Capítulo 16

21.9K 1.9K 824
                                    

Tive que ficar um dia no hospital, antes de poder ir pra casa. É normal, né? Zack até me trouxe um BigMac escondido dos médicos. Apesar de que eu acho que o doutor Ramirez percebeu, porque ele apareceu na hora que eu estava comendo, então eu tive que jogar o lanche na caixa e a esconder debaixo do lençol; mas ficou um pouco de molho dos lados da minha boca. Ou o doutor sacou tudo ou ele achou que eu estava espumando de raiva. Pela história de Zackatita, tenho certeza que ele pensou a segunda coisa.

Fui finalmente liberada de lá. Entrei na parte de trás do carro com Théo no colo e Zack foi dirigindo. Chegamos em casa e é claro que a velha tinha que estar na janela nos observando. Vontade de ir na casa dela perguntar se ela perdeu algo na minha cara. Bob estava fumando na varanda e assim que nos viu, apagou o cigarro e veio até nós.

- Meus parabéns, novos papais. Posso pegá-lo um pouquinho?

- Claro, Bob. - Passei o bebê pra ele. Já é bom a criança se acostumar com o bafo dele.

- E eu queria agradecer por você ter nos levado ao hospital. É que eu não reajo muito bem com fortes emoções - Zack disse.

- É, eu percebi. Eu me lembro de quando estourou a bolsa da minha ex-mulher. Nossa, foi uma correria. Mas acabou que chegamos no hospital e ela resolveu fazer cesariana, então foi mais tranquilo.

- Você é pai? - eu e Zack perguntamos juntos.

- É. De uma princesinha de 4 anos. Alice é o nome dela.

- Que lindo nome. Espero um dia conhecê-la, Bob - eu disse.

- Se um dia a mãe dela deixá-la vir aqui... - Théo começou a chorar. - Parece que ele está com fome. Aqui está. Boa sorte pra vocês dois, pois não dormirão por um tempo.

Entramos em casa e eu pude ver a desgraça. Durante a correria havíamos derrubado um vaso de plantas, o sofá magicamente havia sido empurrado pro meio da sala e algumas roupas estavam espalhadas pelo chão. Deduzi que Zack não havia fechado a bolsa com roupas minhas e do bebê, por isso que caíram pela casa. Eu nem tô usando calcinha, porque quando eu fui me arrumar lá no hospital... Cadê calcinha? Não trouxe! Acabei encontrando duas no corredor. Eu me sentei no sofá pra amamentar o Théo, que não parava de chorar. Zack foi limpar tudo aquilo.

- Amor - o chamei. - Quero tomar um banho. Você cuida do Théo?

- Ahn? Eu? Sozinho? Você não precisa de banho não! Faz bem criar uma camada protetora na nossa pele. Assim, daqui a alguns meses, você se torna impermeável!

- Eu preciso tomar banho. Eu juro que é rápido. E você não precisa ter medo do seu filho, Zack!

- Eu sei, mas é que... E se eu quebrar algum membro dele? E se eu apertá-lo muito forte e o cérebro dele sair pelo nariz? E se eu sentar em cima dele?

- Você pretende largar a criança no sofá, por acaso? É pra ficar segurando. Quer saber? Deixa ele no berço, mas fica lá no quarto pra vigiá-lo.

- Tá bom. - Coloquei Théo em seus braços. - Aaaaaaaaaaaaaaaaaaa... uh, consegui. Ih, cacete, ele dormiu. - Alasca começou a pular. - Alasca, não pula em mim, cachorra-demônio! Não pode, cara! Se você derrubar o bebê, aí ferrou tudo! Aí vai demorar mais nove meses pra gente conseguir outro desses, Alasca! Por favor! - Ela pulou nele. - Meu Deus, o que faço agora?

- Senta no sofá e fica segurando o Théo. Oi, Alasca!

Comecei a ir até o quarto.

- Não, amor, você não pode me largar aqui com ele - Zack sussurrava, desesperado. - Eu estou com medo.

- Acho que vou te trocar pelo Bob. Você tá muito Chad Loens.

Acho que esse foi o banho que eu mais aproveitei na minha vida. É claro que eu pensei que estava gastando muita água, mas... Eu acabei de ter um filho! Tô merecendo. A água tava quentinha e escorria pelo meu corpo... E eu comecei a fazer um flashback sensacional da minha vida. Quando eu descobri que estava grávida, eu e o Chad saímos saltitando. A gente ficou uns dois dias saltitando. E quando eu disse o "Tô" quando Zack perguntou se eu estava grávida, ele meio que saltitou também. Acho que ninguém que ficou triste com a notícia da chegada do bebê. Agora meu maior medo é mantê-lo vivo. Não consigo manter nem um peixe vivo por mais de três dias... Bom, a Alasca ter durado tanto tempo é uma vitória pra mim.

Saí do banho e me troquei, colocando um conjunto de moletom. Fui até a sala e não encontrei Zack. Então fui até o quarto de Théo e acabei encontrando-os. Zack estava sentado na poltrona dormindo, com Théo também dormindo no seu colo. Awwn, que fofo.

Eu senti falta de tomar vinho. Aproveitei que estavam dormindo e fui correndo procurar uma garrafa pra abrir. Eu odiava beber qualquer coisa alcoólica - e até mesmo energético - até meus 18 anos, mais ou menos. Só que aí eu e Zack começamos a ter aquela coisa "mais do que namoro de escola" e eu comecei a sair com a família dele... Bastante... E sempre tinha vinho... Então, eu passei a gostar. Mas o doutor Ramirez mandou eu parar de beber, até que o bebê nascesse. Ou seja: hoje eu vou beber a garrafa inteira.

Zack me encontrou numa situação meio vergonhosa, na cozinha. Eu parecia o Smigol/Gollum de O Senhor Dos Anéis, dizendo "Meu precioso". Só que era para uma garrafa de vinho, não para um anel.

- Amor, cê tá legal?

- Cadê, Zack? Cadê o negócio pra abrir essa rolha aqui?

- Na segunda gaveta, onde sempre esteve. Vai beber a essa hora do dia?

- Sim. Cadê o Théo?

- No berço. Eu não o esmaguei, amor! Ele ainda tá vivo!

- Uhul! Vamos comemorar com uma taça de vinho então.

Coloquei duas canecas cheias de vinho na mesa e passei uma pra ele.

- Isso é uma caneca. E não, obrigado, gosto de ficar lúcido de dia.

- Então eu vou tomar as duas.

- Amor... Se controla. Daqui a pouco o Théo vai mamar suco de uva, quê isso.

A campainha tocou e logo escuto um choro de bebê. Só chora, que merda. Eu peguei uma caneca e fui até o quarto de Théo, enquanto Zack ia ver quem era. Voltei pra sala segurando o bebê no colo com a mão direita e tomando vinho da caneca com a mão esquerda. Paralisei quando vi minha mãe e meu irmão.

-... Oi - falei, dando um sorrisinho. Meu irmão começou a rir. - Zack, segura a criança porque eu tô vendo tudo girar. Quer? - Ofereci a caneca a Colin. - Ah, não, você não pode.

- Filha, está bebendo vinho?

- Ah, eu tô. Tá gostoso. Safra boa essa... Mas e aí, o que vieram fazer aqui?

- Vim trazer seu irmão pra conhecer o sobrinho dele. Quer que eu venha aqui alguns dias, filha? Pra te ajudar?

- Não, a gente consegue. Zack já tá até segurando o Théo!

- Você vai voltar a trabalhar quando, Zack?

- Só daqui a três meses. Dá pra curtir bastante o bebê.

Minha mãe ficou um pouco em casa e logo foi embora, porque disse que tinha que fazer o jantar. Colin foi também, não antes de quase matar Alasca com seus abraços exagerados. Théo logo ficou com fome de novo e eu tive que amamentá-lo. Fiquei assistindo o noticiário sentada no sofá, com Zack ao meu lado. Ele ficava encarando a TV com um sorriso bobo.

- Amor, parece que foi você que bebeu. Tá rindo à toa.

- Não, é só que... Eu nem acredito que tenho um filho. Isso é muito legal!

- Eu estou imaginando... Quando ele crescer, acho que será parecido com você.

- Se não for, começarei a suspeitar.

- Será que ele vai levar as coroas de alguma menina?

- Será que ele vai levar muitos sapatos no corpo?

- Meus sapatos nunca te acertaram, seu bobo... Tá, só aquela vez que o chinelo acertou suas costas e ficou um pouco vermelho.

- Ficou roxo.

- Dá no mesmo. Falando em roxo... Amor, busque mais vinho para mim. Se eu beber bastante, é capaz até de eu fazer um strip tease pra você.

- Preciso te contar uma coisa... Prefiro seus strips quando está lúcida. Só você acha que está sexy quando fica bêbada.

- Não fico sexy? - Ele negou. - Nem um pouquinho? - Ele negou de novo. - Poxa, e eu achando que tava arrasando...

- Sabe de uma coisa? Já estou com vontade de ter outro filho. - Ele deu uma cheirada no meu pescoço.

- A fábrica fechou, pelo menos por enquanto.

A Mulher dos Olhos BicoloresOnde histórias criam vida. Descubra agora