Capítulo 11 - Mago Crispim

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A sala do mago Crispim possuía um grande caldeirão no centro, ao qual saia uma fumaça cinzenta. O teto era abobadado e bastante alto, com uma fissura para permitir a saída da fumaça. Nas paredes existiam várias prateleiras e armários contendo os mais variados tipos de poções e ingredientes mágicos, além de uma estante repleta de livros antigos. O mago estava sentado em uma cadeira de três pernas, encarando Samyra. Eu entrei no meio da conversa entre os dois.

– O que a senhorita me pede é impossível.

– Eu terei que ser uma velhinha para sempre?

– Não foi isso que lhe informei. Pediste para que eu a transformasse na rainha Samyra novamente. Este feito não será realizado. Todavia, a senhorita ficará como velhinha se quiser.

– Eu não entendo!

O sábio mago levantou-se da cadeira e foi até uma prateleira, procurando uma poção específica. Ele puxou um vidro de cor âmbar e o mexeu próximo ao rosto, vendo a coloração ficar mais intensa. Voltou para frente de Samyra. Ela imaginou se teria que tomar aquilo, até o mago molhar as pontas do dedo com o líquido.

– O problema não está na pedra de safira verde. – Ele passou o dedo molhado na testa da garota. – Está na tua mente. A senhorita colocou na cabeça que é uma velha e a pedra de safira respondeu obedientemente. Se pedir para se tornar jovem novamente, assim acontecerá. A feiticeira negra não te deixou confinada neste corpo, apenas roubou a sua aparência atual. Os outros verão o que tu queres, exceto a aparência da rainha Samyra, pois aquele corpo agora pertence à bruxa.

– O senhor está me dizendo que a feiticeira me deu um colar mágico? Ela não pensou que eu poderia, de alguma forma, aprender a usá-lo?

– As pessoas ambiciosas tendem a menosprezar os seus inimigos. Prove a ela o teu real valor e o feitiço será lançado contra o feiticeiro.

A garota levantou-se destemida. O mago mostrou um antigo espelho, onde Samyra poderia ver como estava na forma ilusória. Eu aproveitei para espiar, levando um susto. O reflexo da garota era horrível, parecia uma senhora de orelhas grandes e cabelo desgrenhado. A moça tocou levemente as mãos no colar, fixando à mente a imagem a qual queria ser. Aos poucos, os cabelos brancos ficaram loiros como o sol, a pele deixou de ser flácida e sua altura diminuiu. Ela estava jovem, uma garota com 16 anos. Olhos negros, nariz pequeno, cabelo cacheado. Até mesmo as suas roupas mudaram, adquirindo um vestido cor anil. Entretanto, o colar de safira continuava amostra, por mais que ela desejasse cobri-lo com novas vestimentas.

– Um detalhe para lembra-la de que esta não é a sua verdadeira forma. Por mais que mude de aparência, o colar nunca desaparecerá.

– Como eu faço para recuperar minha verdadeira identidade?

– Ao fazer a maldição, a feiticeira deve ter ficado com algum item teu, talvez um pedaço do teu cabelo. Assim como o colar, ela precisa de uma joia a qual fique permanentemente em seu contato. Pegue a joia e a maldição acabará. Quebre a joia e a própria bruxa chegará ao fim. A senhorita não reparou, mas a cada dia parte da sua juventude está sendo sugada. A feiticeira negra é conhecida por roubar a juventude das pessoas.

O mago virou-se; começou a procurar um livro antigo, abrindo em uma página qualquer e lendo entusiasmado. Por um momento, pensei que ia procurar alguma coisa importante para a conversação, até ter certeza de que eu ainda não tinha sido reparado. Samyra estava radiante com o novo poder, apesar de querer mais do que tudo acabar com aquela feiticeira. Eu, por outro lado, queria achar Zeca para voltar logo para casa.

Percebi que precisaria chamar a atenção do velhote, por isso acenei. Fui novamente ignorado. Samyra deu de ombros, sem saber o que fazer.

– Velho Crispim! Velho Crispim! – gritei.

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