Capítulo 16 - Relato de um ex-prisioneiro

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Jorge bateu o tacape no chão descontar toda a revolta. Eu coloquei Samyra sentada em um banco na própria cela de Zeca e fui falar com Jorge, tentar acalmá-lo antes que ele destruísse todo o castelo e nos deixe soterrados.

– Jorge, respira um pouco. A gente vai dar um jeito nisso, Natália pode curar as pessoas e o diretor deve ter alguma forma de recuperar a visão de Zeca.

– Não, Natália não pode curar feridas que já foram cicatrizadas – o garoto revelou. Ele já tinha jogado o capacete da armadura no chão e agora esmurrava a parede. – Manipuladores não são fáceis de regenerar. Não são como nós, humanos, que podemos trocar de rins caso algum dê defeito. Não existe transplante ou magia que faça o Zeca voltar a enxergar... Eu falhei, cara! O diretor acreditou em mim para salvar Zeca e eu não consegui.

Ele marchou para fora da jaula e olhou ao seu redor. Existiam várias outras celas onde grupos de prisioneiros eram mantidos, aguardando o momento de serem servos e começarem a trabalhar sem parar. Jorge colocou o tacape no ombro e balançou o cabelo castanho a cada passo, tentando decidir o que faria primeiro. Fiquei em dúvida se a decisão seria entre destruir todas as celas ou me matar. Afinal de contas, tudo começou por minha causa.

Com um passo, vi que ele pretendia abrir as celas das outras pessoas. Os prisioneiros deram uivos de alegria e pareceram animados com a ideia, mas logo percebi a real intenção de Jorge.

– Você não pode criar um motim agora! – Avisei, ficando entre ele e a cela. - Esses prisioneiros estão desarmados e há guardas lá fora com espadas, arcos-e-flechas e o arsenal inteiro de Jogos Vorazes. Se os prisioneiros ficarem na cela, eles não sofrerão. Mas se eles saírem, cara... Vai ser muito ruim.

– A gente tem que fazer alguma coisa! Você acha certo deixá-los aqui para sofrerem na mão daquela doida?

– Não – Samyra falou. Ela estava em pé, apoiada na grade, e olhou firme para nós. – Marcelo tem razão, os prisioneiros ficarão seguros onde estão. Entreguem-me a coroa real e eu colocarei todo o Reino de Crisélia nos eixos. Os escravos voltarão a ser livre! Não se preocupe com isso.

O clima não poderia estar pior. Jorge passou um tempo pensativo. Dava para ver o quanto ele queria quebrar todos os cadeados com o seu tacape e libertar os escravos, entretanto nossos argumentos eram bons. Ele precisava agir com a razão caso quisesse sair de lá vivo. Jorge desistiu de sua revolta e voltou para a cela de Zeca; colocou o rapaz no ombro e o carregou até a porta de entrada. Natália estava com as mãos espalmadas para frente, soando frio.

– Já achava que tinham se esquecido de mim – ela comentou. De repente, viu o seu antigo parceiro de equipe. – ZECA!

Uma onda de choque se espalhou do campo de força, derrubando todos os soldados que tentavam invadir o calabouço. A curandeira desceu as escadas de dois em dois degraus e segurou a mão do amigo, que ainda estava sendo carregado. Ela beijou a bochecha de Zeca e deu um abraço estranho, já que o rapaz não conseguia se mexer muito bem por estar no ombro de Jorge. Foi então que Samyra apontou para o canto esquerdo do calabouço.

– Ali tem um corredor que nos levará ao interior do castelo. Devemos sair daqui logo! Daqui a pouco os guardas se levantam e voltam a nos atacar! – E nós corremos como loucos para o tal corredor.

O local era úmido e as paredes feitas de pedra, sendo tudo iluminado por tochas penduradas. Eu fiquei responsável por ajudar Samyra a andar, já que ela ainda estava bastante fraca, enquanto Jorge carregava o colega com facilidade. Depois de algum tempo de atraso, Jorge finalmente resolveu carregar Samyra no outro ombro e voltou a correr naturalmente. Isso que eu chamo de disposição.

Passamos alguns minutos indo de corredor em corredor, com Samyra sempre apontando a direção certa a seguir. Podíamos confiar nela, já que tinha sido criada e crescera naquele ambiente. Quando finalmente já tínhamos corrido meia-maratona, os barulhos de armas e pessoas marchando em nossa direção puderam ser ouvidos.

Escola de GuardiõesWhere stories live. Discover now