Paramos em uma clareira depois de muita correria. Jorge me entregou a espada de Éron, pedindo desculpa por não ter consigo resgatar também a minha mochila e o escudo. A espada com certeza era o item mais valioso que eu tinha. Natália abriu a sua mochila e viu os mantimentos que possuía. A água era pouca para quatro pessoas, mas daria para passar a noite sem ninguém desidratar. O bárbaro começou a coletar lenha para fazer a fogueira e eu me deitei no chão, usando a mochila de Natália como travesseiro, enquanto ela olhava para a minha ferida na perna.
– Isso vai doer um pouco – avisou antes de puxar a flecha.
Eu gritei de dor como resposta. Todavia, as mãos de Natália eram suaves e moviam-se depressa sobre o ferimento. Ela utilizou seu fluido vital para estancar o sangramento e curar a ferida mais profunda, deixando o resto para que meu corpo finalizasse. Eu estudei sobre os curandeiros na escola, mas sua arte de curar sempre será fascinante para mim. Jorge chegou com a lenha despejando tudo no chão.
– Bom, acho que está na hora da gente conversar. Eu não conheço a velhinha aí! – E indicou a garota que me ajudou na fuga.
Algumas vezes, Jorge não sabia fazer uma piada. Percebi que ninguém tentou rir e reparei que ele estava falando sério. De alguma forma, tanto Jorge quanto Natália viam a garota misteriosa como uma senhora de uns setenta anos de idade.
– Eu sou Samyra e estou grata por vocês terem me salvado. Contudo, não posso exigir que gastem seus suprimentos com uma velha...
– Pera aí! Você não é velha coisa nenhuma, se brincar é mais jovem do que Natália! – Todos me olharam assustados. – Diga a verdade, Samyra! Quem está vendo a sua verdadeira forma?
Natália segurou o seu arco, preparada para atacar caso estivesse diante de uma ameaça. Eu não achei que isso fosse necessário, mas entendo os motivos da minha aliada. Jorge finalmente conseguiu fazer o fogo e fez uma dancinha tosca da vitória. Em seguida, percebeu que grandes revelações estavam prestes a acontecer.
– Eu não sei como você é capaz de me ver assim, garoto, mas eu sou tão jovem quanto todos vocês. Infelizmente, fui amaldiçoada por uma bruxa maligna que roubou minha identidade e está se passando por mim nesse exato momento. Ela colocou esse colar no meu pescoço. Desde então, todos me vêem como uma velha de nariz curvado.
– Por que você simplesmente não tira o colar? – Natália perguntou.
– É impossível. Eu já tentei, acredite.
– Isso é moleza para mim – Jorge disse.
Ele foi até a menina, pedindo logo desculpa caso a machucasse sem querer. Samyra assentiu. O bárbaro começou a puxar o colar sem resultado. Parecia que a joia estava colada no corpo da menina. Toda vez que ele dava um puxão, a garota ia para frente ou para trás, dependendo do movimento de Jorge. Por mais que o rapaz tentasse, nada funcionava. Natália foi a segunda a tentar e também não obteve êxito. Eu fui por último, percebendo que minha força era nada comparada àquela magia.
– Você passará o resto da vida assim?
– Não. Eu estava indo para a cabana do velho Mago Crispim, dizem que é o maior feiticeiro das redondezas e poderá dar um jeito nesse colar. Infelizmente, no caminho acabei cruzando com aqueles canibais e agora estou aqui.
– Onde fica essa tal cabana? – Natália interrogou.
– Ao norte, perto daquelas montanhas. – A menina apontou para o alto e vimos vários rochedos sobressaindo do verde das árvores. Apesar de estar escurecendo, deu para ver nitidamente a formação rochosa. Parecia perto.
– Nós vamos com você – eu disse.
– Não mesmo! – a curandeira retrucou, ofendida. – Nós estamos aqui para salvar Zeca e, pelo radar do meu celular, ele não está muito longe. Cerca de 7 quilômetros para o oeste.
– Depois do rio? – A menina quis saber.
Natália assentiu ainda mais desconfiada.
– Por quê?
– É de lá que eu vim. Se vocês quiserem, posso acompanhá-los até o meu reino.
– Você fala como se fosse dona do castelo.
– Eu sou. Ou era. Rainha Samyra Bellof do Reino de Crisélia. Vocês acham mesmo que uma feiticeira iria querer tomar o lugar de qualquer pessoa? Agora que me colocou do lado de fora, está comandando as tropas, os cidadãos e até mesmo os impostos do reino! Por isso que preciso quebrar a maldição, para colocar um basta naquela bruxa e trazer a paz de volta para o meu povo.
– Pera aí, você disse que essa tal feiticeira está controlando tudo por lá, certo? – A menina concordou. A cabeça de Jorge parecia que ia sair fumaça de tanto pensar. – Então ela poderia controlar, por exemplo, animais menores ou lagartos?
– Portanto que sejam seres asquerosos e de má índole, com certeza. Ela tem muitos súditos e um deles consegue manipular animais inferiores. Todos nós estamos em perigo com aquela louca no poder.
Nos entreolhamos rapidamente. Tudo começava a fazer sentido na nossa missão. Era óbvio que lagartos-come-lixo não atacavam pessoas, nem tão pouco sequestrava crianças para outro reino, exceto se estiverem sendo controlados por uma bruxa de mente maligna. Caso isso fosse verdade, provavelmente Zeca estaria lá no reino, entre os prisioneiros da rainha, esperando para ser salvo por nós.
Natália ainda estava desconfiada de toda a conversa, principalmente com o fato dela se dizer ser uma rainha, quando via apenas uma velhinha já perto de ir dessa para melhor. Se eu não estivesse na equipe, com certeza iriam achar que era tudo invenção de Samyra. Mas eu conseguia ver através da maldição da feiticeira e tinha certeza que ela era bem mais jovem do que todos julgavam.
Um minuto de silêncio se passou. Tanto eu quanto Jorge queríamos ajudar Samyra a recuperar a sua verdadeira aparência para depois ir atrás de Zeca. Faltava apenas Natália se decidir.
– Tudo bem, eu concordo em procurarmos o tal mago junto com a rainha Samyra. Entretanto, iremos fazer isso ao amanhecer, pois a floresta possui muitos perigosos à noite.
– Obrigada – Samyra agradeceu.
Jorge propôs que cada um passasse duas horas acordado de vigília enquanto os outros três dormissem. Na escala, Samyra ficou de fora, já que não sabíamos qual seria a sua habilidade no campo de batalha. Natália não confiava na nova companheira a ponto de deixá-la vigiando, o que era mais um motivo para sua exclusão. Tiramos no "zerinho ou um" quem iria ser o primeiro a ficar acordado e eu perdi. Como minha perna já estava boa, subi em cima de uma árvore e fiquei vigiando do alto. A noite passou rápido, quando vi Jorge se levantar para fazer a sua vigília. Eu dormi em cima da árvore.
BINABASA MO ANG
Escola de Guardiões
FantasyO mundo não é mais seguro para mim. Eu descobri que existem portais ligando nosso planeta a mundos desconhecidos, onde a magia, a tecnologia e a ciência são mais evoluídas. Para que não sejamos invadidos por criaturas hostis, o governo criou uma esc...