Eu bati na porta e perguntei se podia entrar. Já fazia mais de duas semanas que eu havia voltado da missão de resgate. As coisas estavam caminhando bem: eu treinava todos os dias com a minha equipe, estudava nas horas vagas e jogava Xbox com Leandro para relaxar. Escutei o professor Alfredo responder do outro lado da porta, mandando-me entrar. Abri a porta em seguida.
– O senhor me chamou? – perguntei inseguro. Da última vez, ele tentou cortar a minha cabeça.
– Sim. Por favor, se sente. – Eu obedeci. Ele estendeu a mão. – Cadê?
– Cadê o quê?
– A pedra preciosa. Você não a trouxe do outro mundo?
Aquele professor só podia estar ficando maluco. Eu encarei a mão dele estendida, sem saber muito bem do que se tratava.
– A pedra de safira ficou com Samyra, no mundo de Nallük, se é isso que você está perguntando.
– Claro que eu não quero ficar com uma joia daquelas. Aquilo só serve para fazer confusão. Eu quero saber do anel da selagem, onde você o guardou?
– O anel da selagem? – Eu cocei a cabeça. E então entrei em pânico. – Em formato de caveira?
– Esse mesmo! Que menino esperto você é! Pode ficar tranquilo, eu não vou tentar te matar dessa vez. Você é esperto e fez jus a espada de Éron. Agora entregue-me o anel porque ele é muito importante. Moleques como você sabem como perder as coisas ou quebra-las.
Eu engoli em seco. Pelo visto, realmente sei como quebrar as coisas. Literalmente.
– Eu o destruí.
– Você fez o quê?
O velho bateu na mesa com força; eu me perguntei como a mão dele não ficou vermelha ou como não fraturou todos os ossos do dedo. Ele arregalou os olhos e eu tive a impressão de escutar seus batimentos cardíacos que pulsavam como louco. O professor Alfredo estava desesperado.
– Por que você quebrou o anel de selagem, garoto?
– Porque ele era a joia que amaldiçoava Samyra. A minha mãe me deu para eu libertar a rainha. Eu fiz a coisa certa.
– Ela mandou você quebrar? Ela disse: "Tome, Marcelo, e quebre esse anel com a espada de Éron"?
Eu fiquei pálido.
– Não, não disse.
– Você não tem noção das coisas mesmo. Eu acho que escolhi errado a sua classe: você é um bárbaro, isso sim. O anel da selagem foi utilizado para prender Yagnar, uma criatura incrivelmente forte e que a sua mãe deu a vida para mantê-la presa em uma dimensão vazia, onde Yagnar não incomodaria ninguém. Todos os mundos viveriam em paz e a vida seria perfeita, como no conto de fadas, caso você não fizesse besteira. Aí Adiragram chega, com toda a sua esperteza, e coloca o fio de cabelo de Samyra dentro da mesma joia onde Yagnar está preso. Feiticeira inteligente aquela! Ela sabia que um idiota como você iria quebrar a joia em vez de pensar em simplesmente retirar o fio de cabelo.
– Como eu faria isso? E como você sabe de tudo isso?
– Eu tenho meus métodos, Marcelo. Acha que eu não conheço o Mago Crispim? Ele projetou um aparelho perfeito para puxar o fio. Era só girar uma pedrinha e puft! A maldição de Samyra seria desfeita e nós ainda teríamos o Yagnar aprisionado. Agora nada disso é importa porque a prisão dele já era. É questão de tempo até ele conseguir achar uma brecha do seu mundo e vir atrás de você.
– De mim? – Meu coração batia rápido. Eu nunca tinha visto o professor Alfredo perder a paciência daquela forma. Ele caminhou até o armário com seu pequeno arsenal e começou a contar cada arma. Era como se estivesse analisando se teria armas suficientes para entregar a todos os alunos da Escola de Guardiões. – O que é tão ruim assim?
– Marcelo, Yagnar é um monstro maligno. Ele já causou problemas antes e foi aprisionado, mas ninguém nunca conseguiu mata-lo. Adiragram quase o trouxe de volta para a nossa dimensão, mas a sua mãe conseguiu deter a feiticeira negra em troca da própria vida. Sabe por que ele vai vir atrás de você?
– Vingança? – Chutei.
– Deixe de falar besteira! Ele vai vir atrás de você porque ele quer o seu dom. Você consegue abrir portais, Marcelo, e ele está louco para ter esse controle também. Apesar de que agora você já deve ter desequilibrado todas as dimensões. A energia liberada ao quebrar a joia se espalhou pelas barreiras entre os mundos, fragilizando-as. Imagine que exista um vidro blindado de 75 milímetros que separa os mundos paralelos. Sabe o que aconteceu quando você quebrou a maldição de Yagnar? A barreira se transformou em um vidro comum de 2 milímetros! Entendeu a comparação?
Eu olhei atônito para ele. Toda aquela informação fez minha cabeça girar. Eu queria acreditar que o professor Alfredo estivesse exagerando, fazendo uma tempestade em um copo d'água. Entretanto, ele estava realmente contando quantas armas tinha no seu armário. O meu celular vibrou avisando que um novo portal havia surgido perto do Marco Zero, no Recife Antigo. E então outro portal apareceu na Praia de Boa Viagem. E outro no Shopping RioMar. E um quarto portal em Fernando de Noronha. Inúmeros portais começaram a surgir nos mais variados lugares de Pernambuco. E do Brasil.
À essa altura o professor Alfredo já tinha me esquecido e procurava desesperadamente por armamento que pudesse equipar até mesmo os zeladores da Escola de Guardiões. Eu abri a porta e me deparei com um corredor repleto de jovens correndo de um lado ao outro, segurando suas espadas, falando com suas equipes pelo celular e arquitetando planos de luta enquanto ainda estavam de pijama. O meu celular tocou e eu atendi rapidamente.
– Marcelo, o que está acontecendo? – Natália perguntou do outro lado da linha. – Você sabe de alguma coisa?
– Eu transformei um vidro blindado de 75 milímetros em vidro comum. – Ela fez um "hã" do outro lado do celular. Eu continuei. – E Yagnar está tentando vir ao nosso mundo me caçar.
– Yagnar? – A voz de Natália era de pânico. – Isso é muito sério, Marcelo! Existem lendas sobre essa criatura, lendas terríveis.
– Não importa, milhares de portais estão surgindo e não temos pessoas suficientes para tomar conta de tudo.
– Isso não é nada comparado ao que Yagnar pode fazer. Fechar portais? Isso nós já estamos craques. Agora conseguir vencer um monstro milenar... Ninguém está preparado para isso!
– Eu darei um jeito nisso, Natália. Acharemos uma solução.
– Me encontre na sala de estar em meia-hora. Jorge já está vindo.
– Certo.
Nós desligamos. Eu comecei a andar pelo corredor com a espada de Éron nas mãos. Se eu fui o culpado pelo mundo ter virado um caos, eu serei o responsável por restaurar a ordem dessa bagunça. Não posso deixar meus amigos sofrerem por causa dos meus erros. Não pela segunda vez.
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Escola de Guardiões
FantasyO mundo não é mais seguro para mim. Eu descobri que existem portais ligando nosso planeta a mundos desconhecidos, onde a magia, a tecnologia e a ciência são mais evoluídas. Para que não sejamos invadidos por criaturas hostis, o governo criou uma esc...