Capítulo 21

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*** Chad ***

Acordei com umas cutucadas na orelha. Que merda, o Josh nunca me acorda assim.

- Ain, amor, para. - Dei uma batidinha no ar. - Para Josh, que saco!

- O que eu fiz? - ele disse com a voz sonolenta.

Abri os olhos e Théo estava pelado, me encarando. Agora eu descobri quem estava me cutucando. Acenei com a cabeça pra ele, que só ficou me encarando.

- Que que cê quer?

- Banho.

- Você gosta de tomar banho? - Ele assentiu. - Por que não fica sem tomar? É legal. Sujeira faz bem. Você fica com uma segunda pele...

- Titio porco.

- Porca é a sua mãe. Josh, vai dar banho no Théo.

- Ah, sério?

Ele tirou o edredom de cima de seu corpo e finalmente levantou. E é claro, né gente, que o moço tava fazendo um cosplay de Adão, né? Peladinho.

- Titio Josh, você também vai tomar banho?

- É-é claro que sim! Vamos, colega, vou te ensinar a lavar o pinto sozinho.

Suponho que agora eu tenha que levantar e fazer café da manhã. Ah, ok, tudo bem. É nada, tem a Lucy e o Andy na casa, alguém deve saber fazer alguma comida. Ah, Jesus, hoje é dia da Ellen! Puta que pariu, ela não pode ver essa casa toda destruída! O que ela pensará? Ou pior... Ela vai contar pras outras pessoas! Fofoqueira do caralho!

Fui no quarto de hóspedes e Lucy estava dormindo na cama e Andy no tapete. Acordei os dois.

- Cambada, é o seguinte: alguém tem que fazer o café e outro alguém vai me ajudar a arrumar a casa, porque hoje é o dia da Ellen.

- Quem é Ellen? - Andy perguntou.

- A cuidadora dos meus cemitérios de células que se encontram em algumas extremidades de meu corpo.

- A manicure dele - Lucy traduziu.

- Ahhhh. Eu faço comida. Sei fritar uns ovos ó... do balacobaco.

Lucy me ajudou a arrumar a casa e eu coloquei meu robe de seda para receber a Ellen. Tem que estar mais chique do que nunca, benhê. Théo estava assistindo filme de princesa - ou era isso ou era pornô gay - na sala de TV, e o resto saiu para trabalhar ou sei lá o que eles iriam fazer. Não é do meu interesse mesmo. Ellen chegou e preparou tudo. Com água quentinha em meus pés, eu escutava ela contando de uma nova cliente que mora na puta que pariu e que a motinha dela não aguenta chegar na casa da mulher.

- Titio, isso é coisa de menina.

- Filme de princesa também é. Cuida da sua vida.

Meu celular começou a tocar e eu logo atendi. Era a Ariel.

- Oi, meu filho tá vivo ainda?

- Tarde demais. Já doei ele. Olha Ariel, espero que você tenha me ligado para dar uma notícia boa, porque você está estragando o esmalte que a Ellen acabou de passar.

- Tomara que estrague, odeio ela.

Tirei o celular do ouvido.

- Ellen, a Ariel disse que te odeia. Não deixava. - Coloquei de novo. - Amiga, que que cê quer?

- Falar com o Théo.

- Théo, é pra você. - Entreguei o celular a ele. - Aí, como eu tava te contando, eu sou um ótimo amigo, sabe? Então, quando a Ariel disse que precisava de alguém para cuidar do filho dela, eu logo me propus, pensando no bem-estar dela, entende? Ela merece viajar, ter um tempo a sós com o marido, né?

- Atitude muito sensata, Chad.

- Isso, mas me conta mais daquela ridícula lá...

*** Ariel ***

- Filho, tá tudo bem aí?

- Sim.

- Você tá se divertindo?

- Sim.

- Tá feliz?

- Sim.

- Tá com saudades?

- Não muita.

- Ah, ok. Seu pai quer falar com você.

Zack começou a falar coisas para o Théo fazer que iriam enlouquecer a "babá" dele, como: "Filho, eu te libero a mexer no closet inteiro do Chad!". Essa semana vai ser um inferno pra ele. Coitado. E pra mim uma beleza total, pois hoje nós vamos passear um pouco pela cidade e ver a Sun Records, gravadora que já recebeu milhares de cantores e bandas famosos (meu divo gostosão já foi lá minha gente). Graceland vai ser no penúltimo dia, para que seja uma das minhas últimas lembranças de Memphis.

*** Chad ***

Minutos depois de Ellen ir embora, eu percebi que teria que ficar o dia inteiro sozinho com o Théo.

- Vamos no shopping?

- Tá.

Me troquei e coloquei uma roupa parecida com a minha nele. É tipo quando a mãe coloca a roupa igual nos irmãos. Eu e Colin passamos muito por isso, mas a minha era rosa e a dele azul. Odeio ele. Aliás, isso me lembra que faz realmente muito tempo que não o vejo, graças a Deus. Será que ele morreu e ninguém me avisou?... Não, ele é meu irmão gêmeo, iriam me avisar... Mas vai que... Vish. Tô sentindo um negócio aqui no peito. Tenho que ligar pra minha mãe mais tarde.

Eu e Théo estávamos usando calça cáqui, blusa listrada e tênis esverdeados. E eu tava de chapéu e óculos de sol, porque tem que rolar aquela individualidade, né não?

Assim que chegamos no shopping, eu já tratei de avisar:

- Se você correr, gritar, sair de perto de mim, ou qualquer coisa parecida eu não compro nada pra você, tá me entendendo criatura?

- Aham.

Começamos a olhar as vitrines das lojas - bom, pelo menos eu estava - quando eu percebi que o Théo não estava mais do meu lado. Aquele momento que você quer morrer... Como eu vou achar essa criança no meio desse mar de gente? Ah, ele que me procure! Ele que inventou de sumir, então eu vou ficar aqui esperando ele voltar. Larga de ser uma anta, Chad, ele não vai voltar! É uma criança de dois anos, deve ter se perdido por aí!  Olha o tamanho dessa merda!

Fiquei procurando pelo shopping igual uma barata tonta. Entrei em todas as lojas de brinquedo perguntando, mas ninguém parecia ter visto um menino de dois anos com roupa de gay. Retardado, nunca leve uma criança em lugares lotados. Você já sabia disso!

- Tio Chad, por favor, comparecer à Central de Informações, seu sobrinho está o procurando. Atenção, tio Chad! Compareça à Central de Informações para buscar a criança!

Tinha que colocar no alto falante? Puta que pariu, que vergonha. Tomara que ninguém me conheça aqui.

A Mulher dos Olhos BicoloresOnde histórias criam vida. Descubra agora