Capítulo 13 - Encare seus medos

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Eu corri desesperadamente para dentro da floresta. A voz de Natália ficava cada vez mais próxima enquanto eu buscava-a com os meus olhos. A espada de Éron já estava na cor natural, o que facilitou muito, pois assim ela ficava mais leve. Levei uns dois minutos procurando pela curandeira, quando a vi encostada a uma árvore, com os olhos distantes.

– Natália, calma! O que aconteceu? – Perguntei aflito.

Ela, contudo, não me reconheceu. Estava em estado de choque, paralisada no tempo e espaço. Eu balancei o seu ombro o mais forte que podia, mesmo sabendo que iria levar um murro na cara caso ela saísse daquele transe bizarro, mas não tive êxito. A garota parecia presa em sua própria mente, bastante distante da realidade. De repente, escutei um murmurar e encontrei Jorge ajoelhado no chão, encolhido como um gato abandonado. Fui até ele e vi que o rapaz apresentava o mesmo olhar distante de Natália. Havia alguma coisa muito errada ali e eu precisava descobrir o que era.

Arrastei Jorge até o lado da curandeira, de forma que os dois ficassem juntos, para não os perder de vista novamente. Eles não me respondiam nem pareciam capazes de me enxergar. Eu precisava ir atrás de Samyra, seja lá o motivo deles estarem nesse estado tão estranho.

Andei um pouco, procurando pela rainha ilusionista, quando me deparei com uma cena ainda mais tenebrosa. Uma mulher de vestido verde soltava uma luz esbranquiçada nos olhos da minha amiga, deixando-a no mesmo estado de choque que encontrei os demais. A mulher misteriosa possuía as mãos finas como um graveto e a pele pálida. Eu preparei a minha espada, prestes a enfrenta-la a qualquer custo, quando a mulher virou-se para mim. Os olhos dela eram azuis.

– Olha só quem eu encontrei: o garotinho que gosta de correr por aí com uma espada mágica, não é?

– Quem é você? O que você fez com meus amigos? – eu perguntei, bravo.

– Eu sou aquela que protege este bosque de crianças inconvenientes como vocês! Acha mesmo que eu, a Mística da Floresta Encantada, iria deixar vocês bagunçarem tudo e saírem de fininho? Não, não, meu querido! – Ela soltou uma gargalhada estridente e vi Samyra colocar a mão na boca, tampando um grito. A moça já estava enfeitiçada. – Vocês desceram do céu como anjos, mas desarmonizaram a Tribo Timbuá! Eles agora estão devotando uma divindade que não existe porque acham que vocês são deuses! Oh, céus, o que vocês fizeram?

– Acham mesmo? – Eu imaginei uma estátua de mim mesmo, feita a bronze, apoiado numa espada e segurando um escudo. Balancei a cabeça para espantar a ideia, voltando ao diálogo. Apontei a espada para a Mística, minhas mãos firmes. – Nós iremos embora daqui! Deixe-me sair com meus amigos.

– Você pode ir, já que é impossível deixá-lo preso no meu encantamento. De alguma forma, você é especial. Eu não consegui aprisioná-lo. Mas os seus amigos ficarão aqui para aprenderem a lição! Enfrentarão seus maiores medos e se forem fortes o suficiente, talvez, e talvez mesmo, eles conseguirão sair vivo do encantamento. Eu duvido muito que isso aconteça.

Ela deu uma volta completa, o vestido verde esvoaçando com o vento, e desapareceu. Eu corri para Samyra e a segurei, antes que ela pudesse cair no chão por causa de algum susto dentro da sua mente. Arrastei a garota para perto de Jorge e Natália, que agora suavam muito e estavam cada vez mais pálidos, presos em algum pensamento terrível. Deixei os três lado a lado, observando-os sem saber como tirá-los daquele transe.

Se a Mística da Floresta Encantada estava sendo sincera, eles poderiam voltar a qualquer momento, bastava que fossem capazes de vencer seus próprios medos. Eu daria tudo para entrar na mente deles, poder estar lá apoiando-os ou lutando contra seja lá o que estivessem fazendo, mas eu não podia. Peguei um pouco de água do cantil e molhei o rosto de cada um, vendo se despertavam. A ideia foi tão inútil quanto colocar o despertador no silencioso. O tempo parecia se arrastar e o meu medo de que eles não voltassem só aumentava.

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