Capítulo 2

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- Aff, Zack, deixa eu ver! - Tentei tirar suas mãos de cima dos meus olhos.

- Ainda não. Calma, aqui tem um degrau. Mais um degrau. - Tropecei e caí de quatro. Mas mesmo assim ele não tirou as mãos dos meus olhos! - Epa! Senhora Martin, bebendo logo de manhã?

- Para de graça e deixa eu ver essa porra logo... Já sei o porquê de estar escondendo. A gente não tá em Paris, né? Não, amor, tudo bem, não precisa ficar escondendo. A gente vai curtir a lua de mel aqui como se estivéssemos lá em Paris. Nós nem vamos sair muito do quarto mesmo, né?

- Nossa, que safada. De onde veio esse fogo todo, mulher? E sim, nós estamos em Paris, ok?

- Ah, que bom, porque eu ia te matar.

- Eu só estou fazendo surpresa porque... Calma, agora vamos entrar no elevador... Porque onde ficaremos é muito bonito e tals e aí dá mais emoção.

- Ah, tá... A gente já chegou?

- Não.

- E agora? A gente já chegou?

- Não.

- E agora?

- Não, burro.

- VOCÊ NÃO ME CHAME DE BURRA! Eu vou te jogar da sacada, aí eu quero ver quem você vai chamar de burra!

- Estressada você, hein? Nossa senhora, tá precisando ser mais zen, querida, quê isso! Cadê o amor no coração? Só vejo mágoa... caos... desgraça...

-Você vai ver a desgraça se não tirar logo as mãos dos meus olhos.

-Falta só um pouquinho. Calma... Aí, pronto.

Ele tirou e eu olhei o lugar. Que. Per. Fei. To. Era na cobertura!!! E dava pra ver a Torre Eiffel!!! Olhei pra Zack, que me encarava com uma cara tipo "Gostou, não gostou...". Resolvi me fazer de pessoa fina.

-Hum, é, até que... é bonitinho.

-Bonitinho? Que bonitinho, mulher? Foi a melhor coisa que eu consegui! Eu sofri pra achar isso, eu implorei pro meu pai me emprestar dinheiro... E você vem e diz que é só bonitinho? Não tá merecendo a surpresa de hoje à noite.

-Que surpresa de hoje à noite? Zack, pare de me fazer surpresas! Eu odeio surpresa! Já disse! - Comecei a andar pelo apartamento/quarto/sei lá. Entrei no banheiro. - Uh, tem banheira, que chique. AH, MEU DEUS, O PATINHO. O PATINHO AMARELO. ZACK, O PATINHO. O PATINHOOOOOOOOOO. - Corri de volta pra sala pra mostrar o patinho para ele. - AH, ZACK, OLHA A JANELA! QUE LINDA! AMO JANELAS! Mano, que janela perfeita! Que vista perfeita! Tudo muito perfeito aqui! Até o patinho é perfeito! O chão é muito perfeito também!... - Olhei a TV. - Uma coisa que eu sempre quis saber... Será que os canais da TV são em francês?

-Bom, nós estamos na França, então... É, acho que sim.

-Jura? Que legal! Quero ver se é verdade!

Pulei no sofá e liguei a TV com o controle... Mas era o controle do DVD, então não deu certo. Gente, isso aqui tem até DVD, quando eu viajo com meus pais nos hotéis não tem nem cama direito. Fiquei procurando o controle, mas não encontrei.

-Está aqui, ó. - Zack tirou de uma gaveta. - Vou te passar uma cantada.

-Foi o Josh que te contou?

-Foi.

-Então eu não quero ouvir... Mas... Por que o Josh te passaria uma cantada? Tá, vai logo.

-Gata, você não é sofá, mas me faz perder o controle, sua linda. - Comecei a mexer na minha bolsa. - O que está fazendo?

-Tô procurando a graça.

-A Graça tá lá no Carrossel.

-Vou te proibir de falar com o Josh. Essa relação de vocês tá muito estranha. Nunca pensei que você gostasse de dar o cu, Zack. Me decepcionou muito.

-Mas eu não gosto! Quer dizer, nunca tentei, nunca dei, mas... Por que seria eu que teria que dar?

-Porque, pelo o que eu sei, o Chad é passivo. Então não sei né... OLHA, OS CARAS ESTÃO FALANDO EM FRANCÊS! É PROGRAMA DE RECEITAS! Vamos aprender a fazer comida francesa! Vem, senta aqui do meu lado! - Ele se sentou e eu praticamente me joguei em cima dele. Fiquei olhando o homem falando e falando e falando e não entendi merda nenhuma. - Amor... Cê tá entendendo alguma coisa?

-Aham. Ó, você coloca o polvo na panela e deixa fervendo lá. Aí, você começa a limpar os camarões...

-Não sabia que você falava francês.

-Não falo nem minha língua e você acha que eu sei francês? Sei nada! Tô só vendo o que o cara tá fazendo.

-Ah, sim.

-Quer mesmo assistir isso? Porque tipo, é nossa lua de mel, né! E a gente tá em Paris, né! E você tá aqui assistindo a como fazer um polvo, sendo que a gente pode comer um em um restaurante, né!

-Na verdade, eu não quero assistir não... Vamos no museu?

-Que museu? O que tem a Gioconda?

-Não, o que tem a Monalisa mesmo.

-É a mesma coisa, Ariel.

-E por que falou Gioconda, então? Podia ter falado Monalisa, oras!

-Eu sempre aprendi que era Gioconda.

-Ah, é, esqueci que você é rico. Desculpa aí. Sou uma mera mortal que sempre chamou a Monalisa de Monalisa e nunca ficou interessada em vê-la, mas que finge interesse só pra dar aquele ar de que sabe algo. Mas descobri que nem o nome tava certo. Que desgraça. Tá frio, né? É. Amo o frio.

-E eu te amo. - Ele me beijou.

-Isso foi bem aleatório.

-Por que? Tem hora pra dizer que ama alguém?

-Ah, cê sabe. Quando o cara fez cagada, ou quer acabar com uma briga, ou quer transar...

-Como você sabe disso?

-Você faz isso. Quando queríamos escolher as cores das flores. Eu disse que queria rosas azuis, lavandas e mosquitinhos, e você disse que queria rosas vermelhas e brancas. Aí você achou que já tinha resolvido tudo, encomendando as rosas que você queria. Depois, por causa disso, eu discuti com você e pedi para cancelarem tudo. Depois, eu fui dormir no seu apartamento. E foi nesse dia que você me disse "eu te amo" três vezes.

-Você podia, sei lá, ser uma parceira normal e só dizer "eu também te amo". Já tava ótimo. Nossa, até desanimei. Quero mais sair não. Vou ficar aqui, deprimido, assistindo o cara temperar o polvo... Vou ligar pro serviço de quarto.

-Por que?

-Quero treinar meu francês. - Ele pegou o telefone. - Ôrrevuá missiê Pierrê. Je me tei me pedir-me ún polvitinho con uns escargot de chef Jaquin, mutcho tômpero, una belíssima catre carts...

-Nossa, Zack, noooooossa, Zaaaaaack. Não passe vergonha. Desliga isso logo. Cadê Juanito nessas horas? Precisamos de Juanito pra entender essa linguagem.

A Mulher dos Olhos BicoloresOnde histórias criam vida. Descubra agora