Capítulo 31 - Ironic

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      •Por Rodrigo

Eu não acreditava no que estava acontecendo. Mas era verdade. A Lelê estava ali, me chamando de pai, fazendo com que meu coração batesse mais forte, com que meu sorriso abrisse de uma tal forma, que era impossível de me segurar. Era tanta felicidade, que parecia não caber dentro do meu peito.

—Do que você me chamou? —eu perguntei assustado.

—De pai ué —se sentou na cama. —O senhor é o único que tá cuidando de mim. E cuida como se eu realmente fosse sua filha. E como eu já não tenho mais meus pais, o senhor acaba sendo meu papai. —se explicou.

—Ô meu amor. —abracei-a.

—Eu te amo pai. —se encaixou no meu peito.

—Eu te amo muito mais. —disse lindamente.

Acho que tinha um olho na minha lágrima. A minha ficha ainda não havia caído. Vê-la ali, se explicando pra mim e me chamando de pai, foi a melhor coisa do mundo.

Pois é, primeira semana de aula não só pra Lelê, como pra mim também, e eu não podendo ir pra faculdade. Com tantas coisas pra pensar, acabei me esquecendo de que as aulas também começariam. Resolvi não ir nessa primeira semana.

Já a Lelê, cada dia era uma história diferente.
No primeiro dia, ela chegou contando que havia gostado muito da nova escola. Sua professora era muito legal e que também tinha feito amizade com uma garotinha da sala.

No segundo dia, as notícias já não eram tão boas assim, já chegou reclamando, porque a professora havia passado lição de casa pra fazer.

No quarto dia, chegou contando que tinha uma menina que era muito folgada e metida na sua sala. Letícia sempre arrumando confusão.
Cada dia tinha um assunto diferente, vamos ver qual é o assunto de hoje.

Sai de casa às quinze para as quatro, pra ir buscar a Lelê na escola.

—Pai!! —ouvi-la me chamando de pai, era música para os meus ouvidos. Ela correu para os meus braços.

—Oi meu amor!! —abracei a ela e a apertei junto do peito.

—Finalmente conseguiu chegar no horário, pelo menos um dia.

—Oh meu amor, você sabe que eu to correndo com o meu escritório lá em casa, não sabe?! —ela deu de ombros. —Mas deixa isso pra lá, o que importa é que hoje eu cheguei no horário.

—Não, o que realmente importa é que eu vou embora. —rimos. Terrível que só essa menina. —Mas antes vem aqui, quero te apresentar para a minha amiga.— puxou o meu braço pra mais perto da porta da escola. —Luíza!!! —Ela gritou.

—Ei, não precisa gritar tão alto assim princesa. —alertei-a e sorri.

—É que ela é meio surda sabe, pai. Por isso... —ela brincou, dizendo baixinho.

—Oi Lê. —uma menininha veio correndo de dentro da escola.

—Lu, lembra que eu tinha te contado do meu mais novo papai? Então, aqui está ele. Pai, Luíza. Luíza, Pai. —ela nos apresentou.

—Muito prazer Luíza. —sorri. —Ouvi muito falar de você viu.

—Oi. —disse tímida. —Eu também ouvi muito a Lelê falar de você. Desde o começo da semana falando desse novo pai dela.

—É mesmo dona Letícia?! —olhei pra ela.

—Claro! Viu pai, a Luíza pode ir lá em casa qualquer dia desses? —ela desgrudou de mim e abraçou a nova amiga.

—Claro que pode, mas primeiro eu vou ter que falar com os pais dela, depois ela vai lá.

—Tudo bem, então Luíza fale pros seus pais que o meu pai quer conversar com eles tá. —se separaram.

—Ta bom, vou falar sim!

—Bom, agora vamos papai. Só quero um banho e minha caminha. —se espreguiçou.

—a MINHA caminha, você quer dizer, né?!

—Já perdeu pra mim faz tempo. Vamos!! Tchau Lu, até amanhã. —deu um beijo no rosto da garota.

—Tchau Lê. Até.—retribuiu o cumprimento e entrou novamente para dentro da escola.

Entramos no carro e claro, ela desabou a falar. Qual era a história de hoje? Uma briga que havia acontecido na sala ao lado.

—Nossa pai, foi tudo muito rápido sabe. A gente tava tudo no pátio. Aí , lá estou eu conversando com a Luíza, comendo meu lanche, normal. Quando eu olho pro lado dois meninos se empurrando sabe, puxando cabelo e tudo. Mas nem brigaram por muito tempo porque a inspetora já veio separar. Só sei que os dois foram direto pra diretoria e pior, acho que assinaram o livro negro. —soltou as palavras de uma vez.

—Nossa filha. Quantas emoções pra primeira semana de aula ein. E essa briga aí, foi por causa de que?

—estavam falado que era porque a Marina, uma menina da sala deles, estava gostando de um deles. Aí o outro, que também gosta dela, ficou sabendo, foi pra cima do outro, porque não era pra Marina gostar dele.

—Meu Deus do céu, que confusão. E tudo por causa de uma menina. Esse mundo está acabando mesmo.

—Pra você ver né, pai.

"Isto é irônico. Você não acha?"

Eu sei que eu não posso falar muito, até porque há um tempo atrás, eu é que estava metido em uma "briguinha" por causa da Ju, mas deixa isso pra lá...

Chegado em casa, Lelê fez realmente aquilo que havia falado. Tomou um banho e apagou na cama. Enquanto ela dormia, resolvi tomar um banho. Depois disso, fui fazer um jantinha pra gente.

Quando estava prestes a terminar, ouvi uns passinhos. Era a minha linda, que havia acabado de acordar.

—Boa noite minha princesa. —me olhou com os olhos murchinhos. —Ei, cadê o chinelo? Corre já lá no quarto pegar seu chinelo. —ela logo obedeceu e voltou com os meus nos pés. —Esses são os meus, meu amor. —Ri.

—O importante é que é chinelo.

—Tá bom então. —sorri. —senta aí que eu vou tirar pra você.

Depois de jantarmos, fomos assistir um filme. A Bela Adormecida, claro. Era o preferido da Lelê. Ela sabia de trás pra frente, de frente pra trás. Todas as falas na ponta da língua.

—Pai, a Luíza pode vir aqui em casa amanhã?

—Deixa pra semana que vem meu anjo. Amanhã o pai tem que fazer algumas coisas, e você vai ter que ficar com o tio Bruno e a Tia Yanna —fazia cafuné no cabelo dela.

—Ebaa!! —bateu palmas.

—Ahh então quer dizer que a senhorita está feliz porque vai ficar longe de mim, é isso mesmo??

—Claro que não, mas eu gosto da tia Yanna e do tio Bruno. Eles são muito legais!

—Aram tá, to de olho ein dona Letícia.

—Pode continuar olhando que eu adoro. —fez graça.

Coisa linda da minha vida!!
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Beijocas,
My

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