Capítulo 15

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Eu acordei no meio da noite, sentindo umas dores e uma coisa escorrendo nas minhas pernas. Logo pensei: fiz xixi na calça, legal. Olhei para a hora no celular e era 2:13. Já estava pronta pra levantar e ir no banheiro me limpar, mas aí eu lembrei que eu já estou no 9º mês de gravidez e que tem toda aquela coisa de bolsa estourar... E eu acho que a minha estourou.

- Ai, meu Deus. Zack! Zack!

- O que foi?

- A bolsa estourou.

- Amanhã você compra outra - ele disse, com os olhos fechados.

- Não, idiota! A bolsa do meu corpo estourou! - Ele abriu os olhos no mesmo instante.

- Ai, Jesus. Pega tudo, pega tudo. Tem que correr, amor, não é pra andar como se estivesse mijada.

- EU NÃO CONSIGO ANDAR DE OUTRO JEITO, PORRA.

Aí lá na sala, do nada, ele desmaiou. E eu tive que tentar levá-lo até o carro, pra ter que dirigir sozinha até o hospital. Tentei arrastar o corpo dele pelo chão, mas não consegui. Então eu fui pedir uma ajudinha pro vizinho, que é um cara super legal. Ele é divorciado e mora com a mãe, que também é uma gracinha. Toquei a campainha, super calma, e ele logo atendeu, com uma cara de sono. Claro! São duas e meia da manhã! Isso, Ariel, fica tirando o sono dos outros! Mas eu vou fazer o que, né? Eu preciso de ajuda. Meu marido não presta pra nada.

- Olá, senhora Ariel. Aconteceu algo?

- Então, Bob, é o seguinte... Minha bolsa estourou e o Zack não é muito machão e acabou desmaiando lá na sala, então será que você poderia... aaaaaaai... Você poderia me levar até o hospital? E pegar o corpo do meu marido, que está jogado lá na sala de estar da minha casa?

- Ai, Deus, claro! Claro! Mas esse seu marido é um boiola... Sem ofensas.

- Tudo bem... Ele é mesmo.

Bob colocou o Zack no banco de trás do meu carro e dirigiu até o hospital que eu sempre vou. Entrei e logo comecei a gritar com a moça, porque ela disse que o doutor Ramirez tava fazendo outro parto e eu teria que esperar. Resultado: eu toda vazadinha, com dores, sentada ao lado de um corpo aparentemente morto (Zack), na sala de espera do hospital. Tava tocando aquela musiquinha de elevador e eu comecei a dar uma dançadinha. Legal. Dores interessantes. Tô me sentindo uma drogada aqui. Às vezes dá umas coisas que sei lá, acho que terei o bebê aqui mesmo. Já tô sentindo ele saindo.

Aí do nada apareceu uma outra moça, que logo percebeu o meu estado e me colocou em uma cadeira de rodas. Só pude escutar ela gritando umas coisas meio desconexas com a moça que não me atendeu direito e ela pedir desculpa pra mim. Me levaram para uma sala. Eu já tava quase desmaiando de tanta dor. A dor ia, a dor voltava, a dor sumia... Me colocaram em uma maca e eu logo senti falta do Zack.

- Moça, é, enquanto eu espero o doutor Ramirez, a senhora poderia buscar o meu marido lá na sala de espera? É um cara desmaiado, você vai reconhecer na hora.

Sério, Zack ficou desmaiado por muito tempo. Cheguei a pensar que ele estava morto, mas segundo as enfermeiras, o coração ainda estava batendo. Ele foi acordar só na hora em que o doutor Ramirez já tava quase tirando a criança de mim. Imagina, você acorda do nada e vê sua esposa com as pernas abertas e um cara mó nada a ver acariciando ela, mexendo na xana e dizendo que vai ficar tudo bem, aguente só mais um pouquinho, meu bem... Eu desmaiava de novo, certeza. Aí o Zack começou a andar de um lado para o outro e a dar palpite. Ficar do meu lado pra quê né? Apertar minha mão, coisas desnecessárias da vida...

- O senhor não acha melhor...

- Senhor Martin, quem é o médico aqui?

- Desculpe.

A Mulher dos Olhos BicoloresOnde histórias criam vida. Descubra agora