Capítulo Onze

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Estamos no apartamento de cobertura de Earl Grey, no topo de um dos espigões de aço mais


altos e mais elegantes do centro de Seattle. É na frente do prédio de escritórios. Ele vai e volta do trabalho usando uma corda esticada entre os dois prédios. O


interior do apartamento de solteiro de Earl Grey é inacreditável. É quase todo preto e branco, com alguns respingos de castanho-escuro e vermelho cádmio. É simplesmente perfeito.

- É lindo, Sr. Grey - eu falo.

- Queria ter um decorador de


interiores para fazer tudo isso no meu apartamento.

- Eu que fiz - ele comenta.

- Ahhhh...

- Não sou gay - ele diz, com vigor.

Eu balanço a cabeça.

- Não pensei nisso. Era isso que você estava pensando que eu estava pensando? Porque isso definitivamente não era o que eu estava pensando. Eu estava pensando exatamente isso.

- Que eu tenho de fazer para


provar que não sou gay? - ele pergunta.

Você poderia apenas fechar o bico e acionar de uma vez o modo sexo selvagem. Não disse isso, acho que ele gosta do jogo de gato e rato. Toda vez que sou direta demais com ele, ele fica todo "emo" e se fecha. Em vez disso, eu digo:

- Para que você me trouxe aqui?

- Para te mostrar isso aqui -


ele fala, levando-me para uma sala de leitura. Sua biblioteca é


imensa, com milhares de livros. Eu me pergunto o que mais dele é imenso. Provavelmente a cozinha.

Earl corre os dedos longos sobre


os livros na altura dos olhos em


uma de suas muitas estantes. Seu dedos param num livro. Crepúsculo.

- Você me trouxe pro seu apartamento para me mostrar o


Crepúsculo? Tenho uma novidade para você: eu já li este livro centenas de vezes - eu digo, revirando os olhos.

Earl dá um risinho forçado. Ele


tomba levemente o livro pela lombada e a estante ao lado começa a entrar na parede, se


abrindo!

As paredes do cômodo do outro


lado da estante aberta são pintadas totalmente de preto.

- É sua masmorra? - eu


pergunto.

- Você é extremamente observadora, Anna - Earl diz,


concordando com a cabeça. - Eu o chamo de "Quarto do Destino".

- E você quer que eu entre aí? Com você?

Ele balança a cabeça, estendendo a mão para a passagem secreta.

- Primeiro as damas.



A primeira coisa que noto é o cheiro: incenso Nag Champa e


roupa suja. O quarto é iluminado apenas por luz negra, e fico com medo de tropeçar novamente e


Grey ter que me salvar de novo. O cômodo é pequenino se comparado ao restante do apartamento de Earl Grey. Quase não há espaço suficiente para a cama com colchão d'água. Chicotes, correntes, cordas, palmatórias, selas de montaria e algemas de ferro estão penduradas nas paredes, ao lado de pôsteres iluminados por trás - pôsteres realmente esquisitos. Quarto do Destino? Tá mais pra "Dormitório do Destino".

Cinquenta Vergonhas De CinzaOnde histórias criam vida. Descubra agora