar minha garganta. Eu não duvidaria disso.
– Pai, eu vou ficar aqui por mais um tempo. Conhecer um pouco as coisas, quem sabe eu não me adapto?
– Tudo bem... E Tomy está doido para voltar para casa.
– Cadê ele?
– O pessoal deixo-o preso no meu quarto, mas cuidam bem do animal. Eu vou tomar café para ir trabalha, eles fizeram um ótimo trabalho me curando.
– Ok. Eu vou voltar para minha mesa. Até mais, pai!
Ele acenou e voltou a comer pão com queijo e suco de laranja. Eu já tinha pegado a minha refeição e voltei para a mesa dos meus colegas. Eles pareciam animados com a ideia de eu ser selecionado para alguma das classes.
– Bicho, aposto que você é do meu time. Um mutante bem escroto.
– Eu não sei se é legal ficar mudando de forma. – Quando eu falei isso, Leandro fez uma tromba de elefante e transformou os membros superiores em braços de macaco.
– Como não?
– Você vai ser um manipulador – Natália anunciou, séria. – Só assim você poderá fazer parte da nossa equipe e ir buscar Zeca. Ontem eu não tinha entendido por que o diretor quis você, mas agora faz todo o sentido. Os lagartos-come-lixo estavam atrás de alguma coisa. Na verdade, estavam atrás de você. Se nós formos buscar Zeca e não o encontrarmos, podemos ficar parados e eles nos encontrarão, pois virão até você, Marcelo.
Ser importante para a equipe era algo bom. Ser alvo de criaturas monstruosas e gigantes, não. Aquelas palavras de Natália fizeram todos ficar pensativos. Desde que cheguei aqui, nunca parei para pensar como deveria ser difícil perder alguém tão próximo. Pâmela tinha razão em estar com raiva de mim, afinal foi por minha culpa que tudo aconteceu. Eu precisava dar um jeito de corrigir isso antes que fosse tarde demais.
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Escola de Guardiões
FantasyO mundo não é mais seguro para mim. Eu descobri que existem portais ligando nosso planeta a mundos desconhecidos, onde a magia, a tecnologia e a ciência são mais evoluídas. Para que não sejamos invadidos por criaturas hostis, o governo criou uma esc...