Capítulo 10 - Duelo contra o carvalho

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A variedade de árvores existentes ali era extraordinária. Eu vi desde magrelos cactos até frondosos pinheiros; plantinhas em que brotavam roseiras, girassóis e petúnias se mesclavam com imponentes mangueiras, cerejeiras e até mesmo sakuras, aquelas árvores típicas do Japão. Algumas eu nunca tinha visto antes e outras pareciam de outro planeta.

Nós caminhos em passos lentos, tentando seguir uma trilha que desapareceu depois de alguns minutos. Samyra ia à frente, ela estava determinada a falar com o tal mago para obter a sua antiga aparência. Contudo, à medida que nós avançávamos, mais densa ficava a vegetação, como se estivéssemos caminhando dentro de uma floresta fechada.

Eu pressenti uma coisa se mexer ao meu lado e movi a espada para a direita. Em seguida, algo passou perto de Natália, fazendo-a ergue o arco e apontando para um pé de caqui. Jorge já estava com o seu tacape a posto quando vimos Samyra parar. Ela ficou parada diante de uma enorme árvore cercada por outras tantas, a qual seria impossível continuar a nossa caminhada. Ao redor, a mata continuava a se fechar e só então percebi a realidade:

– Nós não estamos caminhando para uma mata fechada. O jardim é que está nos imprensando.

De fato, as árvores moviam-se lentamente em nossa direção. Eu balancei a espada de um lado ao outro e percebi que os galhos se moviam rapidamente, evitando serem cortados pela minha lâmina. Natália atirou a flecha e as folhas se afastaram como resposta, deixando a flecha voar na direção do céu. Samyra tentou escalar a árvore, mas os galhos se moviam do lugar e ela caia toda vez que subia meio metro do chão. As árvores começaram a nos sufocar, quando eu gritei:

– Nós só queremos falar com o Mago Crispim! Ele está em casa?

As árvores, de repente, pararam de se mover. Elas balançaram as folhas nervosamente, pareceram concordar com alguma coisa. As plantas se afastaram um pouco de nós para permitir que respirássemos melhor.

– E aí? O mago vai vir ou não? – eu quis saber.

O tronco da enorme árvore à nossa frente começou a descascar. Demos um passo para trás com o susto e finalmente vimos que, na verdade, aquilo era uma mensagem para nós. O idioma não era o português e infelizmente nossas pulseiras não traduziam textos escritos. Samyra deu dois passos e leu em voz alta:

– "Se quer encontrar o mago, um teste deve passar. Escolham o melhor guerreiro para um duelo mortal superar."

Aquilo não era bem uma charada. Alguém precisava topar ter uma luta de vida ou morte contra árvores gigantes para conseguirmos falar com o mago. Jorge ficou na frente da árvore e bateu três vezes com o seu tacape.

– Não, Jorge! – falei. – Eu posso ir. Afinal, sou o único guerreiro daqui.

– Acredite, quando o assunto é duelo, você não tem mais experiência do que eu.

Natália concordou com ele e vimos a árvore se mexer, dando vez para que o garoto passasse. Quando iríamos fazer o mesmo, entretanto, a árvore se fechou, impedindo a nossa caminhada.

– Ei, queremos ver o duelo também! – Natália berrou.

Raízes profundas saíram do chão e começaram a nos envolver, erguendo-nos do solo. Eu gritei e bati várias vezes contra as raízes, que apertavam com força a minha cintura. Elas nos ergueram até uns três metros de altura, onda ficamos acomodadas em poltronas de casca de árvore. Eu sei que cadeiras são feitas assim, mas estar sentado em cadeiras de madeira viva era bem esquisito. Natália não pareceu nem um pouco confortável, igual a Samyra.

Lá embaixo, uma arena de luta se formou. As árvores deram espaço, formando um quadrado de 20 metros de lado semelhante a um ringue de luta. Jorge estava lá embaixo, segurando o seu tacape. Por mais que a situação fosse inusitada, ele não transmitia nervosismo nem desespero. Parecia pronto para o combate. Uma árvore apareceu do outro lado, sendo ovacionada com inúmeros chacoalhar de folhas. Deveria ser assim que as árvores batem palmas. A árvore a frente de Jorge era um carvalho de mais ou menos quatro metros de altura. Sua cabeça se agitava para cima e para baixo enquanto dois troncos serviam como braços, cada um recheado por folhas. Receber um murro desse tipo não deve ser nada agradável.

Escola de GuardiõesWhere stories live. Discover now