Capítulo 20 - Bruxaria

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Eu pensei em oferecer ajuda a Jorge, mas ele não precisava. O rapaz parecia carregar uma boneca de pano enquanto corria, a diferença era que a boneca não parava de falar. Quando digo em boneca, estou me referindo a Lúcia. Ela contou sobre como o diretor fez uma reunião de emergência assim que viu um portal sendo aberto para Nallük, supondo que alguma coisa errada havia acontecido. As equipes 5 e 8 estavam disponíveis e tinham experiência suficiente para fazer parte da missão.

– Na verdade, acho que o diretor não teve muita opção com relação à Pâmela. Ela ameaçou arranhar as paredes da escola com o chakram caso não fosse convocada para a missão. Aquela lá não gira muito bem da cabeça, mas é uma ótima amiga! Você só não pode irritar ela. Como eu sou bastante legal, e poucos se irritam comigo, acho que eu e Pâmela seremos best friends... – a mutante tagarelava.

Apesar da conversa animada, ela tinha vários arranhões nos braços e hematomas nas pernas, além de parecer exausta. Só então percebi o motivo: inúmeros soldados estavam pendurados nos telhados do castelo, na muralha ou nas barracas; em qualquer canto que desse para pendurar uma armadura (ou cueca) e deixá-lo desesperado. Era assim que Lúcia lutava afinal, deixando os inimigos em condições constrangedoras e desconfortáveis. Juro que acabei de ver a cueca de um soldado rasgar e ele cair em cima de uma carroça.

À medida que chegávamos mais perto do portal, mais meu coração ficava acelerado. Pude ver o estrago ao redor: homens feridos no chão, com suas armaduras quebradas ou estilhaçadas. Várias mulheres procuravam seus maridos para consolá-los, tentando leva-los para dentro do castelo. Aquela cena não era habitual em um campo de batalha. Parecia que muitos homens não queriam fazer parte daquilo, desistindo da luta após a primeira queda.

– Eles não sabem o motivo da batalha. São homens comuns, forçados a lutar pela ameaça da rainha. Às vezes, não é preciso poderes mágicos para manipular as pessoas – Natália comentou ao observar meu olhar inconformado.

Perto do portal, Mariana estava deitada no chão, com um ferimento grave na barriga. A parede de cristal não existia mais, se desfez quando a curandeira foi atingida. Pude vê-la curvada enquanto Guilherme, o guerreiro caladão, brandia a espada contra um inimigo desajeitado. Eu corri até o rival e o derrubei com a parte cega da minha espada, em seguida pisei na lâmina caída no chão do oponente para então fazer a minha melhor careta de raiva (que ficou bizarra). Com a ponta da espada, tirei o elmo do rapaz e vi um garoto de uns 18 anos, choramingando.

– Dê o fora daqui! – eu avisei. Ninguém podia mexer com meus amigos.

– A rainha disse que mataria todas as mulheres caso nós falhássemos, mas ninguém disse que precisávamos matar crianças.

– A rainha é uma impostora, logo a verdadeira Samyra irá voltar. Agora saia daqui antes que eu peça para minha amiga prender sua cueca no telhado!

Ele conseguiu manter-se de pé e saiu correndo para o outro lado. Eu me virei e percebi que Guilherme possuía um ferimento na perna direita. Ele sentou-se no chão. O seu sobretudo preto estava sujo, com manchas de sangue misturadas a barro e areia. Ele apoiou o corpo na espada, a respiração ofegante.

– Você está bem? – perguntei.

– Estou. Eu posso aguentar um pouco... – O rapaz tentou se levantar, mas a perna falhou e ele caiu com um estrondo. Vi que o garoto tinha se cortado na testa também. – Eu sei que consigo!

– Não se esforce tanto assim. Vocês conseguiram acabar com os guerreiros da feiticeira. Sério, vocês foram os heróis.

– Isso não é nada. Eles avisaram que a feiticeira pretende convocar outras de sua espécie. Ela trará de volta as antigas bruxas, que há muitos anos foram derrotadas.

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