Liderar um exército contra a humanidade? Esse não era o pior dos meus pesadelos. Na verdade, eu estava sofrendo bem mais agora. O plano de Samyra para invadir o castelo era muito bom, mas eu precisava fazer coisas que nunca imaginei fazer antes. Como, por exemplo, despir um homem na frente das minhas duas aliadas.
– Eu realmente preciso tirar a roupa desses soldados? – perguntei, olhando para os dois grandalhões que eu tinha nocauteado com a minha espada. Eles adormeciam no chão, alheios a tudo. Samyra cruzou os braços.
– Não é a roupa deles, é apenas a armadura. Você e Jorge deverão se passar pelos soldados e assim nós iremos entrar no castelo.
– E se eles não estiverem vestindo roupa de baixo? Eu nem sei se existe cueca nessa época! – Samyra olhou séria para mim. – Você por acaso está usando...
– Marcelo, deixa de ser mole e tira logo a roupa desse cara! – Natália esbravejou, de uma maneira que eu torcia para que nenhum amigo meu pudesse escutar (mesmo eles estando em outra dimensão).
Enquanto isso, Jorge retirava os prisioneiros da carruagem. Ele usou o seu tacape para quebrar a enorme fechadura e ajudava cada pessoa a descer de lá. A maioria estava bastante desnutrida e ferida, mas todos abriam um largo sorriso com o gesto. O rapaz agradecia educadamente. O último a descer foi um senhor bastante idoso, que logo explicou a Jorge o que havia acontecido. Depois que a rainha Samyra surtou (ou seja, que a bruxa malvada tomou o lugar da verdadeira rainha), as regras do reino mudaram. As pessoas passaram a pagar altíssimos impostos; o toque de recolher fora estabelecido para todos os cidadãos e os rapazes, a partir dos 14 anos de idade, deveriam se alistar para o exército. O sistema de escravidão voltou a funcionar, mesmo depois de 100 anos sem essa prática, fazendo os ladrões e malfeitores se transformarem em escravos humilhados. Quando o sistema carcerário não tinha mais nenhuma pobre alma para virar escrava, a falsa Samyra mandou comprar escravos de outros lugares. Diversos reinos aliados voltaram a aderir esta prática, influenciados pelo poder da rainha Samyra. Poucos eram as pessoas que viviam felizes no novo reinado.
Assim que eu despi o segundo guerreiro, que por sorte possuía roupa de baixos, nós nos juntamos perto da carruagem e Jorge nos contou toda a história. Lágrimas caíram dos olhos da verdadeira Samyra, que estava inconformada e sofria pelo seu povo.
– Não se preocupe, em breve essa bruxa receberá a punição que merece – o bárbaro disse.
– Eu faço questão de dá um pé na bunda dela na frente de todo mundo. Eles vão chamar esse dia do Feriado do Desmascaramento da Bruxa Malvada – eu contei e pude ver um leve sorriso no rosto da rainha.
– Eu fico imensamente grata por todo o apoio que vocês estão me dando. Contudo, precisamos ser corajosos se queremos derrubar o reino. Tenho certeza que a bruxa já está esperando a nossa vinda, já que ela aparenta ter tanta influência. – Nós assentimos, esperando o resto do plano. – Eu e Natália vamos atrás, onde os prisioneiros estavam. Eu posso criar uma ilusão e fingir que existem algumas dezenas de pessoas presas além de nós duas. Você e Jorge devem ir na frente e agir como se fossem soldados ignorantes e cruéis. Lembrem-se de nunca se intimidar ou agradecer. Vocês serão brutamontes sem coração.
Eu olhei para Jorge e ele fez o mesmo. Nos imaginar ferozes e malvados era meio difícil, mas precisávamos fazer isso pelo bem do nosso grupo. Natália nos lembrou que Zeca, provavelmente, estaria no calabouço junto com os outros prisioneiros do castelo. Deveremos fingir que não o conhecemos para não ter o disfarce revelado. Depois de todos concordarem com o plano, fomos para a nossa posição.
Eu peguei a armadura e coloquei sobre o meu corpo, que parecia minúsculo diante da minha nova vestimenta. O capacete era grande demais e eu não conseguia ver muito bem as coisas na minha frente. Ao contrário de mim, Jorge pareceu um verdadeiro soldado real com a armadura, que caiu perfeitamente bem em seu corpo. Imaginei se era assim que eles treinavam nas aulas de lutas medievais na Escola de Guardiões. Eu faltei às aulas práticas por motivo de forças maior (o celular não despertou). Samyra e Natália sentaram-se na jaula dos prisioneiros e eu vi, pelas reações de Jorge e Natália, que a ilusão de Samyra era realmente espetacular. Eu fui para a frente da carruagem, ficando ao lado do bárbaro.
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Escola de Guardiões
FantasyO mundo não é mais seguro para mim. Eu descobri que existem portais ligando nosso planeta a mundos desconhecidos, onde a magia, a tecnologia e a ciência são mais evoluídas. Para que não sejamos invadidos por criaturas hostis, o governo criou uma esc...