Capítulo 21 - Dois lados

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Eu senti meu coração pulsando rápido, freneticamente. Minhas mãos adquiriram um brilho prateado, passando para a espada de Éron que logo irradiou uma luz muito clara e sumiu, criando um portal atrás de mim. Eu vi o rosto horrorizado de Adiragram, como se ela estivesse encarando uma assombração. Olhei para trás e tive a mesma reação: lá estava a minha mãe, Margarida, flutuando com um vestido alvo e um sorriso simpático no rosto. Ela saiu de um portal branco que irradiava luz para todos os lados.

– Mãe? É você? – Eu pensei em correr para abraça-la, mas tive medo que ela se dissolvesse nos meus braços.

– Claro que sou eu, meu filho. – O corpo dela desceu ao chão; reparei que estava descalça. – E aquela também é.

– Eu sou sua parte ruim, você quer dizer. – Adiragram respondeu rispidamente. Minha mãe, a iluminada, colocou-se entre mim e a bruxa horrenda. – Você resolveu que estava na hora de descartar todo o rancor, mágoa e ódio que existia dentro da doce Margarida e assim eu surgir. Uma pena que você morreu e eu não.

Minha cabeça girou. Eu tive a mesma sensação quando fui na primeira vez na montanha-russa, a diferença é que minha vida virou de ponta-cabeça de uma maneira bem mais radical. Então a minha mãe havia se dividido em duas? Uma parte boa e uma parte ruim?

– Eu precisei fazer isso, você sabe muito bem. – Margarida continuava calma. – Mas chegou a hora de você se redimir, Adiragram.

Adiragram, nome contrário ao de Margarida. Claro! Eu deveria ter percebido isso quando encontrei a feiticeira malvada. O problema é que sou um idiota nato. Quando me lembrei das cenas de minha mãe na infância, era Margarida a quem eu sentia falta. E ela veio por causa da minha habilidade maluca de abrir portais. Legal.

Ao redor, os esqueletos tinham se afastado de nós três. Parecia que a conversa era particular demais para eles. Betão estava desmaiado no chão; já a bruxa de olhos cinzentos, que tinha erguido o grandalhão, agora observava nossa conversa bastante interessada. Parecia que estava se preparando para o ataque. O mesmo acontecia com a velhota de nariz encurvado, que deixou Pâmela cuspindo gosma nojenta. Elas ficavam rodeando a gente, procurando nossos pontos fracos, nos analisando.

– Redimir de que se só me resta a dor e o sofrimento? – Adiragram indagou, bufando. – Eu não tenho medo de assombração, principalmente quando sei que elas são fracas! Você vai me entregar esse menino aí porque ele poderá abrir o portal onde está o grande Yagnar! Não é mesmo?

Eu tentei me mexer, entretanto meus pés continuavam presos nas correntes negras de Adiragram. Gemidos de Jorge puderam ser ouvidos e percebi que o bárbaro estava apanhando feio das caveiras. Aquela cena me encheu de raiva, eu precisava fazer alguma coisa. Margarida, minha verdadeira mãe, olhou de relance para trás e movimentou a mão sutilmente, como se torcesse o ar. As correntes negras se esfarelaram.

– Adiragram, eu peço desculpa pelo que eu fiz. Eu era jovem e precisava que você ficasse nesse mundo para eu poder ir ao Planeta Terra, encontrar meu verdadeiro amor. Contudo, você não precisa passar o resto da vida em sofrimento. Você sofre porque você faz os outros sofrerem. Não existe treva suprema sem um pouquinho de luz. Você não é só minha parte ruim, existe coisas boas também em você.

– Mentirosa! Você me fez assim! – As rugas no rosto de Adiragram ficaram mais evidentes. Ela respirou fundo e uma energia negra se formou em suas mãos. – Você não vai conseguir me enganar com esse papo furado.

– Você não precisa lutar contra mim. Somos uma só.

Eu fitei os olhos da feiticeira malvada. Aquilo era uma lágrima? Não pude ficar refletindo durante muito tempo porque Jorge gritou de dor e caiu no chão com um ferimento no ombro. E então a bola negra de Adiragram voou contra a minha mãe.

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