Capítulo Dezenove

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Um leiloeiro tagarela toma o


microfone de Earl e apresenta as regras do leilão. Earl senta-se.

- Foi um discurso emocionante - eu digo a ele.

- Obrigado - ele responde beijando-me na bochecha. Bem, mais ou menos na bochecha, e parcialmente na máscara de


porquinho.

A multidão aplaude. Por um segundo, penso que é por conta do beijo, mas então ouço as palavras: "Vendido! Quinze mil dólares", vindos do sistema de som. Alguém acabou de comprar a primeira edição de A Shore Thing, que fiz Earl colocar a leilão, pois eu não poderia aceitar um presente tão extravagante.

- Você está fazendo um bem imenso para o mundo, Sr. Grey - eu comento.

- É para equilibrar a crueldade


no meu coração - ele diz, com cara fechada.

Não digo nada, pois não adianta discutir com Earl Grey quando ele está de tpm.

O próximo item do leilão é uma


suíte fantástica para férias no


Havaí. Sem pensar, levanto a mão e grito:

- Um bilhão de dólares.

A multidão solta um "ooooh". O leiloeiro fica sem palavras, atônito por um momento.

- Dou-lhe uma... dou-lhe duas... vendido - diz o leiloeiro - para a jovem com máscara de porco.

Olho para Earl, cujos olhos


cinzentos estão queimando de ódio por trás da máscara de rato.

- Que foi? - falo para ele. - Sempre quis ir para o Havaí.

- Onde você conseguiu um bilhão de dólares? - ele pergunta.

Opa.

- Vamos usar dinheiro de verdade? Pensei que fôssemos usar dinheiro de Banco Imobiliário.

- Não, Anna - ele diz, sussurrando. - Estamos usando


dinheiro de verdade. Acho que vou ter que te emprestar um bilhão de dólares.

- Obrigada - eu falo, envergonhada. Aff.

- Mas, sabe, a suíte fantástica no Havaí que foi leiloada é minha - ele diz.

- Ai. Eu não sabia.

Ele sacode a cabeça.

- Que faço com você, Anna Steal?

Não tenho ideia, estou pensando a mesma coisa sobre ele.




O leilão acaba, e Earl está dançando juntinho comigo na pista de dança. A banda da casa, a Icy Dragons, está tocando


zelosamente uma versão cover fiel de Toda rosa tem seus espinhos, a pedido de Earl. Sua raiva se dissipou, embora ele diga que provavelmente terá de liquidar uma ou duas empresas ou transferir alguns milhares de


empregos para o exterior para pagar o bilhão de dólares que eu devo para a causa dos mergulhadores bêbados.

- Desculpe - eu falo. - Acho que eu estava bem bêbada.

- Você não estava bebendo, Anna - ele comenta.

- Então, acho que foi a


maconha - eu retruco.

- Você também não estava fumando maconha - ele fala. -


Não importa. O que está feito, está feito.

Earl é um dançarino nato e me


guia pela pista de dança com graciosidade.

- Onde você aprendeu a dançar


assim? - eu pergunto.

- Participei uma vez da Dança


dos famosos - ele responde.

- Que legal.

- Perdi a final para o Nicholas Sparks.

- Tem alguma coisa que esse cara não consiga fazer?

- Preparar uma salada -Earl diz, sério.

É bom sentir o corpo dele perto de mim.

- Você está tão sexy nesta máscara... - ele comenta. - Não vejo a hora de chegar em casa e


fazer você guinchar como um porco.

- Obrigada - eu digo. - Eu acho.

- O que você acha de irmos até o banheiro masculino? Acho que


não vou aguentar esperar até chegarmos em casa, Anna - ele sussurra no meu ouvido.

Eu sorrio.

- Banheiro? É higiênico?

- Claro. É só você não sentar no vaso - ele diz.

A banda acaba a música e a maioria dos casais sai da pista de dança para respirar.

- Ainda são dez e meia. Que tal


acelerarmos as coisas um pouco? - diz o vocalista cabeludo enquanto a banda dá os primeiros acordes acelerados de It's Raining Men.

- Eu amo esta música! - eu digo.

- Eu também - Earl comenta - Que você acha de ficarmos na pista de dança, e eu mostro para


você alguns passos que aprendi na Dança dos famosos?

- Sou meio desajeitada - eu


desconverso. - Mal consegui acompanhar quando dançamos a lenta.

- Não se preocupe - ele diz. - Você precisa deixar a vergonha de lado e se deixar levar.

- Bem, se você insiste...

Ele sorri.

- É, Anna, eu insisto.

Um punhado de gente se junta na pista de madeira maciça. Mulheres jogam as mãos para


cima. Earl Grey, nesse meio tempo, começa a me girar e rodar em círculos. Tento não vomitar enquanto o mundo gira ao meu redor. Além disso também tem a rotação contínua do restaurante inteiro dentro da Space Needle, e eu me sinto cada vez mais enjoada...

O vocalista da banda grita


apaixonadamente no microfone, enquanto Earl me joga para o alto e me agarra. Não está chovendo homens - está chovendo Anna Steal!

Encontro meus pés novamente no chão, mas Earl me desliza no


meio das pernas e me lança de novo para o alto. De repente, meus pés estão fora do chão! Como se o lugar não estivesse rodando o suficiente, Earl Grey agora está me sacudindo no ar pelos braços. Se alguma coisa não parar de rodar logo, o que vai chover são pedaços do jantar.

- Hallelujah! - o cantor berra.


- It's raining m...

Ouço um estampido alto. Earl me para de repente e me pega nos braços. Eu não vomitei. Graças à minha periguete interior! Vejo que os músicos pararam de tocar, e Earl Grey está encarando, com


olhos arregalados, o vocalista dos Icy Dragons, caído de costas, desmaiado. Horrorizada, percebo um dado de sessenta e nove lados no chão, próximo ao seu corpo inconsciente.

Gulp.

Cinquenta Vergonhas De CinzaOnde histórias criam vida. Descubra agora